quinta-feira, 10 de setembro de 2015

‘Onde está o mundo?’


Aylan foi o mensageiro e a mensagem jogada ao mar. Devolvido pelas águas à mesma praia na Turquia de onde partira rumo à Europa num bote de esperançados, ele próprio era o recado, que dizia: “Eu sou vocês”. Foi sua imagem sem vida que anunciou ao mundo, em linguagem universal, a falência múltipla de humanidade e civilidade em que vivemos.

À notável exceção da chanceler alemã Angela Merkel, a liderança europeia revelou-se uma muralha de insensatez e déficit moral. Como resposta inicial para a maré humana que bate à porta dos fundos do continente, a Europa ergueu muros. Barricadas de arame farpado surgiram primeiro na fronteira da Hungria com a Sérvia. Outras muralhas em outros países da rota dos refugiados estavam previstas.

É a Europa mostrando suas vísceras. Em vão. Já deveria ter ficado claro para o Ocidente tão orgulhoso de sua civilização cristã que apenas a morte interrompe a marcha de um homem movido a esperança. Segundo dados das Nações Unidas, eles já são 60 milhões — entre refugiados, migrantes, exilados, apátridas compulsórios e enxotados de países do Oriente Médio e África do Norte em guerra ou instáveis.

Basta olhar o mapa desses deslocamentos maciços dos anos recentes. A rota do primeiro grande êxodo foi pelo Mediterrâneo Ocidental, na tentativa de fincar pé na Europa através da Espanha. A impermeabilidade do primeiro-ministro Mariano Rajoy em acolhê-los, contudo, encarregou-se de fazer com que procurassem outros traçados.

A rota migratória seguinte coalhou de embarcações negreiras o Mediterrâneo Central, despejando os sobreviventes na costa da Itália. Atualmente a hégira se deslocou para o Mediterrâneo Oriental, com centenas de milhares de almas despejadas na Grécia para, de lá, tomar o caminho dos Bálcãs e um dia recomeçar a vida, quem sabe, na Alemanha.

O menino Aylan sequer conseguiu sair do ponto de partida. E os que sobreviveram à etapa inicial hoje estão sendo tratados como gado na Hungria, uma das fronteiras de acesso à Europa mais rica. Por isso, uma nova rota já começou a ser testada: esta semana os mercadores de pessoas conseguiram levar sua carga humana até o Nordeste da Rússia, para de lá alcançar a Noruega através do Círculo Ártico.

Tenta-se de tudo para escapar da ratoeira húngara em que se encontra uma massa de desesperados que fugiu da guerra e do terror, da morte ou escravidão e suportou em vão a aliança sanguessuga de policiais, bandidos e traficantes. Com o ultranacionalista Viktor Orbán, chefe do governo da Hungria, decidido a “defender o cristianismo europeu do influxo muçulmano” e a “arrancar a Europa da sua obsessão com imigrantes e refugiados”, o bloqueio de seu país ao trânsito migratório chegou a um ponto de ebulição na noite de sexta-feira.

“Onde está o mundo?”, indagava o cartaz tosco empunhado por um dos refugiados da estação ferroviária de Keleti, impedidos de seguir viagem.

Onde está o Ronald Reagan de hoje para proclamar “Viktor Orbán, derrube este muro?”, como fez em 1987 o presidente americano diante do Portão de Brandemburgo, em desafio ao secretário-geral soviético Mikhail Gorbachev? Hoje, do outro lado do Atlântico, está Donald Trump, que, para conquistar a Casa Branca, promete construir um muro intransponível na fronteira com o México.

Onde está algo próximo ao Kindertransport (transporte de crianças, em alemão), a extraordinária operação humanitária que transportou de Praga até Londres dez mil crianças, em grande maioria judias, às vésperas da Segunda Guerra, salvando-as do holocausto? Na República Tcheca de hoje, policiais retiram refugiados de trens usando a força e ainda lhes atribuem números de registro nos braços ou punhos, a caneta. Felizmente, não foram tatuados, como nos campos de concentração nazistas.

Onde está o similar de corredor humanitário de 1948? Durante o bloqueio soviético de Berlim, uma ponte aérea militar conjunta de ingleses e americanos realizou mais de 200 mil voos para levar comida e suprimentos aos berlinenses em apenas um ano. Hoje, a Inglaterra do conservador David Cameron absorveu apenas 216 do total de quatro milhões de refugiados sírios que fugiram da guerra — número inferior à capacidade de uma única composição do metrô londrino.

Até a imagem do menino Aylan cobrir de opróbrio o planeta Terra, Cameron qualificava os migrantes de “enxame” e seu chanceler Philip Hammond alertava o país contra “saqueadores” africanos que ameaçam o “padrão de vida europeu”. O tabloide conservador “Daily Mail” ecoava: "Mantivemos Hitler fora daqui... Por que nossos líderes não conseguiriam impedir a entrada de alguns milhares de migrantes exauridos?”

A mudança veio da rua, das mídias sociais e conta com a determinação resoluta e decisiva de Angela Merkel. “O seu colega é judeu, seu carro é japonês, sua pizza é italiana, sua democracia é grega, seu café é brasileiro, (...) e você chama seu vizinho de estrangeiro?”, postou uma internauta inglesa inconformada com a indiferença de seus conterrâneos em relação ao outro. Quando o diário de maior circulação da Inglaterra, o eurocético e conservador “The Sun”, mudou de lado e escreveu “Mr. Cameron, acabou o verão... É hora de enfrentar a crise mais grave que a Europa enfrenta desde a Segunda Guerra”, o primeiro-ministro piscou. Cameron está revendo sua política migratória.

Da Islândia, a carta aberta a um ministro, postada por uma escritora de 33 anos, Bryndis Bjorgvinsdottir, levou dez mil compatriotas (4% da população do país) a oferecerem casa, comida, aprendizado da língua e inserção no país a famílias de refugiados. O texto que tanto mexeu com aquela gente de vida isolada, próxima à Groenlândia, dizia:

“Os refugiados são nossos futuros maridos e mulheres, melhores amigos ou almas gêmeas. Eles são os bateristas da banda dos nossos filhos, nosso futuro colega, a Miss Islândia 2022, o carpinteiro que finalmente vai terminar o banheiro, o atendente da cafeteria, o bombeiro, o gênio da informática ou o apresentador de televisão. Pessoas às quais jamais devemos poder dizer no futuro que suas vidas valem menos do que a minha”.

