segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sobre ganhar e perder


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Vamos um pouco além.
Por que ainda não aprendemos a conviver com as diferenças? Medo? Ausência de amor?
Falemos de amor na poesia leve de “Um soneto”, de Guilherme de Almeida:

Ama, quieto e em silêncio.
É tão medroso
o amor, que um gesto o esfria e a voz o gela.
Não. O amor não é medroso.

O poeta brinca apenas com a vulnerabilidade dos sentidos ao emprestar “O eco” à vida:

Perguntei à minha vida:
– “Como achar a apetecida
felicidade absoluta?”
E um eco me disse:
– “Luta!”

Lutei. – “Como hei de a esta pena
dar a cadência serena
que suaviza, embala e encanta?”
O eco, então, me disse:
– “Canta!”

Cantei. – “Mas, como, num verso,
resumir todo o universo
que em mim vibra, esplende e clama?”
então, o eco me disse:
– “Ama!”

Amei. – “Como achar agora
a alma simples que eu pus fora
pelo prazer de buscá-la?”
O eco, então, me disse:
– “Cala!”

Calei-me. E ele, então, calou-se.
Nunca a vida foi tão doce...
Tudo é mais lindo a meu lado:
Mais lindo, porque calado.

Lutar, cantar, amar e calar... assim queria o poeta.
Lutar para que os desvarios mundanos não roubem nossa sensibilidade.
Cantar a canção da dor e a canção do amor.
Cantar pelos que, empedernidos, já não conhecem os acordes.
Cantar por aqueles que impedem a canção alheia.
Cantar o silêncio dos que não têm voz ou vez.

Amar como ação necessária de encontros e paisagens.
Contemplamos o mundo para conhecê-lo e transformá-lo.
E calar? Mas como calar diante das feridas abertas da injustiça e da destruição do nosso irmão?
Calar para, como Maria, a mãe da esperança, escutar a boa-nova, a missão...
E  então agir...
....
Voltemos ao poeta.
Calar é contemplar o que precisa ser mudado para depois lutar, combatendo o bom combate, e depois cantar uma canção nova e aí, então, amar.
E calar novamente. Sim, é no silêncio dos nossos porões que habitam muitas razões...

Trecho do livro  Cartas entre amigos
Sobre ganhar e perder – Pe Fábio de Melo e Gabriel Chalita

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