sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Os fins da corrupção - Gabriel Chalita


“Fim” pode ser finalidade, objetivo, intenção. Nesse sentido, o “fim” da corrupção é o enriquecimento ilícito e o exercício do poder sem compromisso com a ética. E esse “fim” faz com que a corrupção seja uma praga que corrói o Estado e os cidadãos.

Um dos sintomas mais graves da corrupção é a perda da capacidade de indignação. É o discurso no botequim, na esquina, na escola de que sempre foi assim e assim continuará. Surgem frases de efeito, mas ausentes de dignidade: “fulano rouba, mas faz”. Justificando o injustificável. O correto é fazer e não roubar.

A corrupção retira da criança o cuidado essencial na vida escolar; do idoso, o amparo; do jovem, as perspectivas de uma formação profissional digna. A corrupção retira a casa do sem-teto, o tratamento do esgoto, a melhoria da cidade. É um ralo faminto que absorve o que pertence a todos.

Ao denunciar e punir aqueles que têm na vida esse “fim”, a mídia e os órgãos de controle e fiscalização prestam um relevante serviço à sociedade. Mas é preciso trabalhar por outro fim. O fim como término, encerramento. É preciso encerrar as tristes páginas que maculam nossa história. Os caminhos são dois: um, a educação – educar as pessoas para não negligenciarem os valores corretos; dois, a tecnologia – utilizar as ferramentas informáticas para dar objetividade às relações entre o Estado e os cidadãos. Transparência, clarificação dos processos e procedimentos. É disso que precisamos.

A educação dá resultado a médio e longo prazos. A tecnologia é mais rápida. A educação age na formação da consciência. E a tecnologia como uma consciência externa que amedronta aqueles que não a desenvolveram internamente. O medo da punição também é um remédio eficaz para essa praga.

Por mais difícil que pareça, combater a corrupção é possível e necessário. Como diria Aristóteles: é fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.

Gabriel Chalita


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Escute sua música interior...

Você já se flagrou escutando uma melodia espontânea, sem começo, nem fim, entoando em seu interior?
Se isso já aconteceu com você, lembre-se: este é um sinal de que você está em paz consigo mesmo, e, portanto, com o mundo a sua volta!

Por vezes, podemos estar aparentemente calmos, sentados frente à TV, mas, internamente, nossa mente não soa bem: escutamos sons, palavras soltas e pensamentos desconexos que revelam a inquietude de nosso mundo interior.

No entanto, quando nossa mente está descansada, calma e aberta, podemos escutar melodias enviadas por nós mesmos.
Todos nós somos compositores de nosso mundo interior!

Como um eco de nossa alma, escutar a música interior é uma das formas mais íntimas de sentirmos a vibração da própria vida.
O tom, o ritmo e a cadência desta desconhecida melodia, nos revelam mensagens de nosso corpo e de nossas emoções: expressões de sentimentos profundos que estão além das palavras.

Como nos faz bem escutá-las!

A escuta da melodia interior purifica nossos pensamentos negativos e gera bem-estar.
.....
Para ativar a mente sensorial que nos aproxima do mundo interior, precisamos aquietar a mente racional, viciada em avaliar e julgar tudo que ouve e vê.

Quantas vezes nos pegamos julgando atitudes como se fossemos árbitros. 
Estamos tão viciados nos estímulos do mundo exterior que, na maioria das vezes, desconhecemos as melodias de nosso mundo interior. Raramente paramos para escutá-las.

Infelizmente, uma das grandes perdas em nossa evolução humana tem sido justamente a queda de nossa sensibilidade: estamos mais toscos, mais grosseiros, menos seletivos. Muitas vezes, a música está presente e nem nos damos conta de que há uma música sendo tocada.

Uma das razões pelas quais os sons da natureza nos fazem bem é que eles simplesmente não ultrapassam o limite tolerado pelo ser humano, o nosso limite interior!
Os sons dos pássaros,  da água, do vento batendo nas folhas são naturalmente regeneradores!

Por isso é que a simplicidade e a musicalidade do sertão nos fazem tão bem!

Sentir o cheiro da terra, o canto dos pássaros, barulho da água corrente, o vento que acaricia as plantas, enfim, a simplicidade da vida que se forma, tão bela por ser SIMPLES!

Sinto falta da sinceridade da alma do sertão, da fé daqueles que acreditam na terra, na simplicidade das respostas, em Deus que tudo vê e provê!

