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terça-feira, 11 de setembro de 2012

A importância que nos damos


O fato de nos irritarmos quando alguém não satisfaz nossos desejos, não realiza nossas vontades, quando não nos deixa passar à sua frente em qualquer situação que se apresente, denota a importância que nos damos e que nos julgamos merecedores. Pensamo-nos, de fato e de direito, sermos melhores do que todos aqueles que de nós se aproximam, mais importantes para o outro do que realmente somos. E isso faz com que nos imaginemos no direito de agir e julgar conforme nossos parâmetros, tão nossos, tão melhores que os do outro.
Mas, o que nos faz pensar que somos os privilegiados, aqueles que foram escolhidos para brilhar e ofuscar o outro, com o direito de sair à frente de todos?
A soberba?

Quem foi que disse que devemos ser os primeiros em qualquer lugar?
Quem o disse esqueceu-se de dizer que se todos nós nos supomos merecedores do primeiro lugar, não haverá quem ocupe os demais. Ou não?
Quem ocupará o segundo, o terceiro se estamos todos no topo, no ponto mais alto da importância humana, sem nos atermos a que existe uma gama imensa de outros lugares, que vão até o infinito?

Por que será que nos endeusamos tanto, nos sentimos com o direito de conseguir tudo de bom que há no mundo e não o outro?
Por que nos presumimos no direito de receber os créditos por tarefas realizadas e das quais só participamos com caras e bocas e que denotam o quanto estamos incomodados com tal situação?
O competir? Mas para que competir se o primeiro lugar já nos coloca em situação privilegiada?

Andamos por falsos caminhos...
Atemo-nos à realidade assumida por nossas ações. Incomoda-nos pensar que o primeiro lugar não nos pertence.
Na tentativa de deixar a justiça de lado, esquecemo-nos que melhor que estar à frente de tudo e de todos, é assumir a responsabilidade de ser aquele que dá o melhor de si, para que tudo seja feito da melhor maneira possível.
Para si e para o outro. Sempre.
Como se possível fosse. Ou não?

Heloisa Pereira de Paula Reis
Nossas Letras > Letras, Arte e Cia

sábado, 21 de julho de 2012

Lá vou eu


Lá vou eu mundo afora...

Quero aproveitar a vida, que a mim foi dada sem que eu pedisse. Quero viver cada minuto como se fosse o último. Experimentar tudo que a mim se apresentar. Sem julgar, sem analisar se está certo ou errado. Se é um bem ou é um mal. Pois o que é mal para um, pode não ser para o outro. Depende da contextualização. 

Quero me aventurar, jogar fora tudo que aprendi. Voltar a ser uma Tabula Rasa. Vou reescrever-me... A meu modo,sem interferências dos que me querem bem... Vou ser um bem para mim e não um bem para o outro. Vou ver o mundo com os meus olhos bem abertos, ouvidos atentos aos menores ruídos, às palavras ditas de mil maneiras diferentes... Preciso entendê-las, decifrá-las a meu modo. Preciso sentir o cheiro do mundo... Do mais delicado perfume ao odor da podridão. 

Quero tocar a delicada textura da pele de um recém nascido e a dureza da pedra que fere e machuca. E saber qual é o mal maior. Se aquele que inocente cresce e se transforma nas mãos do homem,incapaz de reagir frente à sua tirania, ou aquela que já está pronta e serve para construir e para derrubar.
Sai da minha frente, pai, deixe-me passar... 

Quero o meu filão no mundo para nós construído. Preciso apossar-me da minha parte, para viver a meu modo e provar que consigo sobreviver sem ajuda de quem quer que seja. Eu me basto. Eu sou capaz de fazer-me melhor do que sou. Vou fazer da minha vida o que realmente quero. Vivê-la sem as leis dos homens e as de Deus.

E assim, lá fui eu mundo afora...

