sábado, 20 de junho de 2015

O SOFRIMENTO PODE SER SINAL DE LIBERTAÇÃO

O sofrimento pode ser um valioso meio de autoconhecimento. Portanto, observe o que ele está tentando comunicar.


A magnifica borboleta apresenta em si todas as características latentes que posteriormente serão desenvolvidas para que ela viva uma nova realidade; aquela que sempre foi inerente a sua essência.

Assim como a transformação da lagarta em borboleta é um processo lento, profundo, delicado e doloroso, onde ela irá se esforçar para libertar-se da sua condição de lagarta, achamos que os processos de transformações pessoais necessários não são diferentes e que nunca irão acabar.

A vida não é estática e está em constante mudança, nunca permanecemos os mesmos, somos sempre devir, em processo de construção continua. Porém, muitas transformações, assim como a da lagarta, trazem em seu bojo a companhia do sofrimento…

A finalidade do sofrimento:

O sofrimento faz parte da condição humana, sendo as vicissitudes da vida companheiras inseparáveis de qualquer cultura, fase do desenvolvimento, condição socioeconômica, intelectual, geográfica, de gênero e época. O sofrimento esteve sempre presente no decorrer dos tempos, na nossa existência, fazendo parte de acontecimentos indesejáveis e dos reveses inesperados.

As tristezas e as dificuldades sempre se mesclaram com momentos de alegria e realizações no percurso das nossas vidas. Ninguém vive a plenitude de uma vida sem transformações e sofrimentos; e ele, muitas vezes, sorrateiro, chega de maneira inesperada, rói e corrói tudo o que parecia estar em perfeita ordem e harmonia. Chega na surdina, onde acreditávamos que tudo estava sob nosso pretensioso controle. Muitas coisas estão sob o controle de nossas ações e cabe a nós evitarmos o sofrimento; no entanto, para outras, não possuímos este controle, o que gera impotência e angústia.

Mas será que de fato nos preparamos para as grandes transformações da vida?

Na realidade, nascemos no sofrimento e este sempre nos acompanhou, assim como os momentos felizes. O sofrimento não é a unica forma de aprendizado, mas infelizmente sempre o relegamos pelo motivo obvio de que não é agradável sofrer. Por outro lado, não tivemos uma educação para lidar com o sofrimento. Os processos educacionais não nos ensinam metodologias eficazes de modo a explicitar sobre como retirar do sofrimento o sumo da sabedoria que as experiencias pouco felizes reportam.

Vivemos em uma cultura hedonista, dos prazeres fugazes, efêmeros e momentâneos. Devemos ser felizes o tempo todo, obrigatoriamente. Mas a lagarta em seu processo não estava feliz, ela estava enfrentando um desafio para uma nova realidade que lhe proporcionaria a liberdade. A lagarta “compreende o sofrimento”, pois “sabe” que o esforço e as dificuldades são os geradores da conquista de sua liberdade e autoconhecimento.

Sendo a vida um desfilar constante de transformações, neste baile de mascaras, percebemos e interpretamos a realidade de modo inteiramente pessoal. Muitas vezes, nos contentamos com uma realidade que não existe, repercutindo em um vazio existencial imenso. Não queremos sair de nossa zona de conforto. Não existe espaço para as grandes transformações, para o trabalho do luto, do choro, da tristeza e nem da dor, como se elas não existissem e não trouxessem sua mensagem.

Sendo a vida feita de (re) construções, de (re) avaliações, composta de alegrias, de perdas, de renascimentos e de renovações incontáveis,acredito que não estamos preparados devidamente para os revezes que porventura este cenário possa trazer.

Ter uma educação para o sofrimento não significa ser masoquista ou querer provocar o sofrimento. Significa que não podemos negar que momentos difíceis existem, que virão e que deverão ser “encarados” como desafios, de maneira inteligente e resiliente. Ter educação para o sofrimento não utiliza a metodologia do sofrer por sofrer, mas como meio de aprendizado e evolução. Além disto é ter também direito ao nosso espaço para elaborar a própria dor dentro do tempo que se faz necessário; é desenvolver a sensibilidade, a receptividade e a capacidade de compreensão e empatia para acolher também o sofrimento do outro.

Através do sofrimento bem vivenciado nos humanizamos e nos tornamos mais receptivos.

Mas, por que sofremos? Qual a sua finalidade e utilidade? Como podemos nos beneficiar com o sofrimento? Como lidar da melhor maneira possível?

A religião e a Filosofia tentam compreender os processos de perda, bem como explicá-los, cada uma a seu modo. Psicólogos, sociólogos, educadores, pensadores de todos os vieses apresentam a sua contribuição de acordo com seus valores e crenças. A ciência, por outro lado, também desenvolveu muitos recursos através de estudos e pesquisas e deseja encontrar todas as respostas para o sofrimento de modo a retirá-lo ou dirimi-lo.

É inquestionável que houve muita melhora na qualidade de vida e no bem-estar de modo geral, suprimindo muito o sofrimento do repertorio da condição humana, mas ainda temos muito a fazer e a conquistar neste campo.