É no cotidiano simples de um ambiente rural, que podemos observar grandes lições da natureza: 
a força da semente, que apesar de pequena, rompe a terra e torna-se broto… 
a paciência das flores que esperam a estação certa para expandir sua beleza… 
o ciclo da lagarta que rasteja o tempo necessário para se fortalecer e, mais tarde, alçar voo…
a acidez do limão, que bruto torna-se intragável, mas, acrescido do açúcar na quantidade certa, transforma-se em gostosa limonada… 
a inteligente arquitetura do joão-de-barro que observa atentamente a posição do vento e da chuva, antes de construir seu ninho…

Remeto-me a música de Victor e Leo:
 “Casa simplesinha, rede pra dormir, de noite um show no céu deito pra assistir. De volta pra casa, queima a lenha no fogão e junto ao som da mata vou eu e um violão. Trabalho cantando a terra é a inspiração Deus eu no sertão”.
Que belas canções possam ecoar em seu interior!

Beth Landim

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Prece



 «Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! 
O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu!. 
Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. 
Onde nada está tu habitas e onde tudo está - (o teu templo) – eis o teu corpo.
Dá-me alma para te servir e alma para te amar. 
Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.

Torna-me puro como a água e alto como o céu. 
Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. 
Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai.

Minha vida seja digna da tua presença. 
Meu corpo seja digno da terra, tua cama. 
Minha alma possa parecer diante de ti como um filho que volta ao lar.
Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.

Senhor, protege-me e ampara-me.
Dá-me que eu me sinta teu.
Senhor, livra-me de mim»

(Fernando Pessoa in "Eu Profundo")-Spe Deus


domingo, 25 de novembro de 2012

Caminhos


Tenho, nas minhas mãos, dois caminhos, duas decisões, mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir, entre rir ou chorar, ir ou ficar, entre desistir ou lutar. 
Se o mar está revolto, posso ficar na praia ou sair para pescar e, talvez, nunca mais voltar. 
Tenho, nas minhas mãos, o bem e o mal, e entre eles, poucos pensamentos, um diz para fazer sem culpa, o outro pensa, reflete e pede para esperar. 
Enquanto o mundo se perde em erros, posso me manter sereno, sem medo porque tenho a chave da minha vida nas minhas mãos. 
Então, hoje, me sinto mais forte, pois atravessei o deserto da alma, amei quem não me amou e deixei de lado quem muito me amava. 
Atravessei caminhos nem sempre floridos, que deixaram marcas profundas em mim, mas amei e fui amado... Por isso tenho em minhas mãos, bem mais que a vida, tenho a dúvida e a certeza, a esperança e o medo, o desejo e a apatia, o trabalho e a preguiça. 
E me dou o direito de errar sem me cobrar, e acertar sem me gabar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é decidir. 
E decidi, de uma vez por todas, ser feliz e esse caminho não tem volta...

Paulo Roberto Gaefke

sábado, 24 de novembro de 2012

Os ipês-amarelos

“Muitas pessoas levam seus cães para passear;
eu levo meus olhos para passear, eles se encantam com tudo .”
Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava uma escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. 
Como que num desafio, ele perguntou à criançada: "E quem é Rubem Alves?". 
Um menininho respondeu: "O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...". 
A resposta do menininho me deu grande felicidade. 
Ele sabia das coisas. As pessoas são aquilo que elas amam.
Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores... 
Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. 
Muitas pessoas levam seus cães a passear.
Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! 
Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. 
Gosto também de banho de cachoeira (no verão...), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme "Moça com Brinco de Pérola"), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira.
Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma. Meus olhos se espantam com tudo que veem.
Sou místico. Ao contrário dos místicos religiosos que fecham os olhos para verem Deus, a Virgem e os anjos, eu abro bem os meus olhos para ver as frutas e legumes nas bancas das feiras. 
Cada fruta é um assombro, um milagre. Uma cebola é um milagre. Tanto assim que Neruda escreveu uma ode em seu louvor: "Rosa de água com escamas de cristal...".
Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes, que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver.
Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo os textos que escrevo. 
Os adolescentes que parariam desanimados diante de um livro de 200 páginas sentem-se atraídos por um texto pequeno de apenas três páginas. 
O que escrevo são como aperitivos. Na literatura, frequentemente, o curto é muito maior que o comprido. Há poemas que contêm todo um universo.
Mas escrevo também com uma intenção gastronômica. Quero que meus textos sejam comidos pelos leitores. 
Mais do que isso: quero que eles sejam comidos de forma prazerosa. 
Um texto que dá prazer é degustado vagarosamente. São esses os textos que se transformam em carne e sangue, como acontece na eucaristia.
Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. 
O que sinto, na verdade, é tristeza. 
O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... 
Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. 
Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. 
Quem sabe se transformarão em árvores! 
Torço para que sejam ipês-amarelos...

