sexta-feira, 29 de março de 2013

Senão...

Nós, os velhos - assim considerados principalmente do ponto de vista de filhos, netos e alunos - quando crianças, ouvíamos ordens obedecidas cegamente, senão...

À mesa, na escola, no cotidiano, na relação com amigos e colegas éramos estimulados a acolher e acatar ordens, algumas vezes absurdas, inquestionáveis quase sempre, que vinham pontuadas por ‘senão...’, advertência dita (ou não dita) em tom ameaçador de advertência, que sugeria muitas alternativas, algumas nem um pouco agradáveis.

Bastava sentar à mesa, já começava a arenga: menina, não arraste a cadeira!
Menina repita quantas vezes quiser, mas não abarrote seu prato! 
Menina não mastigue com a boca aberta! 
Menina não fale com a boca cheia! 
Meninos não discutam durante a refeição! Isso não é assunto para este momento (quando se falava de política e doenças). 
Menina, senta direito! 
Menina, volte para a mesa: não saia enquanto alguém estiver comendo! 
Menina, agora não é hora de falar ao telefone, nem de ver televisão: desligue isso! 
Meninos, se vocês discutirem novamente, irão para seus quartos, sem terminar de comer! (Importante lembrar que o pai era Palmeiras, um irmão são paulino, dois irmãos corintianos, a mãe nada e a irmã idem). Senão...

Para irmos à casa de alguém – quando convidados, claro – tinha decálogo: 
1. Pedir licença para entrar. 
2. Cumprimentar os donos da casa e demais pessoas que estiverem no local. 
3. Não pedir algo que não lhe tenha sido oferecido (especificamente era para meu irmão guloso cujos olhos saltavam quando via na casa dos outros, guloseima rara em casa, como chocolate...). 
4. Quando oferecido e aceito algum paparico para comer, jamais pedir bis. 
5. Nunca abrir a porta da geladeira alheia. 
6. Não entrar nos quartos, muito menos abrir gavetas. 
7. Se precisar usar o banheiro, peça licença para fazê-lo, use e não esqueça da descarga. (E só o use para o número um, segure o número dois, até não aguentar mais.). 
8. Não chupe o nariz. 
9. Diga ‘Saúde!’ se alguém espirrar. 
10. Quando vier embora, despeça-se dos donos da casa, agradeça. Senão...

As regras de convivência social eram estritas e rigorosas. 
Não responda aos mais velhos. 
Não entre numa casa sem ser convidado. 
Jamais pergunte a idade de alguém. 
Respeite as pessoas com as quais convive: chamar alguém de senhor ou senhora não é garantia de respeito. Respeito é reconhecer a existência do próximo, estabelecer limites e permanecer dentro deles. 
Não gaste mais do que tem e, se não tem, não tome emprestado. Senão... 
Mandavam-nos repetir à exaustão: Obrigado!, Dá licença?, Por favor..., Desculpa!...

Na escola, dançávamos miudinho. 
Professor tem sempre razão. 
Professor completa aquilo que os pais devem dar aos filhos. 
Jamais seja indelicado com seu professor. 
Nada de intimidade com seu professor: fique atento à hierarquia! 
Seu professor ficou bravo com você? Abaixe a cabeça e se cale! 
Se eu souber que você na escola respondeu com má-criação quem quer que seja ... (meus pais queriam dizer do funcionário mais simples ao diretor)... você já sabe! (Sim, eu já sabia: bons tapas, puxões de orelha, castigos, impedimentos etc). 

Mudaram os tempos, desaprendemos ou perdemos as rédeas no conduzir das novas gerações?

Lúcia Helena Brigagão (do Jornal Comércio da Franca)

Nenhum comentário:

Postar um comentário