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domingo, 20 de setembro de 2015

O vaso de porcelana e a rosa


O grande mestre e o guardião dividiam a administração de um mosteiro zen. Certo dia, o guardião morreu e foi preciso substituí-lo.

O grande mestre reuniu todos os discípulos para escolher quem teria a honra de trabalhar diretamente ao seu lado.

“Vou apresentar um problema”, disse o grande mestre. “E aquele que o resolver primeiro, será o novo guardião do templo”.

Terminado o seu curtíssimo discurso, colocou um banquinho no centro da sala. Em cima estava um vaso de porcelana caríssimo, com uma rosa vermelha a enfeitá-lo. “Eis o problema”, disse o grande mestre.

Os discípulos contemplavam, perplexos, o que viam: os desenhos sofisticados e raros da porcelana, a frescura e a elegância da flor. O que representava aquilo? O que fazer? Qual seria o enigma?

Depois de alguns minutos, um dos discípulos levantou-se, olhou o mestre e os alunos a sua volta. Depois, caminhou resolutamente até o vaso, e atirou-o no chão, destruíndo-o.

“Você é o novo guardião”, disse o grande mestre para o aluno.

Assim que ele voltou ao seu lugar, explicou: “eu fui bem claro: disse que vocês estavam diante de um problema. Não importa quão belo e fascinante seja, um problema tem que ser eliminado. Um problema é um problema; pode ser um vaso de porcelana muito raro, um lindo amor que já não faz mais sentido, um caminho que precisa ser abandonado, mas que insistimos em percorrê-lo porque nos traz conforto. Só existe uma maneira de lidar com um problema: atacando-o de frente. 

Nessas horas, não se pode ter piedade, nem ser tentado pelo lado fascinante que qualquer conflito carrega consigo”.

Paulo Coelho

sábado, 5 de setembro de 2015

No deserto de Mojave


No deserto de Mojave, é frequente encontrarmos as famosas cidades-fantasma: construídas perto de minas de ouro, eram abandonadas quando todo o produto da terra tinha sido extraído. Haviam cumprido seu papel, e não tinham mais sentido.

Quando passeamos por uma floresta, também vemos árvores que, uma vez cumprido seu papel, terminaram caindo.

Mas, diferente das cidades-fantasma, o que aconteceu?

Abriram espaço para que a luz penetrasse, fertilizaram o solo, e seus troncos estão cobertos de vegetação nova.

A nossa velhice vai depender da maneira que vivemos o momento presente. Podemos terminar como uma cidade- fantasma, simplesmente abandonados. Ou então como uma generosa árvore, que continua a ser importante, mesmo depois de caída por terra.

Paulo Coelho - 

Do medo


O guerreiro da luz fica apavorado quando precisa tomar decisões importantes.

“Isto é grande demais para você”, diz um amigo em quem confia. “Vá em frente, tenha coragem”, diz outro amigo em quem confia. E suas dúvidas aumentam.

Depois de alguns dias de angústia, ele recorre ao melhor conselheiro de todos: o escuro do seu quarto.

Nas sombras, ele vê a si mesmo no futuro. Vê as pessoas que serão beneficiadas e prejudicadas por sua atitude. Sabe que, ao dar um passo adiante, deixará alguma coisa - ou alguém - para trás. Ele não quer causar sofrimentos inúteis, mas tampouco quer abandonar o caminho.

O guerreiro que observa a si mesmo deixa que a decisão se manifeste. Se for preciso dizer ‘sim’, ele dirá com coragem. Se for preciso dizer ‘não’, ele dirá sem covardia.

Paulo Coelho - http://g1.globo.com/

domingo, 12 de julho de 2015

Carta ao coração

Estes são trechos de uma “Carta ao coração”, que me foi dada por Vania Williamsom:


“Meu coração: eu jamais te condenarei, te criticarei, ou terei vergonha de tuas palavras. 
Sei que és uma criança querida de Deus, e Ele te guarda no meio de uma luz radiante e amorosa”.
“Confio em ti, meu coração. Estou do teu lado, sempre pedirei bênçãos em minhas orações, sempre pedirei para que tu encontres a ajuda e o apoio que necessitas”.
“E te peço: confia em mim. Saiba que te amo, e que procuro dar-te toda a liberdade necessária para que continues batendo com alegria em meu peito. 
Farei tudo que estiver ao meu alcance, para que jamais te sintas incomodado com a minha presença a tua volta”.

