De todas as viagens que podemos empreender, de todas as
conquistas que podemos nos vangloriar, de todas as emoções que podemos
perseguir, a mais importante experiência é viver o AQUI e AGORA.
O tempo todo ou estamos pensando em algo do passado ou
mentalizando algo do futuro. Andamos distraídos de nós mesmos, uma presença
ausente. É por isso que não nos lembramos de grande parte dos fatos que compõem
nossas vidas, não temos memória sobre aquilo que não colocamos atenção. O que
você estava fazendo há exatamente um mês atrás? Você poderia descrever com
exatidão a quarta-feira da semana passada? Que ações, sentimentos,
aprendizagens e encontros ocorreram ontem em sua vida?
A maioria de nós vai lembrar apenas de situações
consideradas marcantes, ou pelo estresse provocado, ou pela alegria sentida.
Mas a existência, toda ela, deveria ser vivenciada como algo marcante, afinal
se trata de nossa própria existência.
Usamos a expressão “perda de tempo”, porém, quando estamos
presentes no aqui e agora nunca há perda. Se percebo o que estou sentindo, se
aprendo com o que está acontecendo, se usufruo da oportunidade de estar
vivenciando integralmente a realidade percebida e além dela, saio dos extremos
da dor e do êxtase e vivo a profundidade da experiência, onde tudo é mais
nítido.
O que precisamos aprender já está disponível, a oportunidade
é sempre presente, para ser basta estar. Não é preciso “acontecer” nada, tudo
que é “existir” já está acontecendo. A grande questão é que enquanto tudo
acontece, nós estamos ausentes, pensando em outra coisa.
Quantas vezes, distraídos de nós mesmos, esquecemos onde
colocamos a caneta que seguramos na mão, procuramos os óculos que já estão
sobre nossa face, vamos buscar algo e esquecemos o que queríamos, não lembramos
o que pensávamos há apenas segundos atrás.
Esvaziados da experiência do agora, passamos a vida
procurando por alguma coisa que nos complete, que dê sentido à nossa existência,
um amor que nos faça felizes, uma carreira que nos valide, um sucesso que
mostre nossa importância, uma experiência que seja emocionante. Queremos o que
já possuímos, pois a existência é a completude, a felicidade, a confirmação de
nosso valor perante a vida, a mais emocionante das experiências cósmicas.
Ser uma “presença presente” em nossa própria existência é o
maior dos desafios humanos. A viagem mais emocionante, para o lugar mais
interessante sobre a face da Terra, não será de nenhum valor se estivermos
pensando nas questões que deixamos em casa, ou preocupados com o que temos que
fazer depois que voltarmos da viagem.
Imagine visitar as pirâmides do Egito, o Taj Mahal na Índia,
as cataratas de Foz do Iguaçu, enfim as grandes maravilhas que estão
disponíveis e não prestar nenhuma atenção por estar pensando em outra coisa.
Seria um grande desperdício, não seria? Contudo, o tempo todo estamos frente às
maiores maravilhas de nossa existência, onde cada segundo de vida nos é
oferecido para experienciar, aproveitar, desfrutar, aprender e mudar, e
passamos batidos, distraídos, olhando em outra direção, que não seja nós
mesmos.
Tem gente perdida no passado, num verdadeiro exercício de
antropologia. A maior parte do tempo pensa no que já aconteceu, por que
aconteceu, quem foi o responsável, bate no peito, chora, reclama, lamenta e
perde a única chance disponível de fazer valer a existência, vivendo o
agora. Mesmo quando o passado é uma
memória super feliz, ainda assim é apenas memória e não experiência. É preciso
seguir o momento, mergulhar no presente e prestar atenção ao que é e não ao que
foi.
Outras pessoas estão preocupadas com o futuro, e seu
exercício é de quiromancia. Tentam antever o que virá, desvendar os segredos do
amanhã, programar-se para tudo que possa acontecer. Passam anos se preparando
para um outro momento, desperdiçando milhares deles na busca de algo que nunca
vai ocorrer, porque estará sempre no amanhã. É preciso conectar-se ao aqui e
agora e desfrutar da sensação da plena existência, colocar a atenção ao que é e
não ao que pode ser.
A vida está onde a gente a coloca. Pode estar no passado, no
futuro ou no agora. Pode ser plena ou falha, de acordo com a limitação de nossa
percepção, porque a vida é e não precisa de justificativa nem de
complementação. Talvez não seja necessário se tornar “alguém”, talvez a única
questão seja nos tornamos capazes de ser quem já somos e viver a plenitude
desta magnífica revelação.
Dulce Magalhães
Nenhum comentário:
Postar um comentário