 Rubem Alves
"As pessoas são o que elas amam"...quanta verdade!!!
Amo a primavera! Então eu sou um pouquinho dela...

Minha oração


Hoje e sempre, eu quero:
Tempo para pensar antes de falar;
Serenidade para agir depois de falar;
Perseverança para continuar agindo depois de começar;
Humildade para reconhecer que preciso de outras pessoas;
Sinceridade para falar o "não" que preciso falar;
Lealdade comigo mesmo, para não me comparar com ninguém;
Ena medida da razão, para eu continuar fazendo,
sem esperar que qualquer coisa caia do céu sem o meu esforço.

Assim, podemos seguir confiantes, certos da vitória sobre nós mesmos, sobre as nossas dificuldades em entender, o porquê de certas situações.
Quando não há resposta, devemos seguir trabalhando, certos de que, no devido tempo, tudo será esclarecido, elucidado e concluído.
Assim, compreender que a felicidade é a recompensa natural, dos que insistem em fazer tudo direito, mesmo quando todos insistem em fazer errado.

Somos os construtores dos nossos sonhos, responsáveis pelos nossos passos.
O que semeia, o que planta e o que vai colher.

Por isso, semeie amor, por onde você for !

Paulo Roberto Gaefke

Tocar as emoções e conhecer a nossa verdade


"Todo ser humano é carente de atenção.
Alguns chegam a adoecer na expectativa de serem percebidos pelos parentes e amigos mais próximos.
Em muitos casos, a doença pode se tornar um grito desesperado do corpo e da alma.
Não são poucos os estudos que associam a repressão dos sentimentos à causa mais comum da fadiga e da doença.
Reprimir as emoções poderá levá-lo a ter alergias, doenças de pele, dores de cabeça e dores nas costas.
Qual caminho seguir para superar essa situação?
Tocar as emoções.
Conhecer a nossa verdade, enfrentar com coragem nossos medos e nossas fraquezas. Falar com simplicidade das nossas limitações, admitindo-as e nos perdoando por elas. Esse é o caminho de superação das nossas angústias, das nossas dores, das nossas ansiedades.
Gosto de ver as pessoas no processo de verdadeira busca interior.
Elas passam a entender que a vida não é uma vitrine para exposição, mas sim uma oportunidade de aprendizagem e descobertas. "

Trecho extraido do livro: "A Vida é Feita de Escolhas"
Dalcides Biscalquin

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Frases que escolhi

 "Vou correr em busca dos sonhos não vividos
Deixando para trás as mágoas e as tristezas
E me encantar mais tarde com os jardins floridos
Enfeitiçando meu olhar com as suas belezas."
(Neneca Barbosa)
 ***
Você sabe que alguém te ama
não pelo que ele fala,
mas pelo o que faz.
O amor não sobrevive de teorias.
(Padre Fábio de Melo)
*** 
«Quanto chorei com os teu hinos e os teus cânticos, vivamente comovido pela suave voz da Igreja! 
Aquelas palavras soavam nos meus ouvidos, e a Tua verdade penetra no meu coração, e com isso se exacerbava o piedoso afeto, e corriam as lágrimas, e faziam-me bem»
(Santo Agostinho)
*** 
"O ser humano vivencia a si mesmo, e seus pensamentos como algo separado do resto do universo numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. 
Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, 
ampliando o nosso círculo de compaixão, 
para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza.

 Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, 
mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação 
e o alicerce de nossa segurança interior."
 Albert  Einstein
*** 
"Só ao coração vigilante e humilde a verdade se mostra." 
(Olhar para Cristo – Joseph Ratzinger)
*** 
"Não importa o tamanho, o material, a cor, a altura, se é antiga ou moderna.
A luz do mesmo sol vai passar tanto por uma como pelas outras;
explore suas janelas abrindo-as para apreciar
o que há de mais belo e simples ao seu redor..."
(Regina Coeli)
*** 
Faz tempo que você chegou e delicadamente ficou. 
Para sempre ganhou o que eu nem tinha, porque me deu o que eu sou. 
Eu te amo!
(Gabriel_Chalita)
*** 
" Pra ser amigo não é necessário abraçar
o tempo todo, mas amar pelo tempo necessário
para ser inesquecível. 
Sempre."
(Sirlei L. Passolongo)
***
"A felicidade é como uma borboleta.
Quanto mais você a persegue, mais ela se esquiva.
Mas se você voltar sua atenção para outras coisas
ela virá pousar calmamente nos seus ombros."
(Thoreau)
*** 
 "Carinho é quando a gente não encontra nenhuma palavra para expressar o que sente, 
e fala com as mãos, colocando o afago em cada dedo.
(O Teatro Mágico)
*** 
‎"Eu tenho a esperança que nada se perde, 
tudo, alguma coisa gera... 
O que parece morto, aduba... 
O que parece estático, espera."
(Adélia Prado)
*** 
... Mas às vezes sou diferente, e tenho lágrimas, lágrimas das quentes, 
dos que não têm nem tiveram mãe; 
e meus olhos que ardem dessas lágrimas mortas 
ardem dentro do meu coração.
(Fernando Pessoa)
*** 
O homem na fazenda olha o avião passando e sonha com lugares distantes.
O homem no avião olha a fazenda lá embaixo, e sonha com o seu lar.
( Carl Burns)
*** 
            "Tem gente que tem cheiro do colo de DEUS. 
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza." 
(Barbara Coré)
*** 
Com a graça da borboleta que beija pétalas.
Beije a vida a cada instante...
Sempre haverá flores,
sempre haverá borboletas...
Mas essencial
é existir você para admirá-las.
(Sirlei L. Passolongo)
 ***
O que revela a nossa força não é sermos imbatíveis, incansáveis, invulneráveis. 
É a coragem de avançar, ainda que com medo. 
É a vontade de viver, mesmo que já tenhamos morrido um pouco ou muito, aqui e ali, pelo caminho. 
É a intenção de não desistirmos de nós mesmos, por maior que às vezes seja a tentação. 
São os gestos de gentileza e ternura que somente os fortes conseguem ter.
(Ana Jácomo)
*** 
"... às vezes um acontecimento sem importância 
é capaz de transformar toda a beleza em um momento de angústia. 
Insistimos em ver o cisco no olho e esquecemos as montanhas, os campos, as oliveiras..."
(Paulo Coelho)
 ***
"Não possuir algumas das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade."
(Bertrand Russel)
*** 
"Respeite mesmo o que é ruim em você -
respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você -
não copie uma pessoa ideal, copie você mesma -
é esse seu único meio de viver."
(Clarice Lispector)
 ***
As palavras sempre ficam. 
Se me disseres que me amas, acreditarei. 
Mas se me escreveres que me amas, acreditarei ainda mais.
Se me falares da tua saudade, entenderei. 
Mas se escreveres sobre ela, eu a sentirei junto contigo.
Se a tristeza vier a te consumir e me contares, eu saberei. 
Mas se a descreveres no papel, o seu peso será menor.
Lembre-se sempre do poder das palavras. 
Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo.
(Silvana Duboc)
***
"Quanto mais o tempo passa, 
eu fico menos à vontade para alimentar dores e 
com muito mais preguiça de sofrer."
(Ana Jácomo)
***
«É certo que devemos fazer tudo o que pudermos para aliviar o sofrimento e impedir a injustiça resultante do sofrimento dos inocentes. 
No entanto, também devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que os homens possam descobrir o sentido do sofrimento e assim consigam aceitá-lo e uni-lo ao sofrimento de Cristo. 
Deste modo, o sofrimento funde-se com o amor redentor 
e transforma-se numa força contra os males do mundo».
(Bento XVI)

 ***

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Metade


Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza.
Que a mulher (o homem!) que eu amo seja pra sempre amada (o!), mesmo que distante.
Porque metade de mim é partido mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
E que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

(Oswaldo Montenegro)



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Quero


Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drumond de Andrade

Preciso


Eu preciso aprender a ser menos. 
Menos dramática. 
Menos intensa. 
Menos exagerada... 

Alguém já desejou isso na vida: ser menos? Pois é. 
Estranho. Mas eu preciso. 
Nesse minuto, nesse segundo, por favor, me bloqueie o coração, me cale o pensamento, me dê uma droga forte para tranquilizar a alma. 
Porque eu preciso. E preciso muito. 
Eu preciso diminuir o ritmo, abaixar o volume, andar na velocidade permitida, não atropelar quem chega, não tropeçar em mim mesma. 

Eu preciso respirar. Me aperte o pause, me deixe em stand by, eu não dou conta do meu coração que quer muito. 
Eu preciso desatar o nó. Eu preciso sentir menos, sonhar menos, amar menos, sofrer menos ainda. 
Aonde está a placa de PARE bem no meio da minha frase? 
Confesso: eu não consigo. 