Paulo Coelho

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Faça de seu caminho um espelho de si mesmo


A natureza segue suas próprias regras: desta maneira, você tem que estar preparado para súbitas mudanças do outono, o gelo escorregadio no inverno, as tentações das flores na primavera, a sede e as chuvas de verão. 
Em cada uma destas estações, aproveite o que há de melhor, e não reclame das suas características.

Faça do seu caminho um espelho de si mesmo: não se deixe de maneira nenhuma influenciar pela maneira como os outros cuidam de seus caminhos. 
Você tem sua alma para escutar, e os pássaros para contar o que sua alma está dizendo. 
Que suas histórias sejam belas e agradem tudo que está a sua volta. 
Sobretudo, que as histórias que sua alma conta durante a jornada sejam refletidas em cada segundo de percurso.

Ame seu caminho: sem isso, nada faz sentido.

Paulo Coelho

terça-feira, 8 de julho de 2014

Permanecer vivo até o último momento


Muitas pessoas já deixaram de viver, embora continuem trabalhando, comendo, e tendo suas atividades sociais de sempre. Fazem tudo de maneira automática, sem compreender o momento mágico que cada dia traz em si, sem parar para pensar no milagre da vida, sem entender que o próximo minuto pode ser o seu último momento na face deste planeta.

Um dia, apesar de todo o avanço da ciência, deixaremos este mundo, e teremos um funeral. 

Recordando trechos de uma poema antigo:

Quando a indesejada das gentes chegar

Talvez eu tenha medo. Talvez eu sorria e diga:

O meu dia foi bom, a noite pode descer.

Encontrará lavrado o campo, a mesa posta, a casa limpa, cada coisa em seu lugar.

Assim, se tivermos que morrer hoje, apesar de tudo o que tenha ocorrido em nossas vidas, apesar das derrotas, das injustiças que sofremos ou que fizermos alguém sofrer, temos que permanecer vivos até o último minuto, e certamente afirmar: “o meu dia foi bom, a noite pode descer.”

por Paulo Coelho

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Conto de Natal: O pinheiro de St. Martin


Na véspera de Natal, o padre da igreja no pequeno vilarejo de St. Martin, nos Pirineus franceses, se preparava para celebrar a missa, quando começou a sentir um perfume delicioso. Era inverno, há muito as flores tinham desaparecido – mas ali estava aquele aroma agradável, como se a primavera tivesse surgido fora de tempo.

Intrigado, ele saiu da igreja para buscar a origem de tal maravilha, e foi dar com um rapaz sentado na frente da porta da escola. Ao seu lado, estava uma espécie de árvore de Natal dourada.

- Mas que beleza de árvore! – disse o pároco. – Ela parece ter tocado o céu, já que irradia uma essência divina! E é feita de ouro puro! Onde foi que a conseguiu?

O jovem não demonstrou muita alegria com o comentário do padre.

- É verdade que isso que carrego comigo foi ficando cada vez mais pesado à medida que eu andava, suas folhas ficaram duras. Mas não pode ser ouro, e estou com medo da reação de meus pais.

O rapaz contou sua história:

- Tinha saído hoje de manhã para ir até a grande cidade de Tarbes, com o dinheiro que minha mãe havia me dado para comprar uma bela árvore de Natal. Acontece que, ao cruzar um povoado, vi uma senhora de idade, solitária, sem nenhuma família com quem comemorar a grande festa da Cristandade. Dei-lhe algum dinheiro para a ceia, pois estava certo que poderia conseguir um desconto na minha compra.

“Ao chegar em Tarbes, passei diante da grande prisão, e havia uma série de pessoas esperando a hora da visita. Todas estavam tristes, já que passariam a noite longe de seus entes queridos. Escutei algumas delas comentando que sequer tinham conseguido comprar um pedaço de torta. Na mesma hora, movido pelo romantismo de gente da minha idade, decidi que iria dividir meu dinheiro com aquelas pessoas, que estavam precisando mais que eu. Guardaria apenas uma ínfima quantia para o almoço; o florista é amigo de nossa família, com certeza me daria a árvore, e eu poderia trabalhar para ele na semana seguinte, pagando assim a minha dívida”.

“Entretanto, ao chegar ao mercado, soube que o florista que conhecia não tinha ido trabalhar. Tentei de todas as maneiras conseguir alguém que me emprestasse dinheiro para comprar a árvore em outro lugar, mas foi em vão”.

