Cães vacinados: X;
Raposa vacinada: 01!
“Misericórdia!” pensei eu. “A equipe foi pro mato, pegou uma
raposa e vacinou!”
Vejam vocês… criando raposa! Como se não bastassem os riscos
de um animal doméstico contrair e transmitir a raiva, uma pessoa ainda teve a
sublime idéia de domiciliar um animal silvestre.
De lá pra cá, mudei. Não espero mais bom senso das pessoas.
Fico feliz quando o encontro, mas não crio expectativas. Não aposto na idéia
“As pessoas já sabem isso” ou “Estão carecas de ouvir aquilo”. Parto do
princípio de que sempre existem os que não sabem e os que sabem coisas
equivocadas, por isso, é sempre necessário reforçar as orientações disponíveis,
em todas as ações, sejam elas campanhas de vacinação ou recomendações
cotidianas numa consulta de Enfermagem.
Mas o tempo passa e com ele vem a maturidade. Nunca esqueci
o “caso da raposa”. Passeando no trem da vida, saí da assistência, visitei
rapidamente a Vigilância Sanitária, fui rebocado para a Coordenação da Atenção
Primária, e estive Secretário de Saúde interinamente durante cinco meses (que
pareceram cinco anos).
Foi quando percebi que a raposa não me causou só boas
gargalhadas. Ela respalda minhas ações.
Quantas vezes nos vemos “criando raposas” em nossos
espíritos, em nossas casas, em nossos empregos?
Quantas vezes agimos por impulso, aumentando os riscos de
adoecimento e de complicações apenas por não identificarmos que aquele ato ou
aquela conduta são raposas, no final das contas?
Quantas vezes absorvemos excessivamente estresse, mágoas e
aborrecimentos, pessoais e profissionais, alimentando essas raposas em nossas
mentes e praticando o mais sutil dos suicídios?
Pensemos. Até que ponto nossa racionalidade nos empurra ao
penhasco do “tarefismo”, da “numerolatria” das produtividades, enquanto a
qualidade das ações e das relações humanas é deixada às margens do processo de
trabalho?
De que forma isso vai mudar? Esperando os gestores/patrões agirem?
Não mesmo. Eles estão umbilicalmente amarrados a um sistema auto depreciativo,
centrado no lucro e na politicagem, onde o bem estar coletivo é a última coisa
considerada. Na frente dele, sempre o “establishment” e o voto.
A esperança existe e uma boa estratégia para mantê-la viva é
lembrar sempre do “caso da raposa”:
Se determinada coisa aumenta os riscos e as possibilidades
de complicações, não faça.
Alexandro Gesner