A curta vida do menino Aylan valeu muito: despertou o mundo.

Dorrit Harazim é jornalista
http://oglobo.globo.com/

sábado, 5 de setembro de 2015

No deserto de Mojave


No deserto de Mojave, é frequente encontrarmos as famosas cidades-fantasma: construídas perto de minas de ouro, eram abandonadas quando todo o produto da terra tinha sido extraído. Haviam cumprido seu papel, e não tinham mais sentido.

Quando passeamos por uma floresta, também vemos árvores que, uma vez cumprido seu papel, terminaram caindo.

Mas, diferente das cidades-fantasma, o que aconteceu?

Abriram espaço para que a luz penetrasse, fertilizaram o solo, e seus troncos estão cobertos de vegetação nova.

A nossa velhice vai depender da maneira que vivemos o momento presente. Podemos terminar como uma cidade- fantasma, simplesmente abandonados. Ou então como uma generosa árvore, que continua a ser importante, mesmo depois de caída por terra.

Paulo Coelho - 

Do medo


O guerreiro da luz fica apavorado quando precisa tomar decisões importantes.

“Isto é grande demais para você”, diz um amigo em quem confia. “Vá em frente, tenha coragem”, diz outro amigo em quem confia. E suas dúvidas aumentam.

Depois de alguns dias de angústia, ele recorre ao melhor conselheiro de todos: o escuro do seu quarto.

Nas sombras, ele vê a si mesmo no futuro. Vê as pessoas que serão beneficiadas e prejudicadas por sua atitude. Sabe que, ao dar um passo adiante, deixará alguma coisa - ou alguém - para trás. Ele não quer causar sofrimentos inúteis, mas tampouco quer abandonar o caminho.

O guerreiro que observa a si mesmo deixa que a decisão se manifeste. Se for preciso dizer ‘sim’, ele dirá com coragem. Se for preciso dizer ‘não’, ele dirá sem covardia.

Paulo Coelho - http://g1.globo.com/

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

QUANDO VOCÊ DESCOBRE QUE NÃO QUER OUTRA VIDA

A vida pode ser tão boa para você quanto você é para ela. Portanto, resgate-a de qualquer sofrimento e dê a ela as cores que merece!

colored.jpg

Desde a infância fazemos planos e sonhamos com o que queremos ser no futuro, com o lugar que desejamos morar, com as coisas que poderemos ter, com as pessoas que iremos conhecer e compartilhar momentos de nossa vida.

E tudo isso faz parte do caminho saudável que percorremos, são essas ideias e esses sonhos que nos movimentam e nos fazem crescer. E cada um tem seu desejo próprio, seu ritmo de motivação, sua força e sua coragem.

Sempre perguntam aos pais: “o que você sonha para seu filho no futuro?”; e muitos já têm uma resposta pronta, um plano completo idealizado que só falta o filho cumprir.

Certa vez ouvi uma resposta brilhante para essa pergunta: “sonho que meu filho realize os próprios sonhos!”. E esse pensamento, de alguns poucos pais, muda todo o sentido da história, todo o futuro que está por vir.

Mas é muito difícil para a família estar aberta a esse processo, pelo simples fato de que não foi ensinada a pensar dessa forma. Portanto, não devemos culpá-la por isso.

E assim vamos vivendo, uns com a sorte de realizarem seus próprios sonhos, outros com a missão de cumprir o desejo alheio.

Águas vão rolando e frustrações vão surgindo, o que nos direciona a querer sempre mais e idealizar novas realidades, pois a nossa nunca é o suficiente para nos fazer feliz.

Esquecemos então daquele colorido da infância e de nossos desejos genuínos porque resolveram sonhar em nosso lugar, porque decidiram tomar as rédeas da nossa vida.

Nos esquecemos também que podemos resgatar toda essa história, que ela permanece guardada lá no fundo do coração.

Quando nos damos conta disso, não desejamos mais outra realidade, não queremos mais outra vida que não a nossa. Tudo se torna maravilhoso!

Nós somos os únicos responsáveis por tudo aquilo que sentimos, pelo que passamos, e pelo que ainda iremos viver.

As cores da alegria estão dentro de nós o tempo todo, prontas para serem jogadas para fora e para nos causar aquela mesma sensação da infância, de quando tudo tinha seu gosto original, cheio de talento e criatividade.
A partir daí, você descobre que não quer outra vida, que ainda que você ganhe hoje na loteria não desejaria outra casa que não o lar em que já vive.


CHRISTIANE AFONDOPULOS

sábado, 8 de agosto de 2015

Ser pai

Pensando na família...datas especiais provocam saudades, um misto de nostalgia, também.. 


“Acreditar que basta ter filhos para ser pai é o mesmo que pensar que basta ter um instrumento para ser músico.” 

O extraordinário tem um papel pedagógico: realçar o rotineiro, agregando significância. Pai e mãe são diários, presença instantânea, relação vital. Porém, num dia específico vem à tona um caudal de sentimentos que mexe e remexe a interioridade, aguçando lembranças, provocando olhares mais demorados. Até o abraço acaba tendo um outro ‘sabor’. 

A gratidão se evidencia, as mágoas desaparecem, trégua à disciplina. Nada substitui uma família unida e reunida. 

São poucos os momentos onde a unidade se transforma em motivo de festa. 

Ser pai vai muito além do que simplesmente ter gerado filhos. Não é um conjunto de tarefas e obrigações. É um dom que ultrapassa o entendimento. 

Ser pai é sentir com o coração o milagre da vida. É acompanhar o crescimento, é ser plantonista do amor. Nem sempre é permitido interagir, privilegiando a quantidade de tempo. Mas sempre será possível qualificar a convivência, entrelaçar pertença, festejar a essência. 

Ser pai é ser inspiração, não escondendo a emoção. Ao olhar para a vida que fora gerada, um pai deveria derramar interiormente lágrimas de alegria. Pois nada é mais maravilhoso do que participar da obra da criação. 

