sábado, 13 de setembro de 2014

Nosso mundo interior


A maior e mais bela viagem que fazemos é a que nos leva ao nosso interior. Eis a romaria das romarias.
Luzes e trevas nos habitam, lodo e ouro estão dentro de nós, feridas e potencialidades coabitam em nosso íntimo. 
Normalmente não somos ajudados a entrar em nós mesmos, temos medo e nos sentimos ameaçados.

Todos que entram no seu mundo interior tornam-se iluminados, livres, leves, ousados, criativos. 
São homens e mulheres corajosos nas dificuldades, pacíficos na adversidade, alegres na aridez, compreensivos e compassivos com os que erram. 
Quem vai ao seu interior acaba encontrando Deus, com sua presença iluminadora, criadora, irradiante. 
Quanto mais descemos às profundezas tanto mais alçaremos altos voos.

Quando fugimos do nosso interior, somos obrigados a criar máscaras, aparências, artificialidades, duplicidades, atitudes postiças para poder sobreviver, mas isso, é um desgaste colossal de energias e acabamos nos sentindo incompletos, insatisfeitos, desintegrados, interiormente divididos, quebrados, inadequados. 
Somos condenados a viver na obscuridade, na dependência e até no vicio.

Para entrar no santuário interior da nossa alma, há uma condição: não ter medo de nossas sombras. Pelo contrario, é preciso abraçá-las, aceitá-las, reconhecê-las para então poder curá-las ou com elas nos reconciliarmos.

Iremos perceber que nossas sombras, fraquezas, feridas quando aceitas, nos jogam nos braços de Deus, transformam-se em potencialidades, tornam-se nossas aliadas para a libertação, nos jogam para o alto, proporcionam descobertas de valores, são verdadeiros remédios. 
No fundo isso significa que sem espinho na carne, não há progresso, nem ascensão, nem maturidade e profundidade.

Para podermos entrar e habitar no nosso interior necessitamos de humildade e compaixão. 
Vale a pena pagar o preço de tudo isso, pois, viajar para o nosso interior é ir ao encontro de nosso maior tesouro, da riqueza que nos habita. 
Negociando com nossas sombras crescemos em lucidez e nos sentimos completos e alegres por habitar em nossa casa, nos sentimos alicerçados, encontramos o descanso, a paz.

No fundo de nós mesmos habitam a luz, a fonte, o amor, valores que foram soterrados pelos escombros das feridas, decepções e golpes da vida, deixando-nos amarrados por couraças defensivas, golpeando-nos com flagelações e sempre procurando os culpados de tudo isso. 
As feridas não permanecem inativas. Elas continuam a nos condicionar e nos tiranizam na busca de compensações, gratificações, perfeccionismo, ativismo, infantilismo.

Quando descemos aos nossos abismos nos libertamos dos laços que nos aprisionam e saltamos para o reino de liberdade porque Deus, do mal, tira o bem e “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus “. 
Vamos descobrindo que nossas feridas são santuários onde encontramos Deus, que nossas fraquezas são fonte de grandes alegrias porque Deus manifesta sua grandeza na nossa fraqueza. 
Ainda mais, pecados, fraquezas, feridas nos movem à luta pela superação das mesmas, nos amadurecem e são uma escola de humildade, de experiência com a misericórdia de Deus e de compaixão pelas limitações dos outros.

Dom Orlando Brandes

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