segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A convivência supõe a paciência


Li em algum lugar que um frio terrível se abatera sobre o reino dos animais.
Frio tão intenso que, se alguém ficasse sozinho, acabaria congelando. Por isso os animais se agrupavam, um encostado no outro, para que se aquecessem.
O porco espinho fez o mesmo, mas logo desistiu: ficou incomodado com as pequenas espetadas de seu colega porco-espinho. Preferiu dormir sozinho. Resultado: morreu congelado.
E assim, a cada dia morria um porco-espinho no reino dos animais. Nenhum suportava as espinhadas do outro.
Prevendo um fim trágico para todos, entraram num acordo: ficar todos bem juntinhos, se aquecendo, apesar dos espinhos, para não morrerem.

Essa historinha traz uma lição importante: ninguém consegue viver sozinho e ninguém consegue conviver sem algum tipo de sacrifício. Cada pessoa tem “espinhos” que incomodam outros, e os outros têm alguns espinhos que a irritam.
Os espinhos são os defeitos pessoais, as limitações, manias. São o modo de falar, de agir, a aparência externa, limites emocionais, cacoetes, pequenas coisas que nos irritam.

Percebo os defeitos do outro e ele percebe os meus. Fica a escolha: viver sem incômodos e morrer, ou conviver com eles para viver.
Essas coisas dependem muito de nosso olhar, de nossos sentimentos: atrás de um espinho podemos ver uma roseira ou um espinheiro. Se vemos uma roseira, vale a pena suportar os espinhos devido à beleza da rosa.

Se vemos um espinheiro, tomamos distância. No romantismo do namoro e do noivado, os defeitos parecem pequenos encantos, porque o amor é muito forte, é ainda paixão. Depois, no casamento, se entra na rotina, e os defeitos “encantadores” viram motivo de confusão…

A convivência tem por objetivo ajudarmos as pessoas a se aperfeiçoarem. Pelo afeto, compreensão e diálogo ajudá-las a superarem seus limites. Se exijo que o outro não tenha nenhum defeito, tudo bem, somente que o outro também exigirá isso de mim e acabaremos morrendo de solidão, de tédio.

Atingimos a arte de conviver suportando as pequenas “espetadas” de cada dia, sabendo que nossa paciência ajudará o outro a ser melhor. Vale a pena conviver com pequenas limitações, pois a alegria do estarmos juntos com os outros é muito maior.

Se nos isolamos para não nos incomodarmos com os defeitos alheios, acabaremos aumentando o tamanho de nossos defeitos pessoais. O isolamento nos torna incapazes de nos enxergarmos a nós mesmos e nos torna amargos frente à vida.

O outro é meu espelho e eu sou o espelho dele. Às vezes, o que mais me irrita nas pessoas é aquilo que eu tenho e também as irrita. Dizem que vemos nos outros os defeitos que não enxergamos em nós!
Mas não é só por isso, por interesse pessoal, que aceitamos os pequenos sacrifícios impostos pela convivência.

Nosso objetivo é maior vai além: existimos para que o outro possa existir. Fomos criados para multiplicar a solidariedade e não a solidão. Ninguém é uma ilha.

Precisamos de humildade, se não quisermos acabar sozinhos. Apesar de alguma “espetada“, a convivência enche nossa vida de calor humano. E então, vale a pena viver!

Pe. José Artulino Besen*

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