Ele não podia deixar escapar esta oportunidade. Finalmente
tinha encontrado o que procurara com tanto empenho. O preço era fantástico e a
casa estava em boas condições.
O jardim abandonado o fez sonhar com um trabalho que muito o
repousava.
Tinha aprendido, desde pequeno, que cuidar das plantas era o
mesmo que descansar. Sempre desejara viver numa casa com jardim, por muito
pequeno que ele fosse e logo que pode, começou a trabalhar.
Transformou aquele monte de mato, de pedras e de espinhos
num pequeno “oásis”.
Que gosto lhe deu esse trabalho! É verdade que tinha
demorado o seu tempo.
Mas também é verdade que tudo o que vale a pena nesta vida
só se consegue com uma generosa dedicação de esforço e de tempo.
Certo dia, enquanto trabalhava na manutenção do seu jardim,
passou pela rua uma senhora. Parou e pôs-se a olhar atentamente para as
diversas plantas.
Enquanto olhava, saiu-lhe um comentário como um suspiro:
«Que maravilha! Que coisas tão bonitas faz Deus!».
Ao ouvir isto, o “jardineiro” não conteve uma observação
que, naquele momento, lhe pareceu muito oportuna: «A senhora devia ter visto o
aspecto do jardim quando era Ele quem cuidava disto sozinho».
É verdade que Deus faz coisas maravilhosas na nossa vida.
Mas também é verdade que Ele conta com a nossa colaboração.
Ele deseja que o jardim da nossa alma esteja sempre belo e
limpo, e dá-nos todas as ajudas necessárias para que isso seja possível.
Mas se nós não colaborarmos, respeita a nossa decisão.
Se fizesse o contrário, passaria por cima de um dom que foi
Ele próprio quem nos deu: a liberdade.
Por isso, se o jardim da nossa alma está sujo e desleixado,
não podemos dizer que a culpa é de Deus.
Nem podemos dizer que, ao contrário das outras pessoas, nós
não temos jeito para cuidar dele.
Nos dias de hoje, existe um paradoxo muito grande em relação
ao modo como se entende a liberdade.
Por um lado, exalta-se este dom como se fosse algo absoluto
e sem limites.
Algo que permite ao homem fazer tudo aquilo que lhe apetece
sem que ninguém o possa limitar.
Por outro lado, custa a muitas pessoas aceitar a verdade
evidente de que, porque somos livres, somos também responsáveis.
Somos donos do nosso destino, tanto para o bem como para o
mal.
É verdade que a liberdade não é absoluta e está condicionada
por muitos fatores.
Mas também é verdade que ela continua a ser uma liberdade
real.
Por isso, negar a existência de dois destinos eternos
diferentes – em nome da Bondade infinita de Deus – é, na prática, negar a
existência da liberdade.
É verdade que Deus quer que todos os homens se salvem – mas
Deus criou o homem livre e responsável.
Portanto, é o próprio homem quem, com plena autonomia, se
exclui voluntariamente da salvação de Deus.
Se persistir assim até ao fim, Deus respeitará a sua
decisão.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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