“Convenci a mim mesmo que conseguiria pensar melhor o que fazer, se estivesse com o estômago cheio. Quando me aproximei de um bar, um menino que parecia estrangeiro, perguntou se eu podia lhe dar alguma moeda, já que não comia há dois dias. Como imaginei que certa vez o menino Jesus deve ter passado fome, entreguei-lhe o pouco dinheiro que me sobrava, e voltei para casa. No caminho de volta, quebrei um galho de um pinheiro; tentei ajeita-lo, corta-lo, mas ele foi ficando duro como se feito de metal, e está longe de ser a árvore de Natal que minha mãe espera”.

- Meu caro – disse o padre – o perfume desta árvore não deixa dúvidas de que ela foi tocada pelos Céus. Deixe-me contar o resto desta sua história:

“Assim que você deixou a senhora, ela imediatamente pediu à Virgem Maria, uma mãe como ela, que lhe devolvesse esta benção inesperada. Os parentes dos presos se convenceram que tinham encontrado um anjo, e rezaram agradecendo aos anjos pelas tortas que foram compradas. O menino que você encontrou, agradeceu a Jesus por ter sua fome saciada”.

“A Virgem, os anjos, e Jesus escutaram a prece daqueles que tinham sido ajudados. Quando você quebrou o galho do pinheiro, a Virgem colocou nele o perfume da misericórdia. À medida que você caminhava, os anjos iam tocando suas folhas, e as transformando em ouro. Finalmente, quando tudo ficou pronto, Jesus olhou o trabalho, abençoou-o, e a partir de agora, quem tocar esta árvore de Natal, terá seus pecados perdoados e seus desejos atendidos”.

E assim foi. Conta a lenda que o pinheiro sagrado ainda se encontra em St. Martin; mas sua força é tão grande que, todos aqueles que ajudam seu próximo na véspera de Natal, não importa quão longe estejam do pequeno vilarejo dos Pirineus, são abençoados por ele.

Paulo Coelho

sábado, 7 de setembro de 2013

Das mudanças


O homem santo reuniu os seus amigos: “Estou velho”, disse ele.

“E sábio”, respondeu um dos amigos. “Sempre te vimos rezando durante todo este tempo. O que conversas com Deus?”

“No começo, eu tinha o entusiasmo da juventude: pedia a Deus que me desse forças para mudar a humanidade. Aos poucos, percebi que isto era impossível, então passei a pedir a Deus que me desse forças, mas para mudar quem estivesse à minha volta”.

“Agora já estou velho, e a minha oração é muito mais simples. Peço a Deus o que devia ter pedido desde o começo”.

“O que pedes?”, insistiu o amigo.

“Peço para que consiga mudar a mim mesmo”.

Paulo Coelho

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Da cobra


Muitas vezes procuramos conscientemente algo que irá nos causar sérios problemas.

Eduardo Vieira conta uma interessante fábula a respeito.

Um homem cruzando uma tempestade de neve escuta um ruído. Vê uma cobra, ferida e quase morta de frio. “Me ajuda!”, diz ela.

“Você é perigosa”, responde o homem. “Não vê que estou quase morrendo, e não posso lhe fazer mal nenhum?”, implora a serpente.

Compadecido, o homem a recolhe, e a leva para sua casa. Durante algum tempo convivem em harmonia. Mas um dia, enquanto acariciava a cabeça da cobra, ele recebe uma mordida fatal. 

“O que é isso?”, diz o homem, a beira da morte. “Salvei sua vida, lhe dei comida, carinho – e agora você me envenena?” 

E a serpente respondeu: “Mas você sabia que eu era uma cobra, não sabia?”

Paulo Coelho

sábado, 16 de março de 2013

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Você se sente útil?

Peça uma flor no campo: "Você se sente útil? Afinal, você não faz nada, mas produzir as mesmas flores mais e mais '?
E a flor vai responder: "Eu sou bonita, e beleza é a minha razão de viver".

Pergunte ao rio: "Você se sente útil, uma vez que tudo que você faz é manter a fluir na mesma direção?"
E o rio vai responder: "Eu não estou tentando ser útil, eu estou tentando ser um rio. '

Nada neste mundo é inútil aos olhos de Deus.
Nem uma folha de uma árvore cai, nenhum fio de cabelo da sua cabeça, nem mesmo um inseto morre porque não tinha utilidade.
Tudo tem uma razão de existir.

