Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da
suposta visita da dor, soltamos os cães. Apagamos as luzes.
Fechamos as cortinas.
Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos.
Ficamos quietinhos, poucos movimentos, nesse lugar escuro e
pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos em casa.
A encrenca é que, ao nos protegermos tanto da possibilidade
da dor, acabamos nos protegendo também da possibilidade de lindas alegrias.
Impossível saber o que a vida pode nos trazer a qualquer
instante, não há como adivinhar se fugirmos do contato com ela, se não abrirmos
a porta.
Não há como adivinhar e, se é isso que nos assusta tanto, é
isso também que nos dá esperança.
É maravilhoso quando conseguimos soltar um pouco o nosso
medo e passamos a desfrutar a preciosa oportunidade de viver com o coração
aberto, capaz de sentir a textura de cada experiência, no tempo de cada uma.
Sem estarmos enclausurados em nós mesmos, é certo que
aumentamos as chances de sentir um monte de coisas, agradáveis ou não, mas o
melhor de tudo, é que aumentamos as chances de sentir que estamos vivos.
Podemos demorar bastante para perceber o óbvio: coração
fechado já é dor, por natureza, e não garante nada, além de aperto e emoções
mofadas.
Como bem disse Virginia Woolf, “não se pode ter paz evitando
a vida.”
Ana Jácomo
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