Estávamos os três a tomar uma cerveja. A esplanada, quase
vazia.
Depois de um dia extenuante de trabalho, logicamente, o cansaço fazia-se
notar.
De repente, um deles fez ao outro uma pergunta indelicada, com uma certa
ironia e até violência. Mais do que perguntar, parecia que estava a brincar com
uma atitude que não entendia.
Instintivamente, fiquei à espera de uma resposta
à altura das circunstâncias. Mas ela não veio. Pelo contrário, a contestação
foi cordial e sem azedume.
Fez-me pensar. Aquela pessoa levava consigo o seu próprio
ambiente. Um ambiente que não dependia de circunstâncias nem de provocações.
Podendo fazê-lo, por uma questão de “estrita justiça”, não tinha devolvido o
mal com o mal.
Demonstrava com isto um senhorio de si próprio fora do comum.
Ao
outro só restavam duas opções: pedir desculpas pelo modo como tinha abordado o
assunto ou fingir que nada tinha acontecido.
Escolheu esta última por ser a
mais cômoda, e, pensava ele erradamente, a menos humilhante.
Que diferença tão
grande de nível humano em duas pessoas com a mesma profissão.
O meu amigo cordial tinha um tom humano impressionante.
Um
tom que facilitava o relacionamento mútuo, que fazia com que os outros se
sentissem bem ao seu lado. Sabia estar com todos.
Irradiava à sua volta um
ambiente agradável, de profunda dignidade.
Oferecia uma amizade sincera, sem
ocultar a sua identidade de cristão coerente por medo a ser rejeitado. E foi
devido a essa sua coerência que a pergunta irônica tinha surgido.
Ao fazer-lhe
ver a minha admiração pelo modo como tinha atuado, respondeu-me: “não há caridade
sem respeito, e não há respeito se não sabemos medir as nossas palavras”.
Saber medir as nossas palavras. Quantas vezes ferimos os
outros porque não sabemos medir as nossas palavras.
E isso não é hipocrisia nem
falta de sinceridade. É simplesmente respeito.
É capacidade de nos pormos na
situação dos outros e descobrir que não gostaríamos que nos falassem assim.
Dizer o que pensamos sem pensar no que dizemos, geralmente, é uma atitude
bastante irresponsável.
É como atirar uma pedra pela janela sem preocuparmo-nos
com os estragos que possa provocar.
Cuidar o modo como dizemos as coisas também não é algo
superficial.
Quantas vezes, tendo alguma razão, a perdemos não por aquilo que
dizemos, mas pelo modo como o fazemos.
Quase tudo depende da forma de dizer as
coisas. Há muitos modos de dizer a mesma coisa e, habitualmente, não é
necessário tornar a verdade antipática a ninguém.
A verdade é como uma flor.
Não é a mesma coisa oferecê-la a alguém ou atirá-la à sua cara.
A segunda
atitude não é mais sincera, ainda que muitas pessoas nos tentem convencer do
contrário.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria / (spedeus.blogspot)
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