Mesmo você, a pessoa que faz a pergunta. "Eu sou inútil" é a resposta que você dá a si mesmo.

Logo que a resposta vai envenená-lo e você vai morrer, enquanto ainda vivo, mesmo que você ainda caminhar, comer, dormir e tentar se divertir um pouco, sempre que possível.

Não tente ser útil. Tente ser você mesmo: isso é o suficiente, e isso faz toda a diferença.

Paulo Coelho - retirado manuscrito encontrado em Accra

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Virtudes

[......] virtudes que podemos praticar em qualquer momento de nossas vidas.

São estas pequenas coisas, estas virtudes simples, que compõem o Dom Supremo.

O Amor é composto de nove ingredientes:

Paciência: “O Amor é paciente”,

Bondade: “é benigno”,

Generosidade: “o amor não arde em ciúmes”,

Humildade: “não se ufana nem se ensoberbece”,

Delicadeza: “O amor não se conduz inconvenientemente”,

Entrega: “não procura seus interesses”,

Tolerância: “não se exaspera”,

Inocência: “não se ressente do mal”,

Sinceridade: “não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade.”

Paciência. Bondade. Generosidade. Humildade. Delicadeza. Entrega. Tolerância. Inocência. Sinceridade. 

Estas coisas que compõem o bem supremo, estão na alma do homem que quer estar presente no mundo e
próximo a Deus.

Todos estes dons estão relacionados com a gente, com a nossa vida diária, com o hoje e com o amanhã, com a Eternidade.

Nós sempre escutamos falar muito do Amor a Deus.

Mas Cristo nos fala do Amor ao homem.

Nós buscamos a paz nos Céus.

Cristo busca a paz na Terra.

A Busca do Ser Humano para responder sua principal pergunta - “a que devo dedicar minha existência?” - não é uma coisa estranha ou imposta.

Ela está presente em todas as civilizações, mesmo que estas não se comuniquem. Porque nasceu junto com o homem, e reflete o sopro do Espírito Eterno neste mundo.

O Dom Supremo também reflete este sopro. Não é apenas um Dom em si, mas a soma de várias atitudes e palavras de nosso dia-a-dia.

Paulo Coelho, de O Dom Supremo

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Do caminho

A tradição oral listou os dez passos do caminho espiritual...

A inquietação: a pessoa percebe que precisa mudar de vida, seja por tédio, ou por sofrimento.

A busca: vem a decisão da mudança. A busca se dá com livros, cursos, encontros.

A decepção: começam as trocas de caminho. Aquele que está buscando percebe os problemas e defeitos dos que ensinam. Por mais que mude de cor­rente  filosófica, religião, ou sociedade secreta, encontra os problemas clássicos: vaidade e busca de poder.

A negação: é comum abandonar o caminho depois de constatar que os que estão nele ainda não resolveram seus problemas.

A angústia: o caminho foi abandonado, mas uma semente foi plantada: a fé. E cresce dia e noite. A pessoa sente-se desconfortável, com a sensação de que descobriu e perdeu.

O retorno: por causa de outra ruptura séria [uma tragédia, um êxtase, etc.] a pessoa descobre que sua Fé está viva. E a fé, se for bem cultivada, resiste a qualquer decepção.

O mestre: o momento mais perigoso. Mestres são apenas pessoas experientes. O caminho é individual, mas, neste momento, pode desvirtuar-se, e virar coletivo.

Os sinais: o caminho se mostra por si mesmo. Através dos sinais, Deus lhe ensina o que precisa saber.

A noite escura: são feitas as Escolhas. A pessoa muda sua vida, e dá seus passos – apesar do medo.

A comunhão:
é o momento em que, como dizia São Paulo, a própria Divindade passa a habitar a pessoa. O mistério dos milagres se manifesta em toda maravilha e grandeza.

Paulo Coelho

*tradição oral: é a preservação de histórias, lendas, usos e costumes através da fala.


Da concentração

Tenha absoluta certeza de que Deus jamais abandona seus filhos. Se ele nos fez sonhar com algo, também nos deu as ferramentas para realizar este sonho.

Saiba pedir sua ajuda. Peça uma coisa de cada vez – e depois aprenda a decifrar os sinais que mostram o caminho de seu tesouro. Saiba concentrar-se naquilo que deseja de verdade – esqueça todos os outros pequenos desejos que aparecem no caminho.

