Nem sempre a resposta está pronta. Há uma beleza na dúvida
que vale à pena de ser apreciada. Forjar a resposta antes do tempo é a mesma
coisa que colher frutos verdes...
Demora na dúvida... E descubra a sabedoria que insiste em se
esconder na ausência de palavras.
A outra face da dúvida...
Responder perguntas é fácil.
Difícil é ensinar a conviver com as dúvidas, forjar a vida a
partir das incertezas, das inconclusões e reticências, permitindo que o
mistério sobreviva às constantes invasões da racionalidade, no horizonte de
tantas realidades que não são desdobráveis, possíveis de serem dissecadas.
Viver pra responder, cansa.
Há muito ando lutando para abandonar esse espírito de
onipotência que tomou conta de nós.
Sentimo-nos na obrigação de dar respostas para tudo. Não
sabemos dizer que não sabemos, mas insistimos em falar de coisas que ainda nem
acreditamos, só para não termos que enfrentar o desconcerto do silêncio.
Falamos porque não suportamos a ausência de respostas.
Talvez seja por isso que tantas pessoas têm buscado as
religiões de respostas simples.
Por que sofremos? Por que pessoas boas sofrem coisas ruins?
Perguntas que são constantes na vida humana, sobretudo no
momento em que a tragédia nos abate, o sofrimento nos visita.
Torna-se muito simples justificar o sofrimento como forma de
pagamento por vidas passadas, processos de purificação que expiam erros
cometidos por outros. Compreensões absolutamente simplistas, redutoras, e
portanto, resposta fácil.
A dor gera perguntas. A alegria, nem sempre.
A religião é um recurso humano que nos ajuda a conviver com
as questões mais fundamentais que são próprias da nossa condição.
Ela responde, mas nem sempre essa resposta pode ser
formulada através de palavras. Isto porque a religião é acontecimento da vida
inteira, é processual, se dá aos poucos.
Jesus quis ensinar aos seus discípulos essa sabedoria. Não
foram poucas as vezes em que eles lhes pediam explicações e respostas fáceis.
Jesus nunca caiu nessa armadilha. Ao invés de entregar-lhes
respostas prontas, Ele lhes ensinava a conviver com a dúvida criativa.
Também sua mãe aprendeu isso com ele. Guardava tudo no seu
coração, porque sabia que a experiência do distanciamento é uma excelente forma
de conhecimento.
Há fatos que se dão no agora da vida e que só poderão ser
entendidos depois de passado um determinado tempo...
O fardo da prepotência de saber tudo...
Nem sempre a dúvida do momento possui resposta.
Há que se ter uma paciência de saber fazer essa leitura.
Conviver com a dúvida é uma forma interessante de construir
respostas.
Você já deve ter experimentado concretamente na sua vida
essa premissa.
O sofrimento desta hora gera ensinamentos que só poderão ser
recolhidos amanhã.
Nisso consiste a
beleza da religião: ajudar a conviver com a dúvida, nutrir a esperança que não
nos deixa esmorecer, preparar o coração para os tempos reservados para o
silêncio da existência.
.........
Por saber tudo, acabou esquecendo que a proposta de Jesus é
também uma forma de não saber, um jeito interessante de descansar no silêncio
da simplicidade que não sabe dizer, porque não é adepta da pressa.
......
Talvez até já tenha pensado em trocar sua religião por uma
outra que lhe responda melhor seus questionamentos.
Só não esqueça que nem sempre você precisa de respostas.
A vida, por vezes só é possível no silêncio do
questionamento. A desolação do calvário, o profundo silêncio de Deus, a mãe que
acolhe o filho morto nos braços é uma das exortações mais belas que a
humanidade já pôde conhecer.
Seria injusto se afirmássemos que só vivemos de silêncios de
perguntas. Não, o cristianismo também tem respostas belíssimas para a vida
humana.
Os padres são portadores de uma boa nova que tem o poder de
responder os anseios mais profundos da condição humana.
Nós também sabemos responder, mas por estarmos fundamentados
numa antropologia que não nos permite qualquer forma de reducionismo é que
defendemos que nem sempre teremos respostas para todos os problemas do mundo.
Respostas não caem do céu, mas são geradas no processo
histórico que o ser humano realiza.
Viver é maturar, é amadurecer, é superar horizontes, acolher
novas possibilidades e descobrir respostas onde não imaginávamos encontrar.
Conviver com dúvidas requer maturidade, e isso não é
aprendizado que se dá da noite para o dia.
A dúvida de hoje pode ser a certeza de amanhã.
Pe. Fábio de Melo
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