sábado, 15 de março de 2014

Quinhentos anos de espera


Cem Anos de Solidão é uma obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura em 1982.
Pode ser que esta crônica não tenha a ver com essa obra. Ou tem?
Pelo menos no título, com o número de anos aumentado exponencialmente.
Quanto ao conteúdo, este texto tem mais a ver com o emblemático brasileiro, de Chico Buarque, Pedro Pedreiro. 

Penseiro, esperando o trem, esperando, esperando, esperando o sol, esperando o ônibus, esperando o aumento que não vem. 
Esperando o futebol, esperando o carnaval, esperando a Copa do Mundo, esperando a sorte que não vem. Mas faz sua fezinha, toda semana, na megassena. 
Sempre esperando. E a mulher de Pedro Pedreiro está esperando mais um filho pra esperar também. Pedro Pedreiro, penseiro, tá esperando a morte, que esta é certa, talvez pensando na morte da bezerra, uma perda inestimável. 
Ou esperando o dia de voltar pro Norte. 

Esperando o dia de esperar ninguém, e de ninguém, 
de deixar de esperar do governo, de deixar de ser penseiro para ser pensante, mas falta escola, 
falta hospital, falta estrada, falta transporte. 
Esperando, enfim, nada mais além que a esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem. 
Que vem, que vem, que vem, que já vem.. mas vem superlotado. 

Gente demais. Governo de menos. Ou desgovernos?

Na verdade, Pedro não sabe mas talvez, no fundo, espere alguma coisa mais linda que o mundo, maior do que o mar. Mar que Pedro Pedreiro, se do litoral, conhece de sobejo, de montão, de sol escaldante, de estrada de areia à beira-mar. 
Se pescador, melhor, digo, pior ainda. Então, pra que sonhar se dá o desespero de esperar demais, se há 500 anos o brasileiro espera?

O brasileiro tá cansado de esperar, de esperar um milagre, milagre brasileiro que não acontece. 
Cansado de esperar em vão. 
Cansado de solidão. 
Cansado de ser tapeado, espoliado pela tributação e pela ruindade dos serviços públicos. 

Eh!... Mas há quem goste. E como!

Prof. Antônio de Oliveira

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