Em primeiro lugar, creio que seja imprescindível esclarecer
que as pessoas não se sentem solitárias somente quando não estão se
relacionando afetivamente com outra.
Muitas vezes, a solidão toma conta da
gente de forma profunda e dolorosa mesmo quando estamos acompanhados.
Por outro
lado, muitas pessoas não experimentam esse sentimento nem quando estão sós.
Então, vale dizer que a solidão é um sentimento que nada tem
a ver, necessariamente, com o fato de estarmos sozinhos ou comprometidos.
Antes
de aflorar e tornar pesada e triste a nossa vida cotidiana, a solidão é uma dor
que nasce dentro da gente, em função de um vazio que deveria ser preenchido não
por qualquer outra pessoa que não seja nós mesmos.
Solidão é a falta latente e
excessiva de amor-próprio. Ou seja, é a carência de um sentimento que nem nós
mesmos estamos conseguindo nos dar.
Mas, geralmente, justificamos a solidão que sentimos pela
ausência de um amor, de um relacionamento afetivo satisfatório, compensador,
recíproco.
E, assim, nos sentindo vítimas de um abandono inexplicável e
conseguimos apenas chorar.
A impressão que temos é a de que o mundo não tem
mais razão de ser, como se esse espaço vago, escuro e frio que ocupa o nosso
coração fosse transbordar e inundar toda a nossa vida, nos afogando numa
tristeza sem fim...
No entanto, costumo pensar que a vida é uma grande mestra.
Acredito sempre que as nossas dores são como preciosos sinais, para que
percebamos que algo precisa ser mudado.
Então, se você sente que a solidão está
consumindo toda a sua alegria de viver, sugiro que você tente descobrir o que a
vida está querendo lhe dizer.
Qual é a parte dentro de você, ou qual é a área
de sua vida que você abandonou? E em nome de que ou de quem você tem feito isso
consigo próprio?
Imagine uma boneca numa prateleira de uma loja. Por algum
descuido de um vendedor, ela caiu atrás de outros brinquedos e ficou invisível
aos olhos dos compradores.
Assim, meses se passaram e ela foi ficando
empoeirada, suja, sem cor e sem atrativos.
Certo dia, um vendedor encontrou a
boneca enquanto limpava as prateleiras. Imediatamente pensou em jogá-la no
estoque da loja, como mercadoria estragada. Afinal de contas, comparada aos
demais brinquedos, com aparência de novos, perfume gostoso, cores vibrantes e
embalagens atraentes, certamente ninguém se interessaria por aquela boneca e
ela ficaria ali somente ocupando espaço.
Realmente, ele tinha razão em seu
raciocínio. Ninguém daria preferência a um brinquedo sujo e feio podendo
escolher entre tantos outros bonitos.
Nós também somos como as lojas de brinquedos e, na correria
do dia-a-dia, algumas de nossas bonecas, alguns de nossos brinquedos caem atrás
de nossas prateleiras.
Terminamos nos esquecendo deles e eles perdem seu viço,
sua cor, seu brilho.
De repente, ao olharmos para dentro de nós com um
pouquinho mais de atenção e descobrimos nossos brinquedos sujos.
O que fazemos?
Jogamos um por um em nosso depósito de lixo? Desistimos deles por causa de seu
estado de deterioração?
Não somos objetos, somos pequenos pedaços de amor, somos
fragmentos de vida e precisamos de cuidados que somente nós mesmos podemos e
sabemos nos dar.
Ao invés de ignorarmos nossas partes sujas e feias, precisamos
urgentemente cuidar delas, limpá-las, tratá-las com carinho e transformá-las em
luz, em beleza, em atrativos.
Caso contrário, os meses vão passando, os anos vão embora e
a nossa vida vai se resumindo em prateleiras vazias e depósitos abarrotados de
lixo!
E o que nos resta é uma solidão profunda e dolorida, um silêncio amargo
que impregna tudo ao nosso redor. Mas felizmente podemos mudar isso.
Sempre
haverá força e coragem em algum cantinho de nossa loja para iniciarmos uma
limpeza geral.
Dispense a solidão e contrate o amor como segurança da sua
loja. E esteja certo de que ninguém fará isso por você, por mais que você
espere, por mais que você peça, por mais que você implore.
Surpreenda a todos.
Surpreenda você. Feche-se para uma reforma.
Coloque-se um prazo para reabertura
de suas portas e inaugure uma nova e maravilhosa loja, com prateleiras repletas
de lindos brinquedos.
E eu lhe garanto que a solidão passará longe de sua
porta!
Rosana Braga
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