sábado, 6 de setembro de 2014

Momentos felizes


Para mim a felicidade pode estar em um vaso de flores. E quando vem de pessoas a quem amo, descubro que sou amada também. Consigo visualizá-la em potes de temperos, ingredientes essenciais para uma existência.

Penso nisso quando me lembro de que fui inúmeras vezes àquele lugar e no seu interior bem me acomodei. A cada aceno, um bom pedido de “quero mais”. Foi justo lá que tantas coisas aconteceram. Vi, espantada, um menino entrar literalmente dentro de uma televisão de 40 polegadas. Participei de rodas. Assustei-me com a história da Velha Palmira. 
Desci ladeira abaixo com carrinhos de rolimã, pés descalços e jabuticaba pretinha na boca. Fiz guerra de travesseiro. Joguei baralho à noitinha, corri pela casa e aprontei muita bagunça. Disputei o último pedaço de pizza e caí na piscina. Joguei água para o alto e brindei à passagem do ano e à vida. Entrei de cabeça no brincar de ser feliz. Mas tinha alguém ali, talvez ainda muito mais feliz por nós...

O tempo passou. E num certo dia estou atravessando a mesma avenida, observando as mesmas casas, talvez até as mesmas pessoas, quem sabe? Sim, estava voltando e a via com um brilho claramente resgatado. Atrevo-me a dizer que o tempo às vezes é um labirinto, mas basta uma só recordação, uma única memória, para achar a saída que tanto procurávamos.

Ela achou, ela estava ali, naquele lugar que escolheu para fazer morada, quando finalmente descobriu que dentro do seu coração já havia uma morada também. Recebeu-me com um sorriso que parecia brotar mel. De cada espaço, quadro pendurado, objeto organizado, orquídea na parede evolavam carinhosas boas-vindas.

Nossa casa é onde o nosso coração está e este coração é capaz de transpor blocos de cimento e concreto. É tão forte, que a ele ficamos atados, sem vontade de ir embora. Ela desdobrou seu lar ao mostrar que a felicidade não é mais clandestina. Dela tenho mais uma vez a honra de compartilhar.


Talita Machiavelli, professora

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