E agora volto, meu pai... Apenas volto e preciso de seu amparo, da sua proteção, do seu aconchego. 
Eu sou seu filho. Blasfemei, apoderei-me do que não era meu e perdi. Deixei que minha cólera fosse extravasada sem me importar em quem e por quê. Explorei meu irmão. O mundo que pensei viver tão plenamente vivi em perdição. Sem leis, sem regras e me perdi... Eu me perdi de mim... Não me bastei... 

Encontrei tudo que procurava, tudo que pensei ser o bom para mim e que na realidade foi tão ruim. Desperdicei minha vida sem ver a fome, as injustiças, a explosão da violência entre os homens. 
Fui espectador de inomináveis sofrimentos, que como não eram meus, assistia-os impassível. 
O confronto foi doido... 

Vivi duas vidas em uma. Fui mau. 

Mas de repente senti brotar em mim uma nova vida. Resgatei a força do amor. 
Aos poucos me tornei bom. 

E estou aqui novamente em sua casa meu pai. Eu que não mais consegui ver a dor sem me condoer. Não mais consegui não me envolver com os problemas que não pensava meus. 
Abracei corpos inertes. 
Partilhei a fome dos meus irmãos, sentindo sua dor em mim, em nós. 
Nossas lágrimas se misturando e já nem sabíamos o por quê... 
Tal era o sofrimento, a dor, o desamparo. 
Ouvi palavras ditas com força tal, que machucavam, que feriam mais que as pedras. 
Nos excluíam em vida, da vida. 

E eu, que queria viver a vida sem as leis dos homens e de Deus, as vivi... 
E agora, sentia em mim, no meu irmão, na terra sugada até que não mais produzisse, na água que agora rareia em grande parte do mundo que não sabe partilhar, que não consegue usá-la de modo que a use seu irmão. 
Quero voltar para sua casa, pai, e seguir novamente suas leis e as leis de Deus, para ser digno da vida que a mim foi dada sem que eu pedisse...

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terça-feira, 17 de julho de 2012

Avareza


Eu preciso guardar para que a mim não falte nunca, seja lá o que for. Mas guardar a sete chaves, de modo que ninguém veja, que ninguém saiba. Nem eu, para que não corra o risco de gastar.

Vou sempre negar que tenho o que a mim pedem.

Mas isso me mantém em constante estado de atenção. Ajo como se em cada canto estivesse alguém a espreitar-me, a seguir meus passos. Desconfio até de minha sombra. Muitas vezes me volto rápido, para saber o que ela faz atrás de mim...

Ao conversar com alguém preciso cuidar do que falo, para que nada transpareça, para que meu olhar não se encaminhe a esconderijos, onde mantenho meus bens trancafiados, para que não suspeitem de que ali está meu tesouro. Faço-me parecer um pobre coitado, para que me pensem um portador de nada, um sem bens, nem eira nem beira. Às vezes me pergunto, porque faço assim comigo. Imagino que seja para ter não que dividir o que tenho, para não precisar presentear seja lá quem for... Para não ter que suprir as necessidades dos que estão ao meu redor...

Mas que vida é essa que não vivo, que tormento é esse que me aprisiona e do qual não consigo me livrar? Quero e preciso tirar férias de mim e não consigo. Preciso de paz e não me dou o direito de tê-la, tão envolvido estou nesse desejo exacerbado pelos bens materiais, esse sórdido apego pelo dinheiro, essa avidez pelo acúmulo de bens.
Ao pensar-me usufruindo o que guardei durante anos, fico em estado de pânico. Transpiro em bicas, sinto meu coração acelerar... Preocupo-me tanto com o que acumulo, que sequer me alegro em saber o quanto possuo. O medo de perder faz com que eu me isole cada vez mais e mais, tendo como companheira a insatisfação pessoal, a carência afetiva, a dificuldade em dar e receber amor.

Desespero-me ao pensar que ao morrer terei que deixar tudo que possuo, para ser gasto livremente, sem preocupação alguma, por alguém que não eu. Gostaria de sabê-la intacta. Ah que bom seria pudesse eu levar tudo comigo. Pobre de mim, avarento que sou, vítima e cúmplice de mim mesmo.

Mas o que fazer se nada posso?

 Heloisa Pereira de Paula Reis