quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cor-agem

Meu coração é corajoso sem armas. Descobri dia desses, enquanto desenhava pensando na vida. 
No começo foi tudo sempre estranho, não feio. Um tal de apaga ali, rabisca daqui e apaga de novo... 
Dizem que só criança faz desenho da vida. 
Depois que a gente cresce perde o jeito, esse jeito de colorir o sentimento numa folha em branco. 
Conservei essa mania dos desenhos. Tenho tudo rabiscado. Tudo enfeitado. Porque não gosto de abandonar as manias que me levam pra lugar de sonho, inventar uma primavera bem no meio do inverno. No desenho pode. 
Uma paisagem diferente da vida de verdade. Tem desenho que fica abandonado e feio. Triste num canto no fundo do meu armário companheiro de mudanças, herança do pai. Fica ali por uns dias, quietinho, até eu ouvir seu choro. Pedido de socorro. 
E lá vou eu, com minha ambulância carregada de lápis colorido fazer o desenho sorrir. 
Igual criança quando tá chorando e o amiguinho pega na mão e pede pra sorrir de novo.

Eu não gosto de abandono, por isso acolho. 
Por isso recolho e não costuro sorriso porque chorar é preciso. 
Porque não importa se o desenho é feio. Ou se a ferida é doída. Ou o dedo do meio foi pra mim. 
Eu contorno e de um jeito ou de outro, sempre tenho uma cor pra mudar a história. 
E na vida, a gente aprende que quanto mais a nuvem pesa e se enche de cinza, mais forte vem a chuva. Ou o choro. 
Sorte é ter um coração cheio de pancadas, metido em tempestades e sujeito a trovoadas. Esses sim são corações maduros de forte. Não de vez. 
Tenho um coração de todas as cores. Que amanhece azul e adormece vermelho ou bege ou rosa ou verde ou roxo ou...qualquer cor serve, porque quanto mais cor no coração, aprenda: MAIS COR-AGEM na vida.

Vanessa Leonardi

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