segunda-feira, 30 de junho de 2014

Deus e a beleza


Uma velhinha de voz trêmula e pele cheia de rugas pediu “Mestre, fale-nos sobre Deus...”
Mestre Benjamin fez silêncio. Olhou para o vazio. Vagarosamente um sorriso foi-se abrindo.
“Quantas pessoas aqui na minha tenda estão pensando no ar? ‘Por favor, levantem uma mão...’
Ninguém levantou a mão.
‘Ninguém levantou a mão... Ninguém está pensando no ar. E, no entanto, todos nós o estamos respirando.

O ar é a nossa vida e não precisamos pensar nele e nem dizer o seu nome para que ele nos dê vida. 
Mas o homem que se afoga do fundo das águas só pensa no ar. Deus é assim. 
Não é preciso pensar nele e pronunciar o seu nome. Ao contrário, quando se pensa nele o tempo todo é porque está se afogando...

Que desejamos para os nossos filhos? Que eles sejam felizes. 
Sorrimos ao vê-los por ai a correr, a pular, a cantar, a brincar, pensando nas coisas de criança. Mas enquanto brincam e riem eles não pensam em nós. 

Se um filho ao se levantar viesse até você e o elogiasse, e agradecesse porque você lhe deu a vida e jurasse amor para sempre, e fizesse a mesma coisa na hora do almoço, e repetisse os mesmos gestos e palavras ao meio da tarde, e de noite fizesse tudo de novo, suspeitaríamos de que alguma coisa não está bem.
O que desejamos é que eles gozem a vida sem pensar em nós.
Quem pensa demais e fala demais sobre Deus é porque não o está respirando.”

Fez-se silêncio. Foi quando uma lufada de vento entrou pela tenda fazendo balançar a lâmpada de óleo que pendia do teto.

“Deus é como o vento. Sentimos na pele quando ele passa, ouvimos a sua música nas folhas das árvores e o seu assobio nas gretas das portas.
Mas não sabemos de onde vem e nem para onde vai.
Na flauta o vento se transforma em melodia. Mas não é possível engarrafá-lo. Mas as religiões tentam engarrafá-lo em lugares fechados a que eles dão o nome de ‘casa de Deus’. Mas se Deus mora numa casa estará ele ausente do resto do mundo? Vento engarrafado não sopra... ”

Ouviu-se então o pio distante de uma coruja.
“Deus é como um pássaro encantado que nunca se vê. Só se ouve o seu canto...
Deus é uma suspeita do nosso coração de que o universo tem um coração que pulsa como o nosso. 
Suspeita... Nenhuma certeza. Fujam dos que têm certezas. Olhem bem: eles trazem gaiolas nas suas mãos.
Deus nos deu asas.

Tudo o que vive é pulsação do sagrado. As aves dos céus, os lírios dos campos... Até o mais insignificante grilo, no seu cricri rítmico, é uma música do Grande Mistério.

É preciso esquecer os nomes de Deus que as religiões inventaram para encontrá-lo sem nome no assombro da vida.
Reverência pela vida: é a forma mais alta de oração. Sem nome... O nome de Deus não pode ser pronunciado...
Não precisamos dizer o nome ‘rosa’ para sentir o seu perfume.
Não precisamos dizer o nome ‘mel’ para sentir a sua doçura.
Muitas pessoas que jamais pronunciam o nome de Deus o conhecem como reverência pela vida.

Há pessoas que se sentem religiosas por acreditar em Deus. De que vale isso? Os demônios também acreditam e estremecem ao ouvir o seu nome ( Tiago 2.19 ). 

A pergunta não deveria ser ‘Você acredita em Deus?’ mas ‘Você se comove com a beleza?’ Deus nunca foi visto por ninguém. Ele se mostra na experiência da beleza.

