terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dor não se mede


Há muita falta de respeito pelos sentimentos alheios. Alguém conta de uma dor que está vivendo e aquele que está a ouvir já se apressa em lembrar que essa dor não é nada se comparada a dor que ele enfrenta. Quase uma disputa numa tentativa insana de mostrar quem sofre mais.
Dor não se mede.
Dor não se compara.
Cada um sabe a dor que vive e que traz no peito. Por isso, não adianta compartilhar essa dor com aqueles que não têm sensibilidade. Há aqueles que não são bons ouvintes. Eles querem sempre falar, julgar, repreender. E não sabem silenciar.

Cada ser humano sente a sua própria dor e a sente do seu jeito e a seu modo.
Digo isso, porque vejo gente que luta para demonstrar ao outro a intensidade de sua dor e nem sempre consegue. E nem sempre encontra a receptividade do outro para ouvi-lo.
Há os que até dramatizam a própria dor na esperança de convencer os que estão ao lado e ganhar deles um pouco de compaixão.
A sua dor não precisa de quem a reconheça ou a aprove para, enfim, tornar-se válida. Ela existe. Ela é sua. E só você sabe da força dela e dos estragos que ela pode causar.
Se você não encontrar solidariedade no olhar de quem ouve, cale.
Toda e qualquer palavra de sua parte não trará nenhuma modificação no modo de agir e de responder do outro.
Lembre-se de Jesus no horto das oliveiras, quando se aproximava o momento de sua morte.
Diz o texto bíblico que ele recorreu aos amigos mais próximos pedindo a eles que lhe fizessem companhia durante aquela noite.

Conta a história da bíblia que os amigos mais próximos dormiram e não conseguiram fazer vigília com ele.
Os amigos mais próximos deixaram o mestre sozinho enquanto esse suava sangue, corroído pela dor daquele momento. Portanto, algumas dores, alguns momentos difíceis, terão que ser enfrentados na mais profunda solidão.
Alimente menos expectativas a respeito da solidariedade daqueles que estão ao seu lado.
Se até Jesus provou o gosto amargo da dor vivida na solidão, por que conosco deveria ser diferente?
Alguns momentos da vida são mesmo assim: entre nós e Deus.
E ninguém mais...

por Dalcides Biscalquin

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