Nada em mim pára, nada em mim é morno, nada é pouco, não existe sinal vermelho no meu caminho que se abre e me chama. E eu vou... 
Com o coração na mochila, o lápis borrado, o sorriso e a dúvida, a coragem e o medo, mas vou... 

Não digo: "estou indo", não digo: "daqui a pouco", nada tem hora a não ser agora. 
Existe aí algum remedinho para não-sentir? 
Existe alguma terapia, acupuntura, pedras, cores e aromas para me calar a alma e deixar mudo o pensamento? 
Quer saber? Existe. 
Existe e eu preciso. Preciso e não quero.

Fernanda Mello

domingo, 18 de novembro de 2012

Nossa caixa de lápis de cor...

Tenho uma amiga que quando percebe que eu estou triste costuma me perguntar quem roubou a minha caixa de lápis de cor. Tem vez que nem pergunta, apenas comenta:
- "Poxa, dessa vez levaram as cores que você mais gosta!"

A tristeza afrouxa um pouco, por mais que eu esteja chateada.

Primeiro, porque é muito bom a gente se sentir olhado com carinho. Depois, porque essa expressão tem uma inocência capaz de fazer gente grande tocar em coisas sérias sem ficar com medo de queimar a mão.

De vez em quando, ao ouvir a pergunta, acontece de uma lágrima ou outra escapulir, afeitos que alguns sentimento são a desaguar no rosto quando o coração fica apertado. 
Mas, algumas vezes, quando eu choro diante dessa indagação não é pelas cores que não encontro na caixa nem por lembrar de quem supostamente as roubou.

Choro por perceber que ainda dou aos outros o poder de roubá-las.

Por notar que, no fim das contas, quem rouba os meus lápis de cor preferidos sou eu.

Ana Jácomo

Uma criança morando em mim


Há uma criança... 
Há uma criança morando em mim 
Que nunca cresce 

Ela acredita num mundo cor de rosa 
Onde o amor ainda prevalece 
Sente flores no outono 

Colhe sol no inverno 
Acredita no perdão
No amor
E na paz 

Acredita em amigos verdadeiros 
Que se doam por inteiro 

Acredita em fadas com varinha de condão 
E no poder de tocar o coração 

Brinca de faz de conta 
E faz de conta que o mundo é puro 

E faz de conta que o mundo é bom 
Há uma criança morando em mim 

Sonhando com azuis 
E amarelos 
E verde esperança 
Ah!... 

Ela não se cansa! 

(Arnalda Rabelo)

sábado, 17 de novembro de 2012

Alguma coisa está fora da ordem

Alimentamos a ideia de que podemos controlar tudo em nossas vidas. Nada mais enganoso.
E isso vale inclusive para aqueles que acreditam ter na mão as rédeas da situação. 
Afinal, será que existe destino?
Clara Primo levou quase dois anos para elaborar sua tese de mestrado sobre os hábitos alimentares de algumas tribos amazônicas. 
Levantou os dados da região, leu toda a literatura existente a respeito do assunto, escolheu os lugares certos para visitar, entrou em contato com os líderes locais, negociou comida e hospedagem, calculou custos e, principalmente, escolheu um fotógrafo de fama nacional para registrar todo o percurso, parte fundamental de seu trabalho acadêmico. 
Tudo pronto e acertado, ela iniciou a contagem regressiva do mais importante projeto da sua vida.

No dia do embarque, o fotógrafo manda uma mensagem de texto para o seu celular: não seria possível para ele embarcar, pois estava com disenteria. "Apesar do pânico inicial, resolvi não desistir e ir em frente." Viajou sozinha com a disposição de encontrar outro profissional em Belém. 

Chegando lá, um não podia, outro já tinha compromisso e o terceiro não atendia ao rigor de qualidade exigido. 
Nessa altura, todos os seus compromissos agendados anteriormente já tinham ido para o espaço. 
Foi quando Clara encontrou a melhor fotógrafa da Amazônia, especialista em temas regionais e indígenas. Suas fotos eram deslumbrantes e seu sorriso, mais encorajador ainda. 

A partir daquele momento, o roteiro passou a seguir as indicações da fotógrafa familiarizada com o mato. Os entrevistados e lugares eram outros, e não havia garantia nenhuma de hospedagem ou alimentação.

 "Era como se tivesse entrado numa canoa e aceitasse seguir o curso de um rio tal como ele se apresentava." E tudo - incrivelmente - deu certo. 
"A Amazônia me ensinou a soltar as rédeas. E a acreditar que existem mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia", diz Clara.