Ser protagonista de uma nova existência é ser artista de uma inexplicável obra-prima. Um pai é chamado à contemplação. É maravilhoso olhar com ternura e demoradamente o filho gerado. 

É segurar no colo, independentemente da idade e do peso. Filhos são para sempre. Essa relação é regada por um eterno amor. Algo profundamente místico e encantador. 

Que a proximidade entre pai e filho aconteça harmoniosamente. 
Tornar a relação familiar uma contínua festa não é difícil. Basta deixar-se invadir pelo amor à família, que é comprovadamente a maior de todas as riquezas. 

Família: caminho de felicidade. Bênçãos! Paz e Bem! Santa Alegria! Abraço!

Frei Jaime Bettega

sábado, 1 de agosto de 2015

Gaia está de TPM


Os gregos tinham Deuses para tudo. Uranus era o céu, Apolo era a luz, Poseidon era o mar – e Gaia era a Terra.

Sim, nosso planeta é mulher. Gaia: substantivo feminino. Faz todo sentido. Primeiro, pelo monte de filhos que ela teve – as montanhas, os rios, as florestas. Coisa muito natural; este rochedo que habitamos é realmente fértil como uma mãe. E Gaia é bonita, charmosa, tem a beleza inerente às fêmeas. Um encanto que nota-se de longe; chega a dar inveja nos outros planetas do sistema. Sinceramente, se eu sou Marte já estaria vendo com o Doctor Ray um jeito de melhorar aquelas crateras. Gaia também adora tomar um sol; precisa disso pra viver. É friorenta. Igual muita moça.

Mas é no humor que temos a prova definitiva que nosso planeta é do sexo feminino. Não cutuque com vara curta que a vingança será olímpica – pra ficarmos no universo dos gregos. Abateu metade da Mata Atlântica? Gaia castiga tirando a chuva da gente. Usou bastante desodorante spray? Gaia manda abrir um buracão na camada de ozônio. Jogou carbono na atmosfera? Ela aumenta a temperatura em dois graus e derrete a Groenlândia.

Gaia é dose; não queira tê-la como ex-mulher.

Ainda mais se ela estiver de TPM.

E são grandes, hoje, os indícios de que nosso planeta está com a síndrome. Gaia anda raivosa e bipolar. Petrobrás, futebol, religião, casamento gay, pode escolher o assunto. Garanto que causará o ódio. Gaia também está com a sensibilidade muito exagerada; qualquer coisinha e ela chora. De Jack Sparrow visitando hospital a fuzileiro americano reencontrando cachorro. A auto-estima anda baixa, também. Claro, todo mundo achando que não existe saída, quem não ia ficar deprê ? E a pele, então ? O que tem aparecido de vulcão em Gaia ? Só no Havaí são dois por ano.

(Infelizmente, basta conferir para a Cantareira pra ver que Gaia não está retendo líquidos – como acontece na TPM. É o único indício que não bate).

Então, como faz ? Qual é a estratégia quando o planeta está com TPM ? Temos que conviver – gente e planeta. Aí, imagino que, sendo Gaia ou Jaqueline ou Márcia, tem que funcionar como em todo relacionamento. Se a moça está com TPM, o resto da humanidade precisa ficar esperto. Tem que saber lidar.

Evitar assuntos que irritem Gaia é um começo. Política, por exemplo. Sim, eu sei, não podemos ser alienados – mas então vamos ter educação. Dar colo e atenção é básico. E, jamais, nunca, em hipótese nenhuma, falar “Gaia, você está assim por causa da TPM”. Vixe, isso tira qualquer mulher do sério. Os dinossauros fizeram muito menos, e olha o que aconteceu. Gaia realmente se desforra. Mandando meteoros, terremotos e coisa até pior. Vamos ter cuidado. Se continuar essa TPM por muito tempo, virão tsunamis em sequência. Ou outro Justin Bieber. Certeza.

LUSA SILVESTRE

Blog Xavecos e Milongas - Estadão

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Família: a Escola e o Hospital mais perto



Durante a sua viagem à América Latina, o Papa Francisco quis falar da família logo no primeiro país que visitou, o Equador. Uma abordagem em sintonia com a realização do Sínodo da Família, em Outubro. Fê-lo de um modo brilhante e carinhoso, colocando diversas questões e desafios.

Ficou célebre a sua frase: «a família é o hospital e a escola mais perto», explicando que é na família que cada pessoa pode ser ajudada e socorrida, com amor e carinho, em tempos difíceis, como é na família que se aprende a viver, a amar, a servir, a ter atitudes boas e justas.

Se a família é boa, com critérios e valores éticos, o amor vai fazer que haja união e paz, que não haja ninguém 'descartável', que as crianças não sejam desprezadas e tenham carinho, que os idosos não sejam colocados a um canto e recebam amor, que os esposos se estimem, amem, ajudem.

Lembro-me de um acontecimento que vem a propósito da história que o Papa contou acerca da sua mãe, dizendo que quando lhe dói um dedo, lhe doem todos; quando um filho anda mal, parece que todos a fazem crescer na atenção, no amor, na dedicação. Mas vamos ao acontecimento que desejava contar.

Estava eu à mesa com várias pessoas amigas e de família, quando uma médica nos disse: «Perguntei a uma paciente minha, mãe de vários filhos, de qual deles gostava mais. A mãe de família, simples e modesta, mas cheia de sabedoria e de experiência, respondeu: 'do filho que está doente e do que tarda em casa'». 
Seja ele qual for, mais novo ou mais velho, mais esperto ou menos, mais bonito ou mais feio, pouco importa: «ama o que está doente, seja ele qual for, e o que tarda em chegar a casa, porque não dorme sem o ouvir chegar». Que resposta maravilhosa e sábia. Que encanto! É assim o amor quando é verdadeiro.

A família, se é mesmo família, unida e com paz, espaço onde há carinho, diálogo, respeito, amor, é o hospital mais perto, pois todos se unem a tentar curar dores e feridas, sofrimentos e tempestades, situações difíceis. E é a escola mais perto, onde o amor faz viver e aprender a riqueza das relações justas, sinceras, delicadas, carinhosas.