Pense bem antes de pedir. Mas, quando souber o que quer, vá até o fim. Aguente as consequências, apanhe com os erros, pague o preço. Atravesse o deserto das desilusões e da incompreensão. Deixe os outros dizerem que você enlouqueceu, que aquilo não é possível. Lembre-se que, no fundo, foi uma força mais poderosa que plantou este desejo em seu coração.

 Paulo Coelho

sábado, 19 de janeiro de 2013

Encontros

Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas antes mesmo que os corpos se vejam.

Geralmente estes encontros acontecem quando chegamos a um limite, quando precisamos morrer e renascer emocionalmente.
Os encontros nos esperam – mas a maior parte das vezes evitamos que eles aconteçam. 
Entretanto, se estamos desesperados, se já não temos mais nada a perder, ou se estamos muito entusiasmados com a vida, então o desconhecido se manifesta, e nosso universo muda de rumo.

Todos sabem amar, pois já nasceram com este dom. 

Algumas pessoas já o praticam naturalmente bem, mas a maioria tem que reaprender, relembrar como se ama, e todos – sem exceção – precisam queimar na fogueira de suas emoções passadas, reviver algumas alegrias e dores, quedas e subidas, até conseguir enxergar o fio condutor que existe por detrás de cada novo encontro.

Paulo Coelho

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O Amor é o segredo da vida.

Quando um homem ama, é desnecessário exigir que honre seu pai e sua mãe, ou que não mate.
Para o homem que quer bem a seu próximo é uma ofensa exigir que não roube - como poderia roubar quem ama? E seria supérfluo pedir que não levante falso testemunho - pois jamais faria isto, como seria incapaz de desejar a pessoa que o outro ama.

Portanto, “o amor é o cumprimento da Lei”.

O Amor é a regra que resume todas as outras regras.

O Amor é o mandamento que justifica todos os outros mandamentos.

O Amor é o segredo da vida.

São Paulo terminou aprendendo isto, e nos deu, na carta que lemos agora, a melhor e mais importante descrição do summum bonum, o Dom Supremo.

S.Paulo começa a comparar o Amor com outras coisas que, em seu tempo, tinham muito valor para os homens.

Faz pouco tempo, estive no coração da África, perto dos Grandes Lagos.

Ali, entrei em contato com homens e mulheres que lembravam-se com carinho do único homem branco que conheceram. David Livingstone.

E, ao seguir os passos dele pelo Continente Negro, o rosto das pessoas se iluminava quando me contavam sobre um doutor que por ali havia passado três anos antes.

Eles não podiam compreender o que Livingstone dizia. Mas sentiam o Amor que estava presente em seu
coração.

Carreguem este mesmo Amor com vocês, e o trabalho de suas vidas estará plenamente justificado.

Vocês não podem possuir nada mais eloqüente que isto, quando forem falar de Deus e do mundo espiritual. De nada adianta seguir adiante - levando relatos de milagres, testemunhos de Fé, belas orações.

Se vocês tiverem tudo isto, e esqueceram o Amor, para nada servirá tanto esforço.

Porque vocês podem conseguir tudo. Podem estar prontos para qualquer sacrifício.

Mas se entregarem seus corpos para serem queimados, e não tiverem Amor, isto não significará nada para vocês nem para a causa de Deus.

Paulo Coelho

domingo, 30 de dezembro de 2012

Que lugar inspirador o senhor recomenda para 2013?

Peregrine por seu coração. Ele é inspirador.
As pessoas estão frequentando muito a lógica e deixando de lado o sentimento.

O coração tem uma caixa de ferramentas de que você precisará em 2013.
Ali, você encontra a intuição e a capacidade de reagir rápido sem pensar muito. Com isso, não quero ser irracional.
Refiro-me ao coração como metáfora, não como órgão.

A linguagem do coração será cada vez mais importante. Usando seu coração, você volta ao estado de criança. Sem a ingenuidade da criança. Isso lhe dará condições de ser criativo para os desafios do ano. Fará você se adaptar às crises do mundo, como lidar com as novas linguagens.

O coração pode não ser pragmático, mas é sábio. Procure conhecer o interior de sua alma. E assim estará no meio da tempestade, com raios e trovões a sua volta, e se sentirá bem.

Você é um desconhecido, e seu potencial é maior do que você sabe.
Passeando pela alma, você ficará feliz com o que encontrará.
As pessoas temem a confrontação.

