Eu preciso guardar para que a mim não falte nunca, seja lá o
que for. Mas guardar a sete chaves, de modo que ninguém veja, que ninguém
saiba. Nem eu, para que não corra o risco de gastar.
Vou sempre negar que tenho o que a mim pedem.
Mas isso me mantém em constante estado de atenção. Ajo como
se em cada canto estivesse alguém a espreitar-me, a seguir meus passos.
Desconfio até de minha sombra. Muitas vezes me volto rápido, para saber o que
ela faz atrás de mim...
Ao conversar com alguém preciso cuidar do que falo, para que
nada transpareça, para que meu olhar não se encaminhe a esconderijos, onde
mantenho meus bens trancafiados, para que não suspeitem de que ali está meu
tesouro. Faço-me parecer um pobre coitado, para que me pensem um portador de
nada, um sem bens, nem eira nem beira. Às vezes me pergunto, porque faço assim
comigo. Imagino que seja para ter não que dividir o que tenho, para não
precisar presentear seja lá quem for... Para não ter que suprir as necessidades
dos que estão ao meu redor...
Mas que vida é essa que não vivo, que tormento é esse que me
aprisiona e do qual não consigo me livrar? Quero e preciso tirar férias de mim
e não consigo. Preciso de paz e não me dou o direito de tê-la, tão envolvido
estou nesse desejo exacerbado pelos bens materiais, esse sórdido apego pelo
dinheiro, essa avidez pelo acúmulo de bens.
Ao pensar-me usufruindo o que guardei durante anos, fico em estado de pânico. Transpiro em bicas, sinto meu coração acelerar... Preocupo-me tanto com o que acumulo, que sequer me alegro em saber o quanto possuo. O medo de perder faz com que eu me isole cada vez mais e mais, tendo como companheira a insatisfação pessoal, a carência afetiva, a dificuldade em dar e receber amor.
Ao pensar-me usufruindo o que guardei durante anos, fico em estado de pânico. Transpiro em bicas, sinto meu coração acelerar... Preocupo-me tanto com o que acumulo, que sequer me alegro em saber o quanto possuo. O medo de perder faz com que eu me isole cada vez mais e mais, tendo como companheira a insatisfação pessoal, a carência afetiva, a dificuldade em dar e receber amor.
Desespero-me ao pensar que ao morrer terei que deixar tudo
que possuo, para ser gasto livremente, sem preocupação alguma, por alguém que
não eu. Gostaria de sabê-la intacta. Ah que bom seria pudesse eu levar tudo
comigo. Pobre de mim, avarento que sou, vítima e cúmplice de mim mesmo.
Mas o que fazer se nada posso?
Nenhum comentário:
Postar um comentário