Mas hoje damo-nos conta que há muitas famílias sem pão e sem amor, sem paz e sem diálogo, sem carinho e sem meios que ajudem a crescer na estima e na alegria. Há 'cancros familiares' gerados pelo adultério, pela falta de diálogo, pela falta de atenção e carinho de uns com os outros. 'Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão' afirma o adágio popular.

Sem emprego e sem ordenado justo, como pode haver paz e alegria, carinho e doação mútua? 
Sem respeito e delicadeza entre o pai e a mãe, como podem os filhos crescer no amor e no desejo de serem bons? 
Se os idosos da casa são colocados de lado e desprezados, como podem os jovens da família crescer na estima e no amor para com eles?

'Casa de pais, escola de filhos' afirma outro sábio provérbio popular. E todos constatamos que é mesmo assim. A família é o hospital e a escola mais perto. 
Um lar em harmonia é um dom precioso. O amor floresce como as flores e exala perfume.

Vamos esquecendo muitas vezes que família que não reza, não é 'igreja doméstica' viva, unida, em harmonia e dedicação. 
Se Deus está presente, tudo se renova e vivifica, há mais paz, mais amor, mais verdade. 
Há mais alegria, mais encanto, mais força para amar e servir, mais capacidade de diálogo e de perdão. 
O Deus que é Amor vai fazendo maravilhas no seio da família.
Dário Pedroso, s.j.

sábado, 25 de julho de 2015

Coração de mãe e pai sofre


Desde que tomamos a decisão de ter um filho a dor começa a marcar presença, de uma forma ou de outra, mesmo com tantas expectativas o medo se torna nosso parceiro diário.

Primeiro se está correndo bem a gravidez, o medo de algo errado acontecer, se o filho nascerá bem. São tantos os conflitos que não dá para imaginar que toda a gravidez é cor de rosa. Lembro-me de quando estava esperando o primeiro filho e liguei para minha ex-terapeuta contando a novidade, ela já me alertou para colocar os pés no chão, afinal seriam noites sem dormir, criança chorando, eu e o pai sem saber muito bem o que fazer e assim começaria uma nova jornada a três.

E mesmo com um parceiro calmo nesse novo caminho, como eu também sou, a angústia, a dor e o medo marcam presença. Com quem vou deixar, que escola vou escolher, se vão cuidar bem, e assim, inúmeras situações vão acontecendo e nós pais vamos nos adaptando e experimentando essa nova fase de vida permeada de novidades e descobertas.

Aí nosso filho vem da escola com uma mordida imensa na bochecha, vêm as febres que nos tiram várias noites de sono e que ficamos apreensivos. Assim vai correndo o tempo e aos poucos achamos que ficará cada dia mais tranquilo.

Mas essa tranquilidade claro que dura pouco, lembramos lá de trás quando tomamos a decisão de aumentar a família e percebemos que romantizamos demais.

Chegou a adolescência!

Uma nova fase, para alguns pais mais tranquila e para outros um momento de confronto, não somente com o novo ser que vai mudando a forma de ser e agir, mas também em relação ao que acreditamos ser o melhor para ele e nem sempre é. Os valores passados são confrontados, eles percebem e vivem com outros referenciais de vida, convivem com a família de amigos, se identificam com os grupos que estão inseridos.

E a sexualidade? Apesar de ser um momento natural como lidar com os impulsos que começam a apresentar? Será que sempre conseguirão seguir os conselhos em que são orientados?

Chega o momento da escolha da profissão ainda que não estejam certos de qual caminho seria o ideal, a pressão de alguns pais que não entendem que tem em casa ainda uma criança crescida, vira um imenso buraco na cabeça desses pequenos adultos. Medo de crescer, de voar, de assumir responsabilidades, de lidar com a sexualidade, primeiro beijo, primeira transa.

E aí nem vou me estender mais, pois os resultados são diversos, crescem e vão trabalhar fora (ou não, caso tenha criado um folgado), escolhem um parceiro de vida, muitas vezes bacana, outras vezes prevemos um desastre.

A questão é somente uma: precisamos estar muito conscientes de nossas escolhas, filho não é boneco para brincarmos de sermos pais, eles exigem muito de nós, é preciso muito amor, muita calma, muita responsabilidade e muita presença.

Não dá para fazer de conta, é preciso assumir que a partir que saem da barriga é nosso para sempre, as preocupações, a assistência e o colo devem estar disponíveis, sem data de validade.

O que posso dizer da minha experiência até o momento? Maravilhosa, com todos os medos, com a primeira mordida que chegou da escola, com braços e pés quebrados, com cirurgias necessárias, podemos dar conta, desde que saibamos identificar se estamos mesmo preparados para essa grande missão de sermos pais no sentido exato da palavra, junto com todas as situações que a partir de então surgirão.

E você, acha mesmo que pode dar conta?

LUCIANA KOTAKA

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Por que Deus não me responde?



Às vezes parece que Deus se torna mudo diante do nosso sofrimento; mas não é assim.

Alguém já disse que “Deus não fala, mas que tudo fala de Deus”. Isto é, Deus fala pela Revelação e pela vida, mas esta linguagem tem de ser decifrada. 
Seus silêncios parentes são sábios e nos obrigam a exercitar o ouvido da alma, e criar novas antenas e ouvidos interiores, para ouvir a sua voz.

Só podemos ouvir a voz de Deus se caminharmos na fé, sem desanimar, fazendo a Sua vontade diariamente e com fidelidade.
 
“O justo vive da fé”, diz São Paulo (Rm 1, 17);

 “Quem perseverar até o fim, será salvo”, acrescenta o Senhor (Mt 10, 22).

Deus não é indiferente diante dos acontecimentos deste mundo. Até o salmista tem a tentação de agir como os maus… mas depois entende a sua triste sorte:
“Por pouco meus pés tropeçavam; um nada, e meus passos deslizavam. 
Porque invejei os arrogantes, vendo a prosperidade dos ímpios. 
Para eles não existem tormentos, sua aparência é sadia e robusta; 
a fadiga dos mortais não os atinge, não são molestados como os outros…
Refleti para compreender, e que fadiga era esta aos meus olhos! 
Até que entrei nos santuários divinos: entendi o destino deles! 
De fato, tu os pões em ladeiras, tu os fazes cair em ruínas. 
Ei-los num instante reduzidos ao terror, deixam de existir, perecem por causa do pavor!… 
Sim, os que se afastam de Ti se perdem… 
Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem!”. (Sl 72, 2-5. 16-19.27s)

A Bíblia nos mostra que é exatamente nos momentos de maior luta, conflito, desespero e perplexidade que Deus prepara as suas ações mais belas.

