terça-feira, 3 de junho de 2014

Tédio


Infinidade de papéis
Espalhados sobre a minha mesa.
Palavras.
Verdades.

Meus poetas, uma Bíblia.
O Livro dos Espíritos.
Uma biografia do Raulzito.
Apontamentos de uma palestra.

Fazendo sombra a todos eles
eu, meu tédio
e a palavra engasgada.

Pela janela, o céu indiferente.
O cafezal cansado me espia.

A seca. O vento.

Todos os papéis se agitam de repente,
pela ação da brisa que entra.
Todos menos a Bíblia e um recorte 
com oração de Santa Rita de Cássia.

O sagrado não se mexe.
No sagrado não se mexe!

Mas urge mexer
Na baderna da minha mesa
e no caos da minha vida.

Olho pela janela novamente.
antes que minha vista alcance o cafezal
a roseira me oferece pétalas ressequidas.

Na cozinha, toca o telefone.
Vou voando atender.
“Alguém lembrou-se de mim nesse deserto!”

Era engano. Mais um.

A vida, às vezes, parece um longo engano.

Ronaldo Silva - Nossas Letras

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