quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Saber medir as nossas palavras


Estávamos os três a tomar uma cerveja. A esplanada, quase vazia. 
Depois de um dia extenuante de trabalho, logicamente, o cansaço fazia-se notar. 
De repente, um deles fez ao outro uma pergunta indelicada, com uma certa ironia e até violência. Mais do que perguntar, parecia que estava a brincar com uma atitude que não entendia. 
Instintivamente, fiquei à espera de uma resposta à altura das circunstâncias. Mas ela não veio. Pelo contrário, a contestação foi cordial e sem azedume.

Fez-me pensar. Aquela pessoa levava consigo o seu próprio ambiente. Um ambiente que não dependia de circunstâncias nem de provocações. 
Podendo fazê-lo, por uma questão de “estrita justiça”, não tinha devolvido o mal com o mal. Demonstrava com isto um senhorio de si próprio fora do comum. 
Ao outro só restavam duas opções: pedir desculpas pelo modo como tinha abordado o assunto ou fingir que nada tinha acontecido. 
Escolheu esta última por ser a mais cômoda, e, pensava ele erradamente, a menos humilhante. 
Que diferença tão grande de nível humano em duas pessoas com a mesma profissão.

O meu amigo cordial tinha um tom humano impressionante. 
Um tom que facilitava o relacionamento mútuo, que fazia com que os outros se sentissem bem ao seu lado. Sabia estar com todos. Irradiava à sua volta um ambiente agradável, de profunda dignidade. Oferecia uma amizade sincera, sem ocultar a sua identidade de cristão coerente por medo a ser rejeitado. 
E foi devido a essa sua coerência que a pergunta irônica tinha surgido. 
Ao fazer-lhe ver a minha admiração pelo modo como tinha atuado, respondeu-me: “não há caridade sem respeito, e não há respeito se não sabemos medir as nossas palavras”.

Saber medir as nossas palavras. 
Quantas vezes ferimos os outros porque não sabemos medir as nossas palavras. 
E isso não é hipocrisia nem falta de sinceridade. 
É simplesmente respeito. 
É capacidade de nos pormos na situação dos outros e descobrir que não gostaríamos que nos falassem assim. 
Dizer o que pensamos sem pensar no que dizemos, geralmente, é uma atitude bastante irresponsável. 
É como atirar uma pedra pela janela sem preocuparmo-nos com os estragos que possa provocar.

Cuidar o modo como dizemos as coisas também não é algo superficial. 
Quantas vezes, tendo alguma razão, a perdemos não por aquilo que dizemos, mas pelo modo como o fazemos. 
Quase tudo depende da forma de dizer as coisas. 

Há muitos modos de dizer a mesma coisa e, habitualmente, não é necessário tornar a verdade antipática a ninguém. 
A verdade é como uma flor. Não é a mesma coisa oferecê-la a alguém ou atirá-la à sua cara. 
A segunda atitude não é mais sincera, ainda que muitas pessoas nos tentem convencer do contrário.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

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