O caminho de Deus é uma aprendizagem, com tudo o que implica
aprender, desde a consolação, ao desânimo, passando muitas vezes por uma falta
de acreditar em nós próprios, nos outros e até em Deus.
Quando uma criança nasce, é rodeada de carinho, de ternura,
e tudo o que ela faz é objeto de compreensão, até de alegria, (até mesmo coisas
que parecem “más”), ou seja, quantas vezes as mães não se alegram porque o bebê
sujou as fraldas, o que é sinal que tudo está bem...
Assim o bebê é só consolações, tudo o que faz é bem aceite e
fonte de alegria, está totalmente protegido para que nada de mal lhe aconteça.
Tudo quanto sejam agressões ao seu bem estar, são imediatamente afastadas
porque a sua ligação/comunhão com os pais é total e permanente.
Mas depois começa a crescer e já se aventura a decidir
algumas coisas por si só, sem atender àquilo que os pais lhe dizem, e começam
as "dores", (porque mexeu no lume e se queimou), porque fez isto ou
aquilo, e lá chegam também as primeiras reprimendas.
Continua a crescer e cada vez mais acha que já sabe tudo, há
até um momento em que se quer afastar dos pais por achar que aquilo que lhe
dizem não serve a sua vida.
Agora muitas vezes os erros são maiores e as suas
conseqüências mais pesadas.
Por vezes sente um desejo enorme de se recolher nos braços
dos pais, mas o orgulho e muitas vezes uma sensação de culpa, de vergonha,
impede-o de o fazer, ou de ser inteiramente verdadeiro com eles, acatando
aquilo que eles lhe dizem para o seu bem.
E a vida vai continuando e as coisas boas vão alternando com
as menos boas e vai descobrindo que afinal as coisas que os pais lhe diziam
eram coisas boas e até as vai ensinando aos seus filhos.
À medida que se vai aproximando da idade mais avançada
vai-se dando conta de que tem de confiar naqueles que o amam e assim vai-se
deixando conduzir, ajudar, e vai redescobrindo as alegrias e consolos de
esperar e confiar em alguém que o ama verdadeiramente e o ajuda a viver a sua
vida.
Claro que esta descrição é a de uma vida em termos gerais,
que acontece, mais parecida ou menos parecida, com muitas pessoas.
Com certeza já reparaste na similitude daquilo que te quero
dizer.
Nesta vida voltada para Deus, ao principio tudo são
consolações, alegrias, descobertas, sentimo-nos protegidos, parece que nenhum
mal nos pode acontecer e isso porque a nossa vida é então uma descoberta e é
sobretudo uma oração constante, uma constante comunhão com Deus, na Eucaristia,
na Confissão, na entrega, não queremos viver mais nada.
Mas depois há que descer do Tabor!
É Ele mesmo que quer que comecemos a enfrentar a vida do dia
a dia, que enfrentemos o mal que corre o mundo e então começamos a reparar em
tanta coisa má que acontece e questionamo-nos, perguntamos-Lhe até: Como é
possível, porque deixas isto acontecer!!!
E Ele na Sua bondade infinita vai-nos mostrando às vezes
dolorosamente que não interfere na nossa liberdade e por isso aquilo que
fazemos sem pensarmos tem as suas conseqüências.
É o tempo de crescimento, de percebermos que temos também a
nossa parte para fazer, a nossa vida a construir.
Então por vezes o nosso arrebatamento já não é tão intenso,
o nosso acreditar tão real, e assim isso reflete-se na nossa entrega, na nossa
oração, na nossa comunhão.
Ai as dores de crescimento!
E nós também somos assim!
Antes a oração fluía, a alegria era constante, tudo era
fácil e nós nem conseguíamos descortinar as coisas más, pois passavam-nos ao
lado.
Mas agora, Santo Deus, parece que o mal nos entra pelos
olhos adentro, parece que envolve a nossa vida, e temos dores e dificuldades e
não conseguimos rezar...
Mas Ele sabe que nós precisamos desse crescimento, para nos
fortalecermos, para podermos enfrentar todas as dificuldades, contrariedades,
provações que vão chegando conforme o mundo se torna mais egoísta e a nossa
idade vai avançando e tornando mais penoso o nosso viver.
A Fé está lá, mas parece não querer dar sinais de vida,
parece que o alimento que lhe damos não chega...
É o tempo de lutar, lutar contra nós próprios, lutar contar
tudo aquilo que dentro de nós grita: Desiste, não vale a pena!
Lutar sempre! Se não consigo rezar o terço, digo apenas:
Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim pecador!
E repito e volto a repetir sempre em todo o momento porque
Ele me ouve, e sente a minha angústia, porque Ele não deixa de me responder!
Lembramo-nos então daquilo que Ele nos dizia quando
começamos nesta vida e percebemos que já nessa altura Ele nos avisava dos
perigos que estavam para vir, das dificuldades que havíamos de viver...
E procuramos mais comunhão, mais entrega, com mais
perseverança, na confiança e na esperança de que Ele nos está a provar, porque
nos ama com amor infinito e nos quer preparar para o que há-de vir: «Vigiai,
porque não sabeis quando vem o ladrão...»
E então louvamos!
Louvamos por estas dificuldades, por estas provações e
acabamos por não as entender como um mal, mas sim como um bem que nos ajuda a
crescer.
E Ele responde-nos e exorta-nos à luta constante, exorta-nos
a darmos testemunho dessa luta para que aqueles que a estão a viver saibam e
percebam que é na perseverança, na comunhão de oração que Ele responde, mesmo
que pareça escondido de nós...
Então passada a luta, (quanto tempo demorará?), Ele vem,
toma-nos ao Seu colo e diz-nos cheio de amor: Descansa agora nos meus braços de
eternidade e goza o louvor e a alegria para sempre!
Joaquim Mexia Alves
spedeus.blogspot.com.br
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