quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Reze e trabalhe...

Fragmento de "A hora e vez de Augusto Matraga", de João Guimarães Rosa:

 Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o padre, que o confessou e conversou com ele, muito tempo, dando-lhe conselhos que o faziam chorar.
- Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?
-Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não tira o estribo do pé de arrependido nenhum...
E por ai a fora foi, com um sermão comprido, que acabou depondo o doente num desvencido torpor.
-Eu acho boa essa idéia de se mudar para longe, meu filho. Você não deve pensar mais na mulher, nem em vinganças. Entregue para Deus, e faça penitência. Sua vida foi entortada no verde, mas não fique triste, de modo nenhum, porque a tristeza é aboio de chamar o demônio, e o Reino do Céu, que é o que vale, ninguém tira de sua algibeira, desde que você esteja com a graça de Deus, que ele não regateia a nenhum coração contrito!
- Fé eu tenho, fé eu peço, Padre...

- Você nunca trabalhou, não é? (...)
 Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa.
E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria...
Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.

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