No outono, as folhas brincam entre si que não querem cair, mas não adianta: elas cairão.
A paz é uma utopia se associada à ideia de ausência de conflito.
Aceite os conflitos, dê boas-vindas a eles e toque para a frente, porque isso é parte da condição humana.

Paulo Coelho (Entrevista para revista Época)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Encerrando ciclos



"Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que  precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos; seus pais, seu marido  ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.

Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração - e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.

Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é."

Paulo Coelho

sábado, 10 de novembro de 2012

Decidindo o destino alheio

 
Malba Tahan conta a história de um homem que encontrou um anjo no deserto, e lhe deu água.
-"Sou o anjo da morte e vim buscá-lo", disse o anjo. 
-"Mas como você foi bom, vou lhe emprestar o Livro do Destino por cinco minutos; você pode alterar o que quiser".

O anjo entregou o livro. Ao folhear suas páginas, o homem foi lendo a vida dos seus vizinhos. 
Ficou descontente: -“estas pessoas não merecem coisas tão boas", pen­sou... 
De caneta em punho, começou piorar a vida de cada um.

Finalmente, chegou na página de seu destino. 
Viu seu final trági­co, mas quando preparava-se para mudá-lo, o livro sumiu. 
Já se tinham passado cinco minutos.

E o anjo, ali mesmo, levou a alma do homem.

Paulo Coelho

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Aleph

William Blake costumava dizer: “podemos ver o infinito em um grão de areia, e a eternidade em uma flor”. Na verdade, basta um simples momento de harmonia interior para que isso aconteça.

O grande problema reside aí: quase nunca nos permitimos atingir este estado – o momento presente em toda a sua glória.

Às vezes, ele se apresenta de maneira completamente casual. Você está andando em uma rua, senta-se em determinado lugar, e de repente o universo inteiro está ali. A primeira coisa que surge é uma imensa vontade de chorar – não de tristeza nem de alegria, mas de emoção. Você sabe que está compreendendo algo, mesmo que não consiga explicar sequer para si mesmo.

Na tradição mágica, este tipo de percepção é conhecido como “mergulhar no Aleph”. O ser humano tem uma gigantesca dificuldade em concentrar-se no momento de agora; está sempre pensando no que fez, em como poderia ter feito melhor, quais as conseqüências dos seus atos, por que não agiu como devia ter agido. Ou então se preocupa com o futuro, o que vai fazer amanhã, que providências devem ser tomadas, qual o perigo que o espera na esquina, como evitar o que não deseja e como conseguir o que sempre sonhou.

Portanto, você começa a se perguntar; existe realmente algo errado?

Sim, existe. O nome disso é rotina. Você acha que existe porque está infeliz. Outras pessoas existem em função de seus problemas; vivem falando compulsivamente a respeito – problemas com filhos, maridos, escola, trabalho, amigos.

Não param para pensar: eu estou aqui. Sou resultado de tudo que aconteceu e acontecerá, mas estou aqui. Se existe algo errado que fiz, posso corrigir ou pelo menos pedir perdão. Se existe algo correto, isso me deixa mais feliz e conectado com o momento de agora.

Concentre-se em seu Aleph, e verá que um pouco de confiança na vida não faz nenhum mal – muito pelo contrário, irá lhe permitir experimentar tudo com muito mais intensidade. Essas coisas que perturbam seu verdadeiro encontro com a vida estão naquilo que você chama de “passado”, e aguardam uma decisão naquilo que você chama de “futuro”. Elas entorpecem, poluem, e não lhe deixam entender o presente. Trabalhar apenas com a experiência é repetir soluções velhas para problemas novos. 
Conheço muita gente que só consegue ter uma identidade própria quando começam a falar de seus problemas. Porque estes problemas estão ligados ao que julgam “sua história”.

O fundador da arte marcial conhecida como Aikido, Morihei Ueshiba dizia:

“A busca da paz é uma maneira de rezar, que termina gerando luz e calor. 
Esqueça um pouco de si mesmo, saiba que na luz está a sabedoria, e no calor reside a compaixão. 
Ao caminhar por este planeta, procure notar a verdadeira forma dos céus e da terra; isso é possível se você não se deixar paralisar pelo medo, e decidir que todos os seus gestos e atitudes corresponderão àquilo que você pensa.”

Se você confiar na vida, a vida confiará em você.

Paulo Coelho