Esta reportagem, portanto, é sobre o momento justo de soltar as rédeas - e a nossa doce ilusão de que podemos controlar tudo. Pois, como diz a piada, se um dia você quiser fazer Deus morrer de rir, é só contar a Ele sobre os seus planos.

texto Liane Alves


Nossos desertos


Um dia, todo mundo tem que atravessar seus desertos.
Momentos onde a solidão se faz tão presente que parece ter um corpo.
A dor faz o tempo ficar lento, demorado, e tudo parece parar.
É neste momento, que o ser humano descobre o que são fardos,
os fortes encontram a escada que os fará subir,
os fracos se perdem em lamentações,
saem buscando os culpados...

Ai está a diferença entre passar pelo deserto e o permanecer nele.
Os que resistem, os que persistem, racionam a água,
caminham um pouco mais, dão um passo além das forças.

Os que desanimam, bebem toda a água do cantil,
esperam pelo milagre que não virá,
pois todo milagre é fruto de uma ação positiva.

Se hoje você está atravessando o seu deserto,
seja ele o mais seco do mundo, não importa,
em algum canto dele, você encontrará um oásis.

Na nossa vida, oásis são os amigos que não nos abandonam,
são aquelas pessoas desconhecidas que se preocupam com o próximo,
é a fé que todos nós temos e renova a esperança.

Mantenha a racionalidade e uma certeza: você vai atravessá-lo!
Não desista de nada,
não desista de você!

A poeira vai abaixar, a tempestade vai passar,
e depois de tudo, o sol vai brilhar por você.

A esperança é essa brisa que sopra seus cabelos,
e a força que nos empurra para a vitória,
é o amor de Deus que nunca nos abandona.

Paulo Roberto Gaefke

10.000 visitas...


Estou hoje "comemorando", e o motivo é um número bem significativo para mim. 
Meu blog  chegou à marca de 10.000 visitas... 
Gostaria de deixar aqui o meu "muito obrigada" a vocês que me visitam regularmente acompanhando minhas postagens...
Postar aqui no blog é motivo de muito prazer e mais uma conquista minha, que sempre sonhei em  ter o meu "caderno virtual" para colocar tudo aquilo que me chama a atenção... textos, poemas, orações, frases e até lindas gravuras...
O meu carinho é a maneira mais simples de dizer a todos os visitantes: voltem sempre!!! 

Maria Angélica

Reza por todos...


Reza por todos
e, quando notares erros
ou defeitos em certas pessoas,
implora para elas a graça de se corrigirem
e santificarem. 
Compadece-te delas e pede ao Senhor
que as torne melhores: se não estiverem bem com Deus,
reza para que Ele tenha piedade delas
e as tire do estado em que se encontram.
Apresentando-se uma oportunidade,
ajuda-as com teu conselho
e preocupa-te com suas necessidades...

 Madre Clélia Merloni

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Quem ama a rosa, ama completamente


Quem ama a rosa, a ama inteiramente e não somente pelo colorido das suas pétalas, a beleza da sua forma ou a suavidade do seu perfume.

Quem ama a rosa, não ignora os espinhos e não precisa suportá-los, pois amor não exige sacrifício, ele exige aceitação.

Não existem pessoas perfeitas e mesmo para aquelas que mais se assemelham ao nosso ideal de beleza física e interior, o tempo passa e a vida vai deixando marcas.

Se amamos somente a beleza, amamos somente o efêmero e efêmeros são nossos sentimentos.

Quem ama hoje, deve se preparar para amar ainda quando a pessoa amada tiver perdido o viço ou mesmo a saúde, pois uma rosa nasce e morre rosa e aos olhos amorosos muda a forma, nunca a essência.

Quem realmente ama a rosa, ama a vida toda.

Letícia Thompson

O desafio de ser pessoas...


 O termo 'pessoa' sempre foi muito usado, principalmente pelos gregos. 
'Pessoa', no contexto grego, significa a máscara que o ator usava para interpretar no teatro.

Eu tenho que ser eu. Uma pessoa só pode ser pessoa, se ela é dona de si. Nós temos que tomar posse do que somos. Quantas coisas você possui e ainda não tomou posse? O amor é a capacidade de descobrir no outro o que ele ainda não viu que tem. É como se você tivesse uma grande propriedade e não tivesse a capacidade de andar por ela para demarcá-la, e não a conhece na totalidade. Mas aos poucos vai sendo dono daquilo que já é seu.