Os homens religiosos procuram Deus no invisível e no mundo após a morte. Quando alguém morre eles repetem como consolo: ‘Deus o levou para si’. Então, enquanto vivo, ele estava distante de Deus?
Deus é Deus dos mortos ou Deus dos vivos? Deus não mora no mundo dos mortos. Ele mora no nosso mundo, passeia pelo jardim.
Deus é beleza. E se ele ama o que é feio é só para torná-lo belo... Por isso ele ama os desertos: porque neles se escondem fontes...

Quer ver Deus? Veja a beleza do sol que se põe, sem pensar em Deus.
Quer ouvir Deus? Entregue-se à beleza da música, sem pensar em Deus.
Quer sentir o cheiro de Deus? Respire fundo o cheiro do jasmim, sem pensar em Deus.
Quer saber como é o coração de Deus? Empurre uma criança num balanço, porque Deus tem um coração de criança, sem pensar em Deus.

Ouvidas essas palavras a velhinha sorriu para o Mestre Benjamin e fez um gesto com a sua mão, abençoando-o.

Rubem Alves

Eu gostaria de dar um conselho:
‘Não sejam curiosos a respeito de Deus, pois eu sou curioso sobre todas as coisas e não sou curioso a respeito de Deus. Não há palavra capaz de dizer quando eu me sinto em paz perante Deus e a morte. Escuto e vejo Deus em todos os objetos, embora de Deus eu não entenda nem um pouquinho... Eu vejo Deus em cada uma das vinte quatro horas e em cada instante de cada uma delas, nos rostos dos homens e das mulheres eu vejo Deus...’ (Walt Whitman)
‘Sejamos simples e calmos como os regatos e as árvores, e Deus amar-nos-á fazendo de nós belos como as árvores e os regatos, e dar-nos-á verdor na sua primavera e um rio aonde ir ter quando acabemos.’ (Alberto Caeiro )”

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Crie árvores, seja amigo!


Uma das coisas que eu acho fascinante em Jesus, é a capacidade que ele tinha de encontrar no meio da multidão, pessoas.

Ele era capaz de reconhecer em cima de uma árvore um homem, e descobrir nele um amigo.
Bonito uma amizade que nasce a partir da precariedade, quando você chega desprevenido, o outro viu o que você tem de pior, e mesmo assim, ele se apaixonou por você. Amor concreto, cotidiano, diário.
Jesus se apaixonava assim pelas pessoas e as tornava suas amigas. As trazia para perto Dele.
É fascinante olhar para a capacidade que esse homem, que esse Deus tem, de investigar a miséria do outro e encontrar a pedra preciosa que está escondida. Isso é Páscoa, isso é ressurreição. 
É quando no sepulcro do nosso coração, alguém descobre um fio de vida, e ao puxar esse fio, vai fazendo com que a gente se torne melhor.
Não há nada mais bonito do que você ser achado quando você está perdido.
Não há nada mais bonito do que você ser encontrado, no momento que você não sabe para onde ir e não sabe nem onde está...
O amor humano tem a capacidade de ser o amor de Deus na nossa vida por causa disso: porque ele nos elege!
Por isso que é bom termos amigos, porque na verdade, as pessoas amigas antecipam no tempo, aquilo que acreditamos ser eterno...
Quando elas são capazes de olhar para nós e descobrir o que temos de bonito. Mesmo que isso, as vezes costuma ficar escondido por trás daquilo que é precário.
Por isso, agradeço muito a Deus pelos amigos que tenho. 
Pelas pessoas que descobriram no que eu tenho de pior, uma coisinha que eu tenho de bom, e mesmo assim continuam ao meu lado, me ajudando a ser gente, me ajudando a ser mais de Deus, ajudando a buscar dentro de mim, a essência boa que acreditamos que Deus colocou em cada um de nós.

Ter amigos, é como arvorear: lançar galhos, lançar raízes... 
Para que o outro quando olhar a árvore, saiba que nós estamos ali...
Que nós permanecemos para fazer sombra, para trazer ao outro, um pouco de aconchego que ás vezes ele precisa na vida...

