sábado, 21 de julho de 2012

Lá vou eu


Lá vou eu mundo afora...

Quero aproveitar a vida, que a mim foi dada sem que eu pedisse. Quero viver cada minuto como se fosse o último. Experimentar tudo que a mim se apresentar. Sem julgar, sem analisar se está certo ou errado. Se é um bem ou é um mal. Pois o que é mal para um, pode não ser para o outro. Depende da contextualização. 

Quero me aventurar, jogar fora tudo que aprendi. Voltar a ser uma Tabula Rasa. Vou reescrever-me... A meu modo,sem interferências dos que me querem bem... Vou ser um bem para mim e não um bem para o outro. Vou ver o mundo com os meus olhos bem abertos, ouvidos atentos aos menores ruídos, às palavras ditas de mil maneiras diferentes... Preciso entendê-las, decifrá-las a meu modo. Preciso sentir o cheiro do mundo... Do mais delicado perfume ao odor da podridão. 

Quero tocar a delicada textura da pele de um recém nascido e a dureza da pedra que fere e machuca. E saber qual é o mal maior. Se aquele que inocente cresce e se transforma nas mãos do homem,incapaz de reagir frente à sua tirania, ou aquela que já está pronta e serve para construir e para derrubar.
Sai da minha frente, pai, deixe-me passar... 

Quero o meu filão no mundo para nós construído. Preciso apossar-me da minha parte, para viver a meu modo e provar que consigo sobreviver sem ajuda de quem quer que seja. Eu me basto. Eu sou capaz de fazer-me melhor do que sou. Vou fazer da minha vida o que realmente quero. Vivê-la sem as leis dos homens e as de Deus.

E assim, lá fui eu mundo afora...

E agora volto, meu pai... Apenas volto e preciso de seu amparo, da sua proteção, do seu aconchego. 
Eu sou seu filho. Blasfemei, apoderei-me do que não era meu e perdi. Deixei que minha cólera fosse extravasada sem me importar em quem e por quê. Explorei meu irmão. O mundo que pensei viver tão plenamente vivi em perdição. Sem leis, sem regras e me perdi... Eu me perdi de mim... Não me bastei... 

Encontrei tudo que procurava, tudo que pensei ser o bom para mim e que na realidade foi tão ruim. Desperdicei minha vida sem ver a fome, as injustiças, a explosão da violência entre os homens. 
Fui espectador de inomináveis sofrimentos, que como não eram meus, assistia-os impassível. 
O confronto foi doido... 

Vivi duas vidas em uma. Fui mau. 

Mas de repente senti brotar em mim uma nova vida. Resgatei a força do amor. 
Aos poucos me tornei bom. 

E estou aqui novamente em sua casa meu pai. Eu que não mais consegui ver a dor sem me condoer. Não mais consegui não me envolver com os problemas que não pensava meus. 
Abracei corpos inertes. 
Partilhei a fome dos meus irmãos, sentindo sua dor em mim, em nós. 
Nossas lágrimas se misturando e já nem sabíamos o por quê... 
Tal era o sofrimento, a dor, o desamparo. 
Ouvi palavras ditas com força tal, que machucavam, que feriam mais que as pedras. 
Nos excluíam em vida, da vida. 

E eu, que queria viver a vida sem as leis dos homens e de Deus, as vivi... 
E agora, sentia em mim, no meu irmão, na terra sugada até que não mais produzisse, na água que agora rareia em grande parte do mundo que não sabe partilhar, que não consegue usá-la de modo que a use seu irmão. 
Quero voltar para sua casa, pai, e seguir novamente suas leis e as leis de Deus, para ser digno da vida que a mim foi dada sem que eu pedisse...

Nossas Letras > Letras, Arte e Cia > Heloisa Pereira de Paula Reis

Nenhum comentário:

Postar um comentário