domingo, 28 de abril de 2013

O êxito como valor supremo

Narciso era um belo rapaz. A sua mãe, desejando saber se viveria muitos anos, consultou o cego Teresias. «Terá uma longa vida» respondeu o adivinho, «sempre que não olhe demasiado para si mesmo». Ninguém entendeu naquele momento as palavras do sábio. A enigmática resposta caiu no mais completo dos esquecimentos.

Passou o tempo. Narciso cresceu e não correspondia a nenhum dos amores que lhe eram oferecidos. Permanecia insensível ao carinho e ao afeto. Até que um dia de muito calor, o jovem parou diante de uma fonte para se refrescar. Ao inclinar-se para beber, reparou na sua imagem reflectida nas águas. Apaixonou-se loucamente por si mesmo. E ali ficou, dias e dias, indiferente ao mundo que o circundava, numa atitude de total isolamento. Deixou-se consumir pela fome, pela sede e pela solidão, até cair sem vida sobre a erva.

Este mito é muito conhecido. A sua mensagem é clara. O ser humano não está criado para encontrar a felicidade em si mesmo, no seu egoísmo, no seu individualismo. Isso seria narcisismo, amor excessivo e doentio a si próprio, especialmente no aspecto físico.

No entanto, se observarmos bem, a cultura atual é exatamente isto que promove. Fomenta, de muitos modos, o individualismo, que é um verdadeiro cancro da sociedade. Sentir-se bem, sentir-se realizado, triunfar na vida, alcançar o êxito acima de tudo. Até na própria educação dos mais jovens, este é muitas vezes o “valor supremo” transmitido.

Quantas pessoas hoje em dia estão obcecadas pelo êxito. Êxito a qualquer preço. Êxito como o único fim desta vida e sem o qual tudo o resto perde o seu sentido. Nascidos para triunfar. E triunfar já. Aproveitar o puro presente, estimulando o próprio ego, a vida livre de qualquer compromisso, a satisfação imediata dos desejos.

Viver centrados em si mesmos, como Narciso. Isso dá origem à inveja. A diálogos intermináveis com pessoas ausentes, antecipando perguntas e preparando respostas. Um super desenvolvido mundo interior cheio de suspeitas, rancores e um desejo de subir e triunfar a qualquer preço. É o “carpe diem” de Horácio. Aproveita o dia presente. A vida é curta, por isso devemos aproveitá-la enquanto pudermos.

É o estreito mundo do egoísmo, totalmente diferente da grandeza e da paz de centrar a própria existência nos outros e esquecer-nos de nós próprios.
Esse é o verdadeiro caminho da felicidade, mas é um caminho que exige esforço.
Exige não pensar só no momento presente, porque a vida tem um sentido. E esse sentido é transcendente, não está neste mundo, não está no cemitério.
Por isso, como disse um filósofo, qualquer êxito nesta vida é sempre prematuro. E se o vemos como um fim, atuamos como Narciso, deixamo-nos deslumbrar por ele e o convertemos num fracasso.


Pe. Rodrigo Lynce de Faria


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