domingo, 3 de janeiro de 2016

Gritos desnecessários


Perdoe-me o aparente equívoco do título deste artigo. Da contradição. 

Gritos são sempre desnecessários. Gritos no sentido que utilizo neste texto. 
Um grito de gol é necessário. É bom. 
Um grito de chamamento também. Uma metáfora de uma força que nos impulsiona a prosseguir. 
Um grito de adeus em um porto para um navio que se vai. Os imigrantes viveram muito isso em tempos de despedidas definitivas.

O grito de que trato é outro.
Um grito de uma mãe para um filho. 
Um grito de um namorado para a namorada. Pelo menos na situação que presenciei dias desses. 

Em uma saída de faculdade. Havia muita gente e muito barulho e não deu para saber detalhes. Deu para ouvir um homem gritando para uma mulher. Tratando-a como um objeto. Utilizando palavras desnecessárias em qualquer tipo de relação. E com tom acima do adequado. Namorados brigam. Seres humanos se desentendem. Há sentimentos contraditórios nas relações: paixão e ciúme, desejo e medo, confiança e desequilíbrio. E é de equilíbrio que falo, quando falo dos gritos desnecessários. Não poderiam esses dois conversar em local menos tumultuado? Ouvi dele, aos berros: "Há anos que te aturo e você me apronta essa?”. São anos de relação? Não há intimidade para limpar a sujeira em ambiente mais acolhedor? 
No mesmo dia, vi uma mãe gritando com uma criança. E, de novo, o grito. O grito desnecessário. 

Crianças não aprendem com gritos. Aprendem com palavras que tocam e com exemplos que dignificam a vida.
Há muitos desequilíbrios por aí. Pessoas que se perdem por acumularem problemas e despencarem todos eles de uma hora para outra. Da forma errada. Com a pessoa errada. No tom errado.
Aprendemos com os exemplos e com suas ausências. Essas cenas nos ajudam, talvez, a contracenar em outro tom, o tom do respeito.
Ah, como este conceito é bem-vindo: respeito! 
Com ele, só os gritos de entusiasmo, mesmo assim, no momento certo, com as pessoas certas, no limite certo.

Por: Gabriel Chalita

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