Aprendi que quem nasce só sentimentos nunca conseguirá ser leve, meio termo, café com leite. Nem dará certo com gente assim.
Quem nasce só sentimentos, na verdade, tende a ser solitário. Ama demais e se entrega demais, é lei.
Mas no fim da noite sempre vai correr pro canto do quarto querendo entender o sentido de tudo ou sofrendo demais por tudo.
Gente que sente demais tem a necessidade não assumida por drama. Nada é bom quando está bom. Não há nenhuma felicidade que não possa ser questionada.
Gente que sente demais sempre espera coisas ruins de coisas boas, porque é isso que aprenderam desde cedo. Mas entram no barco naufragando do mesmo jeito. Encaram o precipício e pulam sem pensar duas vezes. Porque, no fim de tudo, por mais que se negue, vale a pena. Sentir vale a pena e é um ato de pura coragem.
Quando se sente demais, o tombo é maior, a felicidade é quase uma overdose e a tristeza é do tamanho do mundo.
Tudo é bonito e triste.
Tudo é sentido dez vezes mais forte e algumas vezes, nem se sabe qual é o sentimento.
A dor da felicidade ou a felicidade da dor, por exemplo.
Só quem sente verdadeiramente entende isso. Ou melhor, sente isso.
Entender não é um privilégio pra quem sente, é tudo questão de tato. Dói ser feliz por medo da felicidade acabar e às vezes a tristeza é confortável porque não se tem mais nada a perder. É uma bagunça.
Gente que sente tudo à flor da pele é uma bagunça daquelas.
São as pessoas mais tristes e mais felizes que se pode ter. São as mais bonitas de se ver também.
A dor que se tem quando sente demais é sempre poética.
O peso que se tem que levar para o resto da vida por ser assim, não.
Mas aprendi também que quando se carrega algo tão grande assim dentro de si mesmo, eventualmente você acaba aprendendo a lidar e aceitar toda a confusão, porque muito peso nas costas te ensina a levar a bagagem direito.
Iolanda Valentim
Texto maravilhoso!!
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