Insônia longa. Saiu de casa cedo, mal o dia amanhecia. Trânsito livre. Bateu na porta da casa de um quarteirão qualquer:
- O senhor sabe onde posso encontrá-la?
- Quem ?
Nada acrescentou. Foi-se rápido. Continuou a procurá-la. Tomou ônibus, metrô, andou bastante a pé. Muitas as perguntas repetidas e as fugas após os pedidos de esclarecimento. Entrou numa igreja, ajoelhou-se ao lado da mulher que rezava:
- A senhora também não sabe?
- O quê?
Levantou-se, saiu, circulou por toda a cidade. Indagou em bancas de jornais, em lojas diversas, de pessoas que passavam apressadas... Aproximou-se do velho mendigo, sentado junto do poste:
- E o senhor? Não pode me informar onde posso encontrá-la?
- Se é o que está procurando, ela nunca se aproximou de mim.
Voltou para casa, faminto, esgotado, paletó desabotoado, camisa aberta, suor descendo, gravata jogada para trás do pescoço. Olhou-se ao espelho. Murmurou:
- Por onde andará...
Pareceu-lhe vê-la, na meia-sombra, às suas costas. Voltou-se rápido para abraçá-la.
Deu-se conta de que apenas abraçou-se a si mesmo, ausente dela como nunca.
Nossas Letras / Letras, Arte e Cia / Caio Porfirio
Nenhum comentário:
Postar um comentário