A Páscoa cristã e a glória da Ressurreição de Jesus foram precedidas da cruel e dolorosa Paixão do Senhor, que deixou os Apóstolos atônitos e perdidos. 
Mas, na manhã do domingo, ficava claro que o “fracasso” do Mestre se transformara em inacreditável vitória sobre a morte.

Então, tudo se fez novo… Ele ressuscitou como o Kyrios, o Senhor da vida e da morte; a vida venceu a morte, as trevas foram dissipadas pela luz.

Deus já tinha prefigurado isto na história de Israel; quando da primeira Páscoa dos israelitas: estes se viram presos entre o Mar Vermelho e o exército do Faraó que os perseguia; não viam solução e muitos lamentaram e se desesperaram; mas Deus interveio de modo espetacular:

“O Senhor disse a Moisés: Por que clamas por mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar”. (Ex 14,9-16)

E o povo de Deus atravessou o mar a pé enxuto, enquanto os inimigos se afogaram. São os “paradoxos” da Providência Divina.

É no silêncio de Deus que o cristão aprende a crescer na fé e na confiança no Senhor. Não sejamos crianças na fé.

É preciso, então, não se deixar afundar na hora da tormenta, mas esperar com fé na Providência divina que não falha. No meio do fogo das tribulações, é preciso continuar a caminhar, ainda que gemendo e chorando, “como se visse o Invisível” (Hb 11, 27).

Este “avançar na fé” pode ser comparado a um complicado jogo de “quebra-cabeça”; no seu início não temos a menor ideia do quadro a compor, parece que o quebra-cabeça não tem solução, a charada é desafiadora, mas, devagar, com paciência, vamos juntando as peças…começa a surgir alguma coisa. Ao se combinar as peças começa a aparecer o quadro, e então, vai ficando cada vez mais fácil, até o fim.

O plano de Deus para nós é assim; os fatos da vida, isolados, parecem não ter sentido, como as peças misturadas do quebra-cabeça, mas, quando os vamos juntando na fé e analisando-os na esperança, vemos a sua mensagem. 
Às vezes é preciso olhar peça por peça, sem saber qual é a próxima que virá. Mas é preciso ir em frente, caminhar com perseverança.

A grande Edith Stein disse uma bela verdade: “Não sei para onde Deus me leva, mas sei que é Ele que me conduz”. Isto basta. 
Não podemos esperar que a mensagem esteja decifrada para começar a caminhar; assim não começaríamos nunca a viagem.

Nunca encontraremos um discurso de Deus para nós, pronto e claro, e nem um caminho nitidamente traçado; não, Deus nos conduz no “escuro da fé”, onde Ele vai nos falando durante o caminho, como fez com os discípulos de Emaús. 

E, se não caminharmos, não ouviremos a Sua voz.

Por que Ele age assim? Na sua sabedoria infinita Ele tem motivos para agir assim conosco; logo, cabe a nós não nos calarmos diante Dele, mas responder na fé e na oração incessante. “O justo vive da fé”, diz São Paulo (Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,38).

Mais do que a nossa vitória, Deus espera a nossa luta determinada, com fé e perseverança. 
Quem tem fé sabe que não existe destino, acaso cego ou fatalidade, mas Providência divina, cuidado de Deus que tudo criou e que tudo providencia para o nosso bem. Mesmo dos piores sofrimentos Deus sabe tirar coisas boas, especialmente para a salvação da pessoa. Esta é a nossa fé!

Na terra, a vara de Moisés se transformava em uma horrível serpente, mas nas mãos de Moisés era milagrosa. Com ela Moisés feriu a rocha e dela brotou água no pleno deserto; com ela abriu o mar Vermelho.

Com a feiura de nossas tribulações, Deus pode fender a rocha dura do nosso coração e fazer brotar a água da graça.
Ninguém conhece os caminhos da Providência divina, por onde Ele passa, o que quer com este golpe, o que está fazendo com esta aflição, morte, fracasso, desemprego…
Muitas Ordens religiosas foram provadas terrivelmente até se firmarem. Mas, porque os seus fundadores não desanimaram e não desistiram, a Igreja se tornou rica e santa por causa delas.

Prof. Felipe Aquino

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Olhando os outros



Gilberto de Nucci tem uma excelente imagem a respeito de nosso comportamento. Segundo ele, os homens caminham pela face da Terra em fila indiana, cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás.

Na sacola da frente, nós colocamos as nossas qualidades. Na sacola de trás, guardamos todos os nossos defeitos.

Por isso, durante a jornada pela vida, fixamos os olhos nas virtudes que possuímos, presas em nosso peito. Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente, nas costas do companheiro que está adiante, todos os defeitos que ele possui.

E nos julgamos melhores que ele - sem perceber que a pessoa andando atrás de nós, está pensando a mesma coisa a nosso respeito.

Eduque o seu olhar; olhe para cima!

Li uma mensagem que dizia o seguinte:


Se você colocar um falcão em um cercado de 1m², inteiramente aberto em cima, ele se tornará um prisioneiro, apesar de sua habilidade para o voo. 
A razão é que um falcão sempre começa seu voo com uma pequena corrida em terra. Sem espaço para correr, nem mesmo tentará voar e permanecerá um prisioneiro pelo resto da vida, nessa pequena cadeia sem teto.

O morcego, que é uma criatura notavelmente ágil no ar, não pode sair de um lugar nivelado. 
Se for colocado em um piso completamente plano, tudo o que ele conseguirá fazer será andar de forma confusa e dolorosa, procurando alguma ligeira elevação de onde possa se lançar ao voo.