Ser pessoa é ser dono de você mesmo, e saber lidar com seu jeito de ser, de amar, de sentir, de pensar, de ter suas limitações e saber o que você pode. Quantas vezes você se dispôs a ser o que não era, dizendo 'sim' onde era para dizer 'não'? Você não teve consciência do que não podia. É o que Jesus sempre fez com as pessoas. Fazendo-as tomarem posse do próprio território, de si mesmas. 'Eu sou dono de mim, e não abro mão'.
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 Não tenha preguiça de conhecer seu 'território' e saber quem você é realmente. O total desconhecimento de si, não pode acontecer. A pessoa que não é 'pessoa', não tem assunto e sabe tudo o que acontece na vida do outro, mas não sabe de si mesma.

As pessoas que vivem preocupadas com as novelas da vida, se desgastam com pessoas que nem conhecem. Não é fácil compreender o território humano. Se investigar e conhecer o 'porquê' de algumas reações, o 'porquê' aquela raiva foi tão grande naquela hora, o 'porquê' eu explodi com aquela pessoa... É descobrir o 'porque' do afeto que tenho dentro de mim.
Você deixa de ser explosiva demais quando toma posse do que é. Tudo isso porque você está em processo de construção. Deveríamos estar com placas dizendo: 'Estamos em obra, cuidado!' É o seu processo de 'feitura' de ser pessoa.

Não tenha preguiça de conhecer seu ‘território’ e saber quem você é realmente.

Enquanto você viver haverá partes deste 'território' para conhecer. Tantas coisas nos foram entregues, mas se elas não vêm à tona, e nem as investigarmos, tudo o que temos dentro de nós fica sem uso. Quanta coisa preciosa você tem dentro de você e não sabe por quê fica só na superficialidade do conhecimento de si? Quando é que você sabe que uma pessoa se ama? Você só sabe que ela se ama quando ela se cuida, quando tem disciplina.

Que você não morra com seus valores ‘engavetados’, pois Deus lhe dá talentos para que você os use, e não para deixar guardado.
'Eu sou um dom de Deus'. Todos os dias há alguma coisa para você ir atrás e descobrir. Você se recebe de Deus, Ele que me deu esta obra todos os dias. 
Temos que ser bom naquilo que a gente faz para nos colocarmos à serviço dos que necessitam. 
Uma pessoa só é pessoa quando se disponibiliza aos outros. Aquilo que recebo de Deus coloco à disposição dos outros. 
E nisso temos a integração de uma personalidade saudável.

Ser pessoa não é só contemplar o que sou e tenho de melhor, mas ser pessoa é descobrir e cultivar o que tenho de melhor para que outros sejam beneficiados. Como Jesus fazia o tempo todo em sua capacidade de se doar e ensinar, é preciso se doar também. É necessário tomar cuidado para outra pessoa não tomar posse do que você é, pois a partir daí você não terá mais domínio sobre o que é seu. 
Se não sou capaz de tomar conta de mim, perco meus talentos e não me possuo mais. Quantas vezes você foi machucado nesta vida e pessoas lhe roubaram? 
Quando não me possuo, tenho dificuldade de ser para o outro, e corro o risco de não ser o que devo ser.

Padre Fábio de Melo

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O amor maduro

"Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira, e se acontece, há que recebê-lo." (José Saramago)
O amor maduro não é menor em intensidade. Ele é apenas quase silencioso. Não é menor em extensão. É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento. Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.
O amor maduro somente aceita viver os problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.
O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão. Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e a sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso. 
É feito de compreensão, música e mistério. 
É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança. 
O amor maduro não disputa, não cobra, pouco pergunta, menos quer saber.
Teme, sim. Porém, não faz do temor, argumento. Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado e importante porque redentor de todos os equívocos do passado.
O amor maduro é a regeneração de cada erro. Ele é filho da capacidade de crer e continuar, é o sentimento que se manteve mais forte depois de todas as ameaças, guerras ou inundações existenciais com epidemias de ciúme.
O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados cheios de sementes. Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe.
Não exige, dá.
Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz. Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.
  
Artur da Távola

Há sinais que abrem o nosso coração a Deus

Milhares de fiéis e peregrinos participaram nesta quarta-feira, da Audiência Geral com Bento XVI.
Na sua catequese, o Papa propôs a meditação acerca das três vias de acesso ao conhecimento de Deus. Vias que podem abrir o coração do homem ao conhecimento do Senhor, sinais que conduzem em direção a Ele.