ARVOREIE! CRIE ÁRVORES! SEJA AMIGO

Padre Fábio de Mello

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Que Mundo Maravilhoso

                              

Eu vejo as árvores verdes, rosas vermelhas também;
Eu as vejo florescer para mim e você;
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso.

Eu vejo os céus tão azuis e as nuvens tão brancas;
O brilho abençoado do dia, e a escuridão sagrada da noite;
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso.

As cores do arco-íris, tão bonitas no céu;
Estão também nos rostos das pessoas que se vão;
Vejo amigos apertando as mãos, dizendo: "como você vai?"
Eles realmente dizem: "eu te amo!"

Eu ouço bebês chorando, eu os vejo crescer;
Eles aprenderão muito mais que eu jamais saberei;
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso.

Sim, eu penso comigo... que mundo maravilhoso!

Original - Inglês: David Attenborough


What a Wonderful World
I see trees of green, red roses too;
I see them bloom for me and you;
And I think to myself, what a wonderful world.

I see skies so blue and clouds of white;
The bright blessed days, the dark sacred night;
And I think to myself, what a wonderful world.

The colors of the rainbow, so pretty in the sky;
Are also on the faces of people going by;
I see friends shaking hands, saying, "how do you do?"
They're really saying, "I love you!"

I hear babies cry, I watch them grow;
They'll learn much more, than I'll never know;
And I think to myself, what a wonderful world.

Yes, I think to myself, what a wonderful world!



sábado, 7 de junho de 2014

A árvore torta


Nos conta a lenda, que um dia diante da velha árvore torta, um pinheiro todo vergado pelo tempo, o sábio da aldeia ofereceu a sua própria casa para aquele discípulo que “conseguisse ver o pinheiro na posição correta”.

Todos se aproximaram e ficaram pensando na possibilidade de ganhar a casa e o prestígio, mas como seria “enxergar o pinheiro na posição correta”? O mesmo era tão torto que a pessoa candidata ao prêmio teria que ser no mínimo contorcionista.

Ninguém ganhou o prêmio e o velho sábio explicou ao povo ansioso, que ver aquela árvore em sua posição correta era “vê-la como uma árvore torta”.

Nós temos em nós, esse jeito, essa mania de querer “consertar as coisas, as pessoas, e tudo mais” de acordo com a nossa visão pessoal. Não que não tenhamos que evoluir e construir nossa evolução e corrigir erros em nosso contexto. Falo de ver as coisas de nosso único ângulo.

Quando olhamos para uma árvore torta é extremamente importante enxergá-la como árvore torta, sem querer endireitá-la, pois é assim que ela é. Se você tentar “endireitar” a velha árvore torta, ela vai rachar e morrer, por isso é fundamental aceitá-la como ela é.

Nos relacionamentos, é comum um criar no outro expectativas próprias, esperar que o outro faça aquilo que ele “sonha” e não o que o outro pode oferecer. Sofremos antecipadamente por criarmos expectativas que não estão ao alcance dos outros, porque temos essa visão de “consertar” o que achamos errado.

Se tentássemos enxergar as coisas como elas realmente são, muito sofrimento seria poupado.

Os pais sofreriam menos com os seus filhos, pois os conhecendo, não colocariam expectativas que são suas, na vida dos mesmos, gerando crianças doentes, frustradas, rebeldes e até vazias.

Tente, pelo menos tente, ver as pessoas como elas realmente são, pare de imaginar como elas deveriam ser, ou tentar consertá-las da maneira que você acha melhor. O torto pode ser a melhor forma de uma árvore crescer.

Não crie mais dificuldades no seu relacionamento. Se vemos as coisas como elas são muitas dos nossos problemas deixam de existir, sem mágoas, sem brigas, sem ressentimentos.