Neste contexto, podemos concluir que o sofrimento é sempre resultado da ignorância, da falta de conhecimento e consciência. Em outras palavras, é a condição de ignorância e alienação que nos traz sofrimento. Neste caso, é necessária uma educação voltada para a nossa capacidade de compreensão do nosso mundo interno e externo e de autoconhecimento.

Se por um lado o sofrimento nos faz desenvolver a capacidade de compreensão, sensibilização e humanização, temos o dever de melhorarmos em todos os campos e áreas que possam favorecer um mundo melhor, pois quando nos reportamos a dor, consequentemente nos remetemos aos conceitos de transformação e libertação, bem como o que você percebe como tal. O que pode ser fonte de sofrimento pra você, pode não o ser para o outro.

"Sendo assim, é necessário intuirmos o que o sofrimento está tentando nos comunicar, a lição e o aprendizado que devemos internalizar. Sem este processo, a experiencia de dor perde o sentido e torna-se inócua, sem proveito. Aprenda e evolua com o sofrimento. Saiba que a maioria das vezes somos nós mesmos que nos auto-infligimos a dor".

PARA REFLETIR:

Refletir sobre a nossa postura na contribuição de algum sofrimento é o primeiro passo para o processo de aprendizado e libertação que a dor nos traz. Mas nunca se esqueça: Todas as nossas experiências apresentam o viés de nossas percepções; e acredite, com o sofrimento não é diferente. Sofrimento é o que você percebe como sofrimento. Mas de qualquer modo ele traz o sentido de libertação e autoconhecimento.



SORAYA RODRIGUES DE ARAGÃO

A VIDA É UMA VIAGEM

A VIDA É UMA VIAGEM QUE NÃO PERMITE EXCESSO DE BAGAGEM


É triste, mas é verdade. Muitas vezes a vida é como um filme que não queremos assistir. Muitas vezes não queremos aceitar que a nossa vida não é tudo aquilo que a gente sonhou. Mas ainda assim é a nossa vida e precisamos aprender a extrair o que há de melhor dela.

Depois que uma pessoa passa por uma perda terrível ou por sucessivas perdas medianas que a levam a um processo depressivo, em que a autoestima e a energia vital ficam reduzidas a pó, começa a pesar e a medir os valores que prioriza.

Durante o processo de reconstrução, lento e bem particular para cada pessoa, começamos a perceber o que realmente é importante para a nossa sanidade mental. O que realmente faz a vida valer a pena e ter sentido.

Vivemos cercados por pessoas, circunstâncias, compromissos sociais e de repente nada parece tão grande assim. Conforme os efeitos da depressão começam a diminuir, tudo ganha um gosto novo e começamos a jogar fora o que faz a mala pesar demais durante a nossa caminhada pelo mundo.

Quando nos perguntam o que é fundamental para nós, respondemos de forma mais ou menos similar a esta pergunta. Quando estamos superando um trauma e "trocamos" a pele da alma, já não conseguimos mentir para nós mesmos. E o que antigamente parecia urgente, não tem tanta pressa assim. O que parecia importante, talvez o seja para a sociedade ou para pessoas que amamos e não para nós mesmos.

Fazemos descobertas incríveis ao passarmos por uma depressão. Quando estamos tentando vir à tona, sentimos que algumas pessoas e atividades são capazes de nos animar e aí descobrimos o nosso essencial. O que me fez sorrir no meio desta tristeza toda? O que me fez sair da cama num dia em que me sentia no fundo do poço? O que me fez ir para a rua mesmo sem vontade alguma? Com quem eu quis me abrir? Quem me provocou uma risada? Qual atividade me fez esquecer o sofrimento mesmo que temporariamente?

Quando estamos bem, acumulamos uma série de preocupações supérfluas, assumimos compromissos que não queremos, investimos tempo, energia e dinheiro em coisas que não contribuem realmente para o nosso crescimento pessoal. Sem querer vivemos de acordo com um script social. O script destinado às pessoas do nosso gênero, da nossa classe social, da nossa profissão etc.

E passado um tempo, podemos perceber também que antes do trauma, antes da perda terrível, já estávamos um pouquinho deprimidos e que certas situações que nos pareciam normais contribuíram para aumentar a nossa ansiedade, a nossa angústia.

Alguém se recuperando de uma depressão é um sobrevivente. E como todo aquele que se livra de um grande desastre, cheio de estragos, aprende a se defender mais e melhor de tudo aquilo que pode machucá-lo. Vou mais além. Aprende que poucas coisas e pessoas realmente valem para nós nesta vida. Aprende que bagagem boa é bagagem pequena.
Não me refiro a experiências e conhecimentos. Me refiro a protocolos sociais, a hábitos fúteis, excesso de preocupação com aquilo que os outros pensam e dizem, pavor de envelhecer, mania de querer que tudo aconteça do jeito que sonhamos ou planejamos, se valorar pelo olhar do outro, achar que tem direito a felicidade porque é uma boa pessoa. Descobrimos que podemos ser uma boa pessoa, mas não precisamos ser perfeitos.

Às vezes pensamos que a nossa vida é como um thriller de cinema e que a qualquer momento, o filme vai começar. Na verdade, o thriller já era o filme e cabe a nós extrair o melhor dele, mesmo que tenhamos entrado na sala de projeção errada.


SÍLVIA MARQUES