Um zangão, se cair em um pote de vidro aberto em cima, ficará lá até morrer ou ser removido. 
Ele não vê a saída no alto, por isso persiste em tentar sair pelos lados, próximo ao fundo. 
Procurará uma maneira de sair onde não existe nenhuma, até que se destrua completamente de tanto se atirar contra as paredes do vidro.
Existem pessoas como o falcão, o morcego e o zangão: atiram-se obstinadamente contra os obstáculos, sem perceber que a saída está logo acima.

Se você está como um zangão, um morcego ou um falcão, cercado(a) de problemas por todos os lados, olhe para cima! E lá estará a saída:

Deus…

À distância de uma oração!

Quando você não enxergar mais uma saída, não fique inquieto se debatendo desesperado, ou desanimado de uma solução; e também não fique andando de um lado para outro, como um tonto. 

Não, olhe para cima. Entregue-se confiante nas mãos de Deus que é Pai. 
Ele sabe o que se passa com você, e sabe qual é a saída; mas você só a encontrará se olhar para Ele, se olhar para cima. 

Vá a Igreja, entre silencioso diante Dele no Sacrário, ponha ali em Suas Mãos o problema, derrame suas lágrimas se for preciso, mas Confie! 

“Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11,6). 
“O justo vive pela fé” (Rom1,17). 
Não se aflija, “Até os cabelos de vossa cabeça estão contados” (Mt 10,30).

Professor Felipe Aquino

domingo, 12 de julho de 2015

Carta ao coração

Estes são trechos de uma “Carta ao coração”, que me foi dada por Vania Williamsom:


“Meu coração: eu jamais te condenarei, te criticarei, ou terei vergonha de tuas palavras. 
Sei que és uma criança querida de Deus, e Ele te guarda no meio de uma luz radiante e amorosa”.
“Confio em ti, meu coração. Estou do teu lado, sempre pedirei bênçãos em minhas orações, sempre pedirei para que tu encontres a ajuda e o apoio que necessitas”.
“E te peço: confia em mim. Saiba que te amo, e que procuro dar-te toda a liberdade necessária para que continues batendo com alegria em meu peito. 
Farei tudo que estiver ao meu alcance, para que jamais te sintas incomodado com a minha presença a tua volta”.

Paulo Coelho

sábado, 20 de junho de 2015

O SOFRIMENTO PODE SER SINAL DE LIBERTAÇÃO

O sofrimento pode ser um valioso meio de autoconhecimento. Portanto, observe o que ele está tentando comunicar.


A magnifica borboleta apresenta em si todas as características latentes que posteriormente serão desenvolvidas para que ela viva uma nova realidade; aquela que sempre foi inerente a sua essência.

Assim como a transformação da lagarta em borboleta é um processo lento, profundo, delicado e doloroso, onde ela irá se esforçar para libertar-se da sua condição de lagarta, achamos que os processos de transformações pessoais necessários não são diferentes e que nunca irão acabar.

A vida não é estática e está em constante mudança, nunca permanecemos os mesmos, somos sempre devir, em processo de construção continua. Porém, muitas transformações, assim como a da lagarta, trazem em seu bojo a companhia do sofrimento…

A finalidade do sofrimento:

O sofrimento faz parte da condição humana, sendo as vicissitudes da vida companheiras inseparáveis de qualquer cultura, fase do desenvolvimento, condição socioeconômica, intelectual, geográfica, de gênero e época. O sofrimento esteve sempre presente no decorrer dos tempos, na nossa existência, fazendo parte de acontecimentos indesejáveis e dos reveses inesperados.

As tristezas e as dificuldades sempre se mesclaram com momentos de alegria e realizações no percurso das nossas vidas. Ninguém vive a plenitude de uma vida sem transformações e sofrimentos; e ele, muitas vezes, sorrateiro, chega de maneira inesperada, rói e corrói tudo o que parecia estar em perfeita ordem e harmonia. Chega na surdina, onde acreditávamos que tudo estava sob nosso pretensioso controle. Muitas coisas estão sob o controle de nossas ações e cabe a nós evitarmos o sofrimento; no entanto, para outras, não possuímos este controle, o que gera impotência e angústia.

Mas será que de fato nos preparamos para as grandes transformações da vida?

Na realidade, nascemos no sofrimento e este sempre nos acompanhou, assim como os momentos felizes. O sofrimento não é a unica forma de aprendizado, mas infelizmente sempre o relegamos pelo motivo obvio de que não é agradável sofrer. Por outro lado, não tivemos uma educação para lidar com o sofrimento. Os processos educacionais não nos ensinam metodologias eficazes de modo a explicitar sobre como retirar do sofrimento o sumo da sabedoria que as experiencias pouco felizes reportam.

Vivemos em uma cultura hedonista, dos prazeres fugazes, efêmeros e momentâneos. Devemos ser felizes o tempo todo, obrigatoriamente. Mas a lagarta em seu processo não estava feliz, ela estava enfrentando um desafio para uma nova realidade que lhe proporcionaria a liberdade. A lagarta “compreende o sofrimento”, pois “sabe” que o esforço e as dificuldades são os geradores da conquista de sua liberdade e autoconhecimento.

Sendo a vida um desfilar constante de transformações, neste baile de mascaras, percebemos e interpretamos a realidade de modo inteiramente pessoal. Muitas vezes, nos contentamos com uma realidade que não existe, repercutindo em um vazio existencial imenso. Não queremos sair de nossa zona de conforto. Não existe espaço para as grandes transformações, para o trabalho do luto, do choro, da tristeza e nem da dor, como se elas não existissem e não trouxessem sua mensagem.

Sendo a vida feita de (re) construções, de (re) avaliações, composta de alegrias, de perdas, de renascimentos e de renovações incontáveis,acredito que não estamos preparados devidamente para os revezes que porventura este cenário possa trazer.

Ter uma educação para o sofrimento não significa ser masoquista ou querer provocar o sofrimento. Significa que não podemos negar que momentos difíceis existem, que virão e que deverão ser “encarados” como desafios, de maneira inteligente e resiliente. Ter educação para o sofrimento não utiliza a metodologia do sofrer por sofrer, mas como meio de aprendizado e evolução. Além disto é ter também direito ao nosso espaço para elaborar a própria dor dentro do tempo que se faz necessário; é desenvolver a sensibilidade, a receptividade e a capacidade de compreensão e empatia para acolher também o sofrimento do outro.