Perdemos muito tempo em nossa vida com pequenas coisas, com críticas vazias, lamentando o leite já derramado, sem entender que este tempo não voltará para nós, é um tempo jogado fora. Neste ínterim muitas outras coisas aconteceram ao nosso redor e nós deixamos passar: o nosso sorriso, a atenção com a nossa família, a partilha da alegria com os nossos amigos, a nossa atitude positiva diante da vida…

Ficamos sem forças para rezar, nos distanciamos de Deus e de nós mesmos, muitas vezes nos tornamos um templo vazio e abandonado… Tudo isso por tentarmos DESENTORTAR pessoas.

A vida passa muito rápido para tantas oportunidades jogadas fora. Vivamos intensamente com positividade!

O tempo passa. A vida acontece. As distâncias separam, mas não fazem esquecer o que realmente sentimos, pois não há distância capaz de superar os sentimentos.

Às vezes, vivemos amargurados, querendo que nossa opinião prevaleça. Implicamos com tudo e com todos. Só nos satisfazemos se tudo ocorrer exclusivamente de acordo com nossa vontade. E então nos tornamos egoístas, pequenos, e vemos todos como árvores tortas. Nos tornamos também diabéticos, pois como nos diz o poeta Mário Quintana, diabético é aquele que não consegue ser doce.

Que possamos, tortos ou não, darmos frutos doces, sombras frondosas, termos raízes fincadas em valores firmes, que mesmo o maior vendaval não tire o nosso chão. Que nossos galhos e folhas sejam flexíveis e estejam, acima de tudo, buscando sempre a luz do sol que aquece o nosso coração, e ao anoitecer, a lua com seus mistérios, nos encha a alma de paixão.

Há um tempo, como nos diz Fernando Pessoa, em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Olhe para você mesmo com os “olhos de ver” e enxergue as possibilidades, as coisas que você ainda pode fazer e não fez. Pode ser que a sua árvore seja torta aos olhos das outras pessoas, mas pode ser a mais frutífera, a mais bonita, a mais doce, a mais perfumada da região, e isso, não depende de mais ninguém para acontecer, depende só de você.

Beth Landim


sexta-feira, 6 de junho de 2014

A Inutilidade e o Verdadeiro Amor…

Nos diz Padre Fábio de Melo, sobre a velhice… do seu DVD “No meu interior tem Deus”,
( não deixe de ver e principalmente de ouvir com o “coração”). 

“… A velhice nos trás direitos maravilhosos. Enquanto a juventude é cheia de obrigações. 
A velhice é o tempo em que passa a utilidade e aí fica somente o significado da pessoa. 
É o momento que a gente se purifica. 
É o momento que a gente vai tendo a oportunidade de saber quem nos ama de verdade. Porque só nos ama pra ficar até o fim aquele que, depois da nossa utilidade, descobriu o nosso significado. É por isso que sempre rezo para envelhecer ao lado de quem me ama. 

Para poder ter a tranqüilidade de não ser útil, mas ao mesmo tempo não perder o valor. 
Se você quiser saber se alguém te ama de verdade, é só identificar se ele seria capaz de tolerar a sua inutilidade. 

Quer saber se você ama alguém? Pergunte a si mesmo, quem nesta vida que pode ficar inútil pra você sem que você sinta o desejo de jogá-lo fora. E é assim que nós descobrimos o significado do amor… 
Só o amor nos dá condições de cuidar do outro até o fim! Feliz daquele que tem ao fim da vida a graça de ser olhado nos olhos, e ouvir a fala que diz: – Você não serve pra nada, mas eu não sei viver sem você!”

O que falta muitas vezes para poder resolver os nossos problemas é a simplicidade em enxergá-los. Devemos retirar os excessos. 
Não permitir que os nossos excessos venham obscurecer a nossa visão, ou até mesmo de nos impedir de encaminhar uma solução para aquilo que nos faz sofrer. Isso é ter fé. 
É a gente acreditar que Deus está ao nosso lado no momento da nossa luta, no momento da nossa dor. E que, portanto, a gente tem o direito de ser simples.

É interessante observar os movimentos de nossas mudanças interiores. Nem sempre sabemos identificar o nascimento da inadequação que gera todo o processo. O fato é que um dia a gente acorda e percebe que a roupa não nos serve mais. Como se no curto espaço do descanso de uma noite a alma sofresse dilatação, deixando de caber no espaço antigo onde antes tão bem se acomodava. É inevitável. Mais cedo ou mais tarde, os sonhos da juventude perdem o viço. O que antes nos causava gozo, aos poucos, bem ao poucos deixa de causar. Nossos valores vão se tornando mais consistentes.

Mas não precisamos necessariamente chegar à velhice extrema, para entendermos o sentido da inutilidade que leva ao amor… Perder tempo, gastar tempo, ou melhor dizendo “Ter a utilidade do seu tempo” para as coisas que nos levam aos verdadeiros sentimentos… 
Se permitir “jogar conversa fora” com seus filhos, seus amigos, fazer piqueniques e voltar a ser criança, andar na chuva, sentir o cheiro da terra molhada, passear na praça, na praia, no bosque… 
sentir a liberdade do rosto te acariciando a pele… 
jogar frescobol, voleibol, “buraco”, seja o que for, apenas com o intuito de reunir os amigos, e a família… 

Assim como faziam os homens das cavernas. Acendiam a fogueira e ao seu redor conversavam, conversavam e conversavam… e assim os laços iam se tecendo, os abraços se alongavam e a vida mesmo na rusticidade daqueles tempos, era aconchegante!!! 

Tempo… sempre o tempo do Senhor a nos ensinar… 
Assim como na história de Alice no País das Maravilhas em que seu coelho, corria com o relógio pendurado atrás do tempo… Estamos hoje nós a fazer o mesmo… 

Que o tempo da inutilidade amorosa, possa ser constante no tempo de nossa utilidade existencial. 
Que a simplicidade faça morada em nossos corações, atitudes e sentimentos. E que nossos sentimentos estejam sempre no ritmo e no compasso do “amor inútil” aquele que traz pleno significado. 

Que saibamos respeitar a dor de cada hora, a esperança de cada momento, sendo ao mesmo tempo de Aço e de Flores… 
Que possamos sentir a esperança brotar de cada coração, nos fazendo pessoas melhores, menos complicadas, de aço, para enfrentar os desafios, mas sem perder a doçura de ser simplesmente humano… 

Um tempo para nos purificar… Primeiro consigo mesmo, pois muitas vezes somos nosso maior carrasco e depois com todas as pessoas que nos cercam. 
É essa sensibilidade de enxergar cada tempo com sabedoria, que nos levará a conhecer o significado do amor…

http://fmanha.com.br/

terça-feira, 3 de junho de 2014

Tédio


Infinidade de papéis
Espalhados sobre a minha mesa.
Palavras.
Verdades.

Meus poetas, uma Bíblia.
O Livro dos Espíritos.
Uma biografia do Raulzito.
Apontamentos de uma palestra.

Fazendo sombra a todos eles
eu, meu tédio
e a palavra engasgada.

Pela janela, o céu indiferente.
O cafezal cansado me espia.

A seca. O vento.

Todos os papéis se agitam de repente,
pela ação da brisa que entra.
Todos menos a Bíblia e um recorte 
com oração de Santa Rita de Cássia.

O sagrado não se mexe.
No sagrado não se mexe!

Mas urge mexer
Na baderna da minha mesa
e no caos da minha vida.

Olho pela janela novamente.
antes que minha vista alcance o cafezal
a roseira me oferece pétalas ressequidas.

Na cozinha, toca o telefone.
Vou voando atender.
“Alguém lembrou-se de mim nesse deserto!”

Era engano. Mais um.

A vida, às vezes, parece um longo engano.

Ronaldo Silva - Nossas Letras