segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A vida cobra as nossas pressas

Eu não sei ao certo se na minha infância as horas passavam depressa ou se os dias eram lentos.
A verdade é que eu não tinha a noção do tempo e das suas ilusórias modalidades.

Viver era a ausência de mistérios. Brincávamos com os amigos de rua, íamos à escola próxima de casa, assistíamos à programação televisiva de uma das quatro emissoras disponíveis na tela da TV da época. 
E eu não me lembro de alguma vez ter dito que não estava passando nada de bom na TV. 
A vida era simples e desprovida de qualquer pretensão imaginária. 
Viver era a arte de simplesmente estar lá, como estavam as plantas, as flores e os pássaros.

Em que momento a vida teria me feito perder a leveza e a ingenuidade?

Em que final de tarde teria eu deixado que as inquietações me roubassem o sono restaurador das noites?

E aqui eu cheguei, contando os segundos para a próxima atividade. 
Desesperado em não perder tempo, transformando o relógio em juiz de causas imperdíveis.

Ingressar no mundo adulto trouxe muitas vantagens, mas custou a perda de um modo leve de ser e de estar no mundo.

Por que essa ansiedade me consome?

Por que essa superficialidade nas pressas dos relacionamentos?

Às vezes, é preciso parar um pouco para, então, nos lembrarmos de que ainda fazemos parte da vida, ou melhor, que a vida ainda faz parte da nossa existência.

Quando tudo passa a ser feito de forma automática e veloz não há condição possível para sentirmos o sabor das experiências vividas. 
Tudo se relativista numa sucessão de acontecimentos desconexos.

E a vida sempre acaba por nos cobrar as pressas e as superficiais escolhas consequentes das nossas urgências.

Se um dia a vida foi para mim simples estar lá, hoje corro o risco de nas pressas da vida estar ausente não apenas de um lugar, mas ausente de mim mesmo.

Então, que a calma, enfim, me acorde a alma.

Dalcides do Carmo Biscalquin

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