Através do sofrimento bem vivenciado nos humanizamos e nos tornamos mais receptivos.

Mas, por que sofremos? Qual a sua finalidade e utilidade? Como podemos nos beneficiar com o sofrimento? Como lidar da melhor maneira possível?

A religião e a Filosofia tentam compreender os processos de perda, bem como explicá-los, cada uma a seu modo. Psicólogos, sociólogos, educadores, pensadores de todos os vieses apresentam a sua contribuição de acordo com seus valores e crenças. A ciência, por outro lado, também desenvolveu muitos recursos através de estudos e pesquisas e deseja encontrar todas as respostas para o sofrimento de modo a retirá-lo ou dirimi-lo.

É inquestionável que houve muita melhora na qualidade de vida e no bem-estar de modo geral, suprimindo muito o sofrimento do repertorio da condição humana, mas ainda temos muito a fazer e a conquistar neste campo.

Neste contexto, podemos concluir que o sofrimento é sempre resultado da ignorância, da falta de conhecimento e consciência. Em outras palavras, é a condição de ignorância e alienação que nos traz sofrimento. Neste caso, é necessária uma educação voltada para a nossa capacidade de compreensão do nosso mundo interno e externo e de autoconhecimento.

Se por um lado o sofrimento nos faz desenvolver a capacidade de compreensão, sensibilização e humanização, temos o dever de melhorarmos em todos os campos e áreas que possam favorecer um mundo melhor, pois quando nos reportamos a dor, consequentemente nos remetemos aos conceitos de transformação e libertação, bem como o que você percebe como tal. O que pode ser fonte de sofrimento pra você, pode não o ser para o outro.

"Sendo assim, é necessário intuirmos o que o sofrimento está tentando nos comunicar, a lição e o aprendizado que devemos internalizar. Sem este processo, a experiencia de dor perde o sentido e torna-se inócua, sem proveito. Aprenda e evolua com o sofrimento. Saiba que a maioria das vezes somos nós mesmos que nos auto-infligimos a dor".

PARA REFLETIR:

Refletir sobre a nossa postura na contribuição de algum sofrimento é o primeiro passo para o processo de aprendizado e libertação que a dor nos traz. Mas nunca se esqueça: Todas as nossas experiências apresentam o viés de nossas percepções; e acredite, com o sofrimento não é diferente. Sofrimento é o que você percebe como sofrimento. Mas de qualquer modo ele traz o sentido de libertação e autoconhecimento.



SORAYA RODRIGUES DE ARAGÃO

A VIDA É UMA VIAGEM

A VIDA É UMA VIAGEM QUE NÃO PERMITE EXCESSO DE BAGAGEM


É triste, mas é verdade. Muitas vezes a vida é como um filme que não queremos assistir. Muitas vezes não queremos aceitar que a nossa vida não é tudo aquilo que a gente sonhou. Mas ainda assim é a nossa vida e precisamos aprender a extrair o que há de melhor dela.

Depois que uma pessoa passa por uma perda terrível ou por sucessivas perdas medianas que a levam a um processo depressivo, em que a autoestima e a energia vital ficam reduzidas a pó, começa a pesar e a medir os valores que prioriza.

Durante o processo de reconstrução, lento e bem particular para cada pessoa, começamos a perceber o que realmente é importante para a nossa sanidade mental. O que realmente faz a vida valer a pena e ter sentido.

Vivemos cercados por pessoas, circunstâncias, compromissos sociais e de repente nada parece tão grande assim. Conforme os efeitos da depressão começam a diminuir, tudo ganha um gosto novo e começamos a jogar fora o que faz a mala pesar demais durante a nossa caminhada pelo mundo.

Quando nos perguntam o que é fundamental para nós, respondemos de forma mais ou menos similar a esta pergunta. Quando estamos superando um trauma e "trocamos" a pele da alma, já não conseguimos mentir para nós mesmos. E o que antigamente parecia urgente, não tem tanta pressa assim. O que parecia importante, talvez o seja para a sociedade ou para pessoas que amamos e não para nós mesmos.

Fazemos descobertas incríveis ao passarmos por uma depressão. Quando estamos tentando vir à tona, sentimos que algumas pessoas e atividades são capazes de nos animar e aí descobrimos o nosso essencial. O que me fez sorrir no meio desta tristeza toda? O que me fez sair da cama num dia em que me sentia no fundo do poço? O que me fez ir para a rua mesmo sem vontade alguma? Com quem eu quis me abrir? Quem me provocou uma risada? Qual atividade me fez esquecer o sofrimento mesmo que temporariamente?

Quando estamos bem, acumulamos uma série de preocupações supérfluas, assumimos compromissos que não queremos, investimos tempo, energia e dinheiro em coisas que não contribuem realmente para o nosso crescimento pessoal. Sem querer vivemos de acordo com um script social. O script destinado às pessoas do nosso gênero, da nossa classe social, da nossa profissão etc.

E passado um tempo, podemos perceber também que antes do trauma, antes da perda terrível, já estávamos um pouquinho deprimidos e que certas situações que nos pareciam normais contribuíram para aumentar a nossa ansiedade, a nossa angústia.

Alguém se recuperando de uma depressão é um sobrevivente. E como todo aquele que se livra de um grande desastre, cheio de estragos, aprende a se defender mais e melhor de tudo aquilo que pode machucá-lo. Vou mais além. Aprende que poucas coisas e pessoas realmente valem para nós nesta vida. Aprende que bagagem boa é bagagem pequena.
Não me refiro a experiências e conhecimentos. Me refiro a protocolos sociais, a hábitos fúteis, excesso de preocupação com aquilo que os outros pensam e dizem, pavor de envelhecer, mania de querer que tudo aconteça do jeito que sonhamos ou planejamos, se valorar pelo olhar do outro, achar que tem direito a felicidade porque é uma boa pessoa. Descobrimos que podemos ser uma boa pessoa, mas não precisamos ser perfeitos.

Às vezes pensamos que a nossa vida é como um thriller de cinema e que a qualquer momento, o filme vai começar. Na verdade, o thriller já era o filme e cabe a nós extrair o melhor dele, mesmo que tenhamos entrado na sala de projeção errada.