Queridos irmãos e irmãs, o homem traz consigo um irreprimível desejo de Deus, por isso é necessário ver as vias que nos levam ao conhecimento d’Ele.

De fato, em uma sociedade em que o ateísmo, ceticismo e indiferentismo não cessam de questionar e pôr à prova a fé, é importante afirmar que existem sinais que abrem o coração do homem e o levam para Deus.

Queria acenar algumas vias que derivam seja da reflexão natural, seja da própria força da fé e que poderiam ser resumidas em três palavras: o mundo, o homem e a fé.

O mundo: contemplando a beleza, a estrutura da criação, podemos ver que existe por detrás dela uma inteligência, que é Deus. Nos levam a descobrir Deus como origem e fim do universo.
O homem: olhando para o íntimo de nós mesmos, nos damos conta que possuímos uma sede de infinito que nos impele a avançar sempre mais na direção de Deus, o único capaz de nos saciar. Com sua abertura à verdade, seu sentido de bem moral, sua liberdade e a voz da consciência, descobre que somente Nele pode existir.

Enfim, a vida da fé: ela é encontro com Deus que nos fala, intervém na história e nos transforma; quem crê está unido a Deus, aberto a sua graça, à força da caridade.

Neste Ano da Fé, procurai conhecer mais a Cristo, único caminho verdadeiro que conduz a Deus, para poder depois transmitir aos demais a alegria desse encontro transformador.
Possa Ele iluminar e abençoar as vossas vidas!

Papa Bento XVI

Declaração de amor

Tentei dizer quanto te amava, aquela vez, baixinho
mas havia um grande berreiro, um enorme burburinho
e, pensando bem, o berçário não era o melhor lugar.
Você de fraldas, uma graça, e eu pelado lado a lado,
cada um recém-chegado
você sem saber ouvir, eu sem saber falar.
Tentei de novo, lembro bem, na escola.
Um PS no bilhete pedindo cola interceptado pela
professora como um gavião.
Fui parar na sala da diretora e depois na rua
enquanto você, compreensivelmente, ficou na sua.
A vida é curta, longa é a paixão.
Numa festinha, ah, nossas festinhas, disse tudo:
"Eu te adoro, te venero, na tua frente fico mudo"
E você não disse nada. E você não disse nada.
Só mais tarde, de ressaca, atinei.
Cheio de amor e Cuba, me enganei e disse tudo para uma
almofada.
Gravei, em vinte árvores, quarenta corações.
O teu nome, o meu, flechas e palpitações:
No mal-me-quer, bem-me-quer, dizimei jardins.
Resultado: sou persona pouco grata corrido aos gritos de
"Mata! Mata!" por conservacionistas, ecólogos e afins.
Recorri, em desespero, ao gesto obsoleto:
"Se não me segurarem faço um soneto"
E não é que fiz, e até com boas rimas?
Você não leu, e nem sequer ficou sabendo.
Continuo inédito e por teu amor sofrendo.
Mas fui premiado num concurso em Minas.
Comecei a escrever com pincel e piche num muro branco,
o asseio que se lixe, todo o meu amor para a tua ciência.
Fui preso, aos socos, e fichado.
Dias e mais dias interrogado: era PC dissidência?
Te escrevi com lágrimas, sangue, suor e mel
( você devia ver o estado do papel )
uma carta longa, linda e passional.
De resposta nem uma cartinha
nem um cartão, nem uma linha!
Vá se confiar no Correio Nacional.
Com uma serenata sim, uma serenata como nos tempos da
Cabocla Ingrata me declararia, respeitando a métrica.
Ardor, tenor, a calçada enluarada...
havia tudo sob a tua sacada
menos tomada pra guitarra elétrica.
Decidi, então, bota a maior banca no céu e escrever com
fumaça branca: "Te amo, assinado..." e meu nome bem legível.
Já tinha avião, coragem, brevê tudo para
impressionar você, mas veio a crise, faltou o combustível.
Ontem você me emprestou o seu ouvido e na discoteca, em
meio do alarido, despejei meu coração.
Falei da devoção há anos entalada e você disse
"Não escuto banda". Disse "eu não escuto nada".
Curta é a vida, longa é a paixão.
Na velhice, num asilo, lado a lado em meio a um silêncio
abençoado direi o que sinto, meu bem.
O meu único medo é que então empinando a orelha com a mão
você me responda só: 
-"Hein?".

Luis Fernando Veríssimo

Encerrando ciclos



"Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que  precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos; seus pais, seu marido  ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.

Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração - e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.

Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é."

Paulo Coelho