Daquela vez era mesmo a sério: Colton estava a morrer.
Os sorrisos dos médicos tinham-se transformado numa sentença
de morte e já nem a amabilidade das enfermeiras, sempre tão solícitas e
atenciosas, conseguia disfarçar o drama que Sónia e Todd estavam a viver,
enquanto o seu pequeno filho de quatro anos agonizava.
Depois de um apertado abraço, que apenas serviu para que
ambos se sentissem ao mesmo tempo reconfortados e oprimidos pela mesma dor,
pediram orações a todos os seus amigos.
Como depois Todd reconheceu, «estava desesperado por
orações, desesperado para que outros crentes batessem às portas do Céu e
implorassem pela vida do nosso filho».
Depois, como já nada mais havia a fazer, Todd e Sónia
sentaram-se e rezaram juntos, «com medo de ter esperança e com medo de a não ter».
Como é difícil esperar, quando a voz das nossas súplicas
parece impotente ante a realidade!
Como é penoso, depois de esgotados, sem êxito, todos os
meios humanos, cruzar os braços, olhar o Céu com temor e tremor e esperar,
«esperando contra toda a esperança»!
Na aflição daquela agonia do pequeno Colton, os seus pais
tiveram medo de não ter esperança, porque sabiam que o milagre não se poderia
produzir senão pela sua fé no poder de Deus e no seu infinito amor.
Como cristãos, tinham presente que a intervenção celestial
requer uma atitude de confiança por parte do fiel que, de outro modo, não
poderia receber a impetrada graça divina.
Por isso, rezaram e pediram orações.
Baterem às portas do céu com as suas lágrimas e as suas
vozes e, ainda, com as lágrimas e as vozes de muitos outros seus amigos, também
crentes e, portanto, solidários com a sua dor.
Mas Todd e Sónia tiveram também um outro medo: o medo de ter
esperança.
Parece estranho este temor, sobretudo se referido como
concomitante com o seu contrário, ou seja, o medo de a não ter.
Mas é verdade que, muitas vezes, este receio nos acomete,
sobretudo em momentos de grande aflição.
É como que uma voz que se insinua na nossa mente e no nosso
coração e nos convida a sermos razoáveis, a não pedirmos o impossível, a não
desejarmos o que está para além do poder humano.
É a força de um argumento cheio de razão, mas também a voz
de uma vontade que não se quer ver ferida pela desilusão de uma expectativa
defraudada.
Para quê desejar o infinito, se outra é a nossa condição?
Não será cruel acreditar num sonho que, inexoravelmente, se
desfará quando se tiver que acordar para a realidade?
De que serve essa piedosa alienação, se a realidade dos fatos
se impõe por si mesma, com toda a sua crueza?
Não será, afinal, mais sensato, não levantar esses castelos
no ar e resignar-se ante a dor e a morte, em vez de esperar?!
.......
Há, decerto, esperanças a não alimentar, porque carecem de
fundamento sobrenatural. Cristo a ninguém prometeu a riqueza, o poder, a saúde,
o bem-estar ou uma vida longa e prazenteira. Por isso, quem o desejar, para si
ou para os outros, não o pode fazer em nome da sua fé cristã.
Mas há uma esperança de que não há que ter medo, uma
esperança que não engana: a certeza que nasce da ressurreição de Jesus, que não
foi apenas intuída pelos seus discípulos, mas por eles comprovada, vista pelos
seus incrédulos olhos e tocada pelas suas mãos tementes e trementes.
Colton não só não morreu,
como parece ter sido protagonista de uma revelação surpreendente, embora o seu
conteúdo nada tenha de extraordinário para quem crê.
Quando acordou do coma, aquele menino norte-americano de
quatro anos sorriu e disse que tinha visto o Céu, onde Cristo vive (Todd Burpo
e Lynn Vincent, O Céu existe mesmo, A história real do menino que esteve no Céu
e trouxe de lá uma mensagem, 7ª edição, Ed. Lua de Papel, 2011).
Outros ajuizarão acerca do valor dessa singular experiência,
mas a sua conclusão não poderia ser mais certeira, porque, de fato, Cristo vive
e nós vivemos no seu amor.
«Porque eu estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os
anjos nem os principados, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem as
potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem nenhuma outra criatura nos
poderá separar do amor que Deus nos manifestou em Cristo Jesus, Senhor nosso».
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
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