Infinidade de papéis
Espalhados sobre a minha mesa.
Palavras.
Verdades.
Meus poetas, uma Bíblia.
O Livro dos Espíritos.
Uma biografia do Raulzito.
Apontamentos de uma palestra.
Fazendo sombra a todos eles
eu, meu tédio
e a palavra engasgada.
Pela janela, o céu indiferente.
O cafezal cansado me espia.
A seca. O vento.
Todos os papéis se agitam de repente,
pela ação da brisa que entra.
Todos menos a Bíblia e um recorte
com oração de Santa Rita de Cássia.
O sagrado não se mexe.
No sagrado não se mexe!
Mas urge mexer
Na baderna da minha mesa
e no caos da minha vida.
Olho pela janela novamente.
antes que minha vista alcance o cafezal
a roseira me oferece pétalas ressequidas.
Na cozinha, toca o telefone.
Vou voando atender.
“Alguém lembrou-se de mim nesse deserto!”
Era engano. Mais um.
A vida, às vezes, parece um longo engano.
Ronaldo Silva - Nossas Letras
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