sábado, 9 de fevereiro de 2013

Os defeitos dos outros

Era já de idade avançada. Considerava-se, com toda a humildade, um verdadeiro especialista em obras de arte. 
Um dia, foi visitar um museu com um grupo de amigos. 
Logo no início da visita, começou a manifestar as suas contundentes opiniões. 
Inadvertidamente, tinha-se esquecido os óculos em casa, mas mesmo assim, não se coibiu de satirizar as diferentes pinturas com a sua veemência característica.

Ao parar diante de um “retrato”, analisou-o com ar arrogante: 
-«O homem está mal vestido. O artista cometeu um erro de palmatória. O modelo é demasiado vulgar. Resumindo e concluindo: 
- Esta pintura não tem qualidade nenhuma». 
A sua mulher, ao aperceber-se da barraca que o marido armava, aproximou-se discretamente e sussurrou-lhe: 
-«Querido, estás a olhar para um espelho». 

Moral da história: custa-nos reconhecer os nossos defeitos. Quando os vemos nos outros, parecem-nos muito grandes.

Além disso, também podemos concluir que, muitas vezes, o melhor modo de nos darmos conta da necessidade que temos de lutar contra os nossos defeitos é vê-los “encarnados” noutra pessoa.

Os defeitos aparecem como aquilo que são: algo mais vivo, mais áspero, menos agradável, mais necessitado de uma mudança urgente. 
As nossas imperfeições ― contempladas com a realidade que dá ver as coisas com uma perspectiva exterior ― parecem-nos menos lógicas e muito menos desculpáveis. 
Para melhorarmos, é preciso que não tenhamos medo de olharmos para elas cara a cara, chamá-las pelo seu nome e esforçar-nos por erradicá-las sem falsas compreensões.

O esforço é exigente, sem dúvida nenhuma. Mas, evidentemente, vale a pena. Não é nada fácil reconhecer os nossos defeitos e admitir a necessidade de esforçarmo-nos por superá-los. 
Mesmo não sendo fácil, esse passo prévio é fundamental para podermos melhorar com o passar do tempo. Não basta deixarmos os anos correrem.

O passar dos anos melhora o vinho do Porto ― mas não o nosso carácter. O que aperfeiçoa o nosso carácter é o esforço por arrancar ― ou pelo menos diminuir ― as nossas imperfeições. 
E não nos enganemos: sem uma visão objetiva dessas imperfeições não há esforço de nenhum tipo. Ficam só os desejos genéricos de «mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma».

Todos possuímos ― sabe-se lá porquê ― uma grande perspicácia para ver os defeitos dos outros e uma enorme dificuldade para vislumbrar os próprios. Talvez porque, como diz o ditado, nunca ninguém é bom juiz em causa própria.

Sabendo disso, podíamos avançar muito se, cada vez que vemos noutra pessoa um defeito, nos examinássemos sinceramente para ver se também nós não o temos num grau superior. 

Isso por uma razão muito simples: porque, geralmente, os defeitos que mais nos custam a aceitar nas outras pessoas são precisamente aqueles que nós possuímos. 
Estamos a olhar para um espelho.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria





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