SÍLVIA MARQUES

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Que bom que existe o domingo!


Passos mais lentos... olhando um pouco mais longe. Sentindo gratidão! Que bom que existe o domingo! 
“E quando eu não sabia mais o que fazer, Deus sussurrou e disse: ‘confia em mim.’”

 A busca por soluções é intrínseca ao viver. De um lado para o outro, nos movimentamos e até nos agitamos. 
Mesmo não sabendo onde iremos chegar, vamos em frente. 
Viver é vencer etapas, alcançar metas, superar obstáculos. Contar somente com as próprias forças parece não ser o mais indicado. Em alguns momentos não se sabe mais o que fazer, nem o que pensar. Mesmo assim é preciso continuar respirando e acreditando numa possível saída. Por uns instantes, lá adiante, tudo se aquieta. 

Neste momento, Deus sussurra: ‘confia em mim.’ Uma força toma conta da existência. 
Uma luz expande seu brilho. 
Uma energia permite novos pensamentos. 
Algo se impõe: é preciso continuar. 

Quanto tempo perdido distante do amor de Deus. Muitos tentam caminhar sozinhos. Imaginam conquistar o mundo somente com as próprias forças. 
A fragilidade também interfere. Se somos portadores de uma grande fortaleza, carregamos igualmente deficiências. 

O certo é que Deus nunca deveria sair de cena. 
Confiar em Deus não pode ser a última opção, a tábua de salvação. Ter fé é abrir diante de si um leque de possibilidades. A fé não elimina as dificuldades e nem os sofrimentos. 

A espiritualidade é capaz de aumentar a própria resistência interior. 

Quem acredita em Deus continua caminhando, aguardando outros dias, novas chances. 

Deus não para de sussurrar em nosso ouvido. Aceita até nossas indiferenças. Se torna insistente pois sabe o quanto precisamos d’Ele. Chegou a hora de deixar de lado a teimosia. 

A confiança em Deus pode transformar o seu coração. Experimente o amor de Deus. A vida será totalmente diferente. Bênçãos! Paz e Bem! Santa Alegria. Abraço!

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Mãe, senta aqui, me ouve um pouco




Tá na hora de você dar uma sossegada.

Mãe, pára um pouco. Dois minutinhos só. Sei que a ideia de parar não existe para você, mas eu tô pedindo. Baixa a frequência, senta no sofá, alguém cuida de todo o resto, vai por mim.

Eu sei que não importa quantos anos passem, você tem a eterna sensação de que é responsável por tudo. Pela sua vida, pela minha, pela dos que nos cercam, pelo seu trabalho, pelo meu trabalho, por tudo- inclusive o que está absolutamente fora do seu alcance.

Sei que não adianta eu te dizer que sou adulto, sei que você nunca vai aceitar a ideia de que já não está mais no comando.

Pois é, mãe. Mas o fato é que me flagrei adulto. Não só por causa do trabalho, das responsabilidades e cobranças. Me percebi adulto num certo dia perdido no passado. Dia em que engoli o choro para que você não visse. O dia em que disse em que estava tudo bem quando o peito estava cheio de fantasmas. O dia em que esperei você virar as costas para poder desmoronar.

Por quê? Porque eu sabia que, de um jeito ou de outro, as coisas se ajeitariam. E não ia ser através das suas mãos. Então, por que te preocupar? Por que te angustiar mais do que você já se angustia por conta própria?

Mãe, eu parei de depender da sua barriga, parei de depender do seu peito, parei de depender das mamadeiras quentinhas, parei de depender da ajuda no banho, parei de depender da sua carona.

Mas você nunca parou de se preocupar. Talvez se preocupe ainda mais agora, porque sabe que o voo é cada vez mais alto.

Você se lembra das centenas de vezes em que eu gritei “EU QUERO A MINHA MÃE!” quando era criança? Na verdade eu não queria. Eu precisava. Precisava do seu colo, do seu beijo na testa, do seu cafuné, do seu cheiro. Precisava, porque sem você não havia chão.

Hoje eu não preciso, mãe. Você já me ensinou a amarrar os sapatos, andar olhando pra frente, levantar das quedas, limpar as lágrimas, rir de mim mesmo e seguir em frente. Mais do que me ensinar, você foi o exemplo vivo disso.

Sério mãe, o mundo gira sem que você o empurre. E eu me viro sem que você perca o sono. Porque chegamos num ponto da vida em que eu perco o sono ao te ver sem dormir. Essa dinâmica já não faz mais sentido.

O famoso “eu quero a minha mãe!” é agora. Agora eu quero você. Mas quero você tranquila, ouvindo minhas histórias, mexendo no meu cabelo, rindo comigo, opinando, discordando. Não de peito apertado. Não suspirando pelos cantos achando que eu não vou encontrar o caminho certo. Eu vou. Você me deu o melhor mapa.

Aceite meu presente desse ano: uma relação de amor e de parceria, não mais de dependência, nem prática, nem emocional. Tanto minha quanto sua.

Meu presente, na verdade, é quase um pedido. Essa noite, mãe, deite a cabeça no travesseiro sabendo que está tudo bem. Que mesmo quando minha vida estiver dura, você não precisa ficar com os olhos arregalados, olhando para o teto buscando saída. Isso é comigo.

Você construiu uma pessoa com o que havia de melhor em você. Deu o que tinha e o que não tinha para me fazer feliz e sólido. E eu estou aqui, consciente da minha sorte e da minha força.

Olhe por mim, peça por mim, orgulhe-se de mim. Deixe-me ser de novo a luz dos seus olhos, como fui quando era um bebê sorridente. Não me iludo, achando que você vai parar de se preocupar. Sei que é impossível. Mas deixe-me hoje ser eu quem te abraça e te diz baixinho: está tudo certo.

*

*

♥ Com um beijo de feliz dia das mães às mães de sangue, mães de coração, mães que estão do outro lado das nuvens (mas sempre por perto), pais que também são mães e às tantas madrastas que são o avesso dos contos de fadas, que cuidam e amam pessoinhas que decidiram abraçar como suas.

RUTH MANUS

A odisