segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Tempo Mágico – por Ivana Negri

Infância é a época da magia. Todos os sentidos estão atentos, apurados, captando odores, sabores, sons e imagens com precisão.

É o tempo de extasiar-se com as pequenas coisas, observar molengas lagartas em seu andar sinuoso, vê-las transformarem-se em coloridas borboletas, ouvir enlevados o cantar dos pássaros, ver o desabrochar das flores na primavera, descobrir aquele ninho entre a folhagem do jardim que nenhum adulto soube enxergar. Também constatar com a ávida curiosidade infantil, a capacidade da lagartixa de perder o rabo e nascer outro igualzinho em seu lugar.
É tempo de amar os animais, sem limites. Dormir com eles, conversar com o cachorro, com o passarinho, com o gato, e o mais mágico: compreender a linguagem deles!

É o tempo de maravilhar-se com a lua, imaginar que existe lá um dragão que cospe fogo, arrebatar-se diante da visão das estrelas, como o Pequeno Príncipe, sentir o perfume inebriante das flores e perceber tudo o que acontece em seus mínimos detalhes.

Pena que a infância é curta e o adulto logo se instala. E as responsabilidades, a competição, o trabalho ininterrupto, os mestrados, doutorados, a corrida extenuante para ganhar dinheiro, acabam matando a criança e seus sonhos. É preciso levar a existência a sério.

Mas a vida é tudo o que acontece enquanto os adultos ficam se degladiando na política e trabalhando duro para ganhar dinheiro em locais fechados, escuros, com ar condicionado ligado ininterruptamente, ressecando o nariz, a pele, a garganta e embotando os sentidos.
E chegam os brindes: estresse, depressão, cansaço, desânimo, insônia, taquicardia, escravidão do relógio, corrida contra o tempo para dar conta dos compromissos. E a informática, soberana, reinando e ocupando todas as horas.
Por que na infância o tempo parece caminhar e na vida adulta ele dispara? Por que o adulto tem falta de tempo crônica e na infância há tempo de sobra?

Não importa se a criança é rica, pobre, negra, branca, se tem brinquedos importados ou um caminhãozinho de papelão. A magia é a mesma porque está dentro dela. É lá no íntimo de seu ser que ela constrói castelos e passa a habitá-los. É no seu interior que semeia florestas habitadas por bruxas, duendes e fadas, e onde vivencia seus dias de rei, princesa, super-herói e a imaginação cria as mais belas histórias.

Já adultos, perdemos a capacidade de nos encantarmos com as singelezas da vida, com as coisas corriqueiras e maravilhosas que nos dão a alegria mais pura, que dinheiro algum pode comprar.

Quando se chega ao outono da vida, percebe-se que muita coisa foi em vão e nem valeu a pena, essa corrida maluca por bens materiais, por posição, sucesso e poder.

É quando a vida, sempre ela, nos dá de presente os netos, cloninhos dos nossos filhos, para amarmos sem restrições. E então percebemos que aos avós tudo é permitido, até virar criança de novo!

E retorna-se aos tempos mágicos da infância!
Tomar sorvete, comer pipoca e chocolate, sem pensar em dieta, sem se importar com os números que marcam os ponteiros do relógio.
Rolar no chão e reencontrar as lagartas e ninhos, com a mesma surpresa e arrebatamento dos tempos da infância.
E voltamos a construir castelos, florestas e arco-íris brilhantes dentro de nós…

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