sábado, 15 de março de 2014

À procura de caminhos


Não posso afirmar se os tempos de hoje são piores do que os de antigamente. Sou saudosista. 
Não naquele sentido de que meus tempos de juventude eram melhores. Em vários sentidos até que eram. Meu saudosismo é de não tê-los vivido de maneira mais intensa e de ter perdido uma imensidade de oportunidades que se abriram diante de meus olhos. Afinal, os tempos de hoje são melhores ou piores? Lealmente, não sei. 

As relações humanas estão se deteriorando? Não sei. O que eu realmente sei é que não é fácil viver hoje, como era fácil viver antigamente. 
O homem é um complexo de instintos selvagens mal dominados, hoje mais sofisticados e aperfeiçoados. Passamos a viver abstratamente, esperando uma solução que nos caia de paraquedas. Um jogo de tênis, um jogando a bolinha para o outro.

Vivemos nos queixando da violência, do mal que nos pega pelo pescoço, da decadência moral. E saímos por aí sempre repetindo: “É preciso”. 
“É preciso”, por exemplo, melhorar a processo educacional. 
“É preciso” pôr um freio na violência. 
“É preciso” acabar com a droga. 
“É preciso” eleger homens honestos. 

Sempre “é preciso” fazer alguma coisa. Mas, sem pessimismo, na década em que vivemos o que foi feito de realmente válido? De realmente eficaz? 
Nossos ministros são todos escolhidos dentro de interesses políticos. Não têm capacidade específica para o cargo. 
O que fazem é apenas cumprir os conchavos. Assim, nesta crônica, vou caindo nas mesmas inutilidades que combato. 
“É preciso” fazer alguma coisa. Ficamos dando voltas e as coisas ficam sempre do mesmo jeito. 

Então vem a pergunta: “Sou eu que tenho a obrigação de salvar o mundo? É você?”. 

Minha conversão pessoal (que é imprescindível) depende de mim. Mas, há coisas que não dependem de mim nem de você. Pertencemos a uma comunidade política. 

Como não podemos dirigir a coisa pública, delegamos poderes a outros para que, com os recursos que lhes são proporcionados, procurem melhorar o ambiente. Então votamos. Ouvimos as promessas. Aparecem na telinha com a maior cara de pau. 
Eles juram que são honestos, gente boa. E, ingenuamente, enchemos a praça de “gente boa”, de Delúbios, de Josés Dirceus, de Renans Calheiros, de Cafeteiras, de Genoinos, de Jeffersons, de Lulas, de Sarneys, de Roses. 
Mais dois, dez, duzentos, milhares. Entra até uma distinta senhora, Ph.D em Sexologia, com uma linguagem chula que nos envergonha. 
Toda essa gente sem falar nas construtoras, nos desembargadores, nos jurisconsultos. 

Vem a polícia. Botam algemas, tiram retratos. 
E tudo fica do mesmo jeito. E saímos repetindo: “É preciso mudar”. 

Meu amigo, você tem a receita? Procure uma. “É preciso”... Caso contrário, “vai tudo pro brejo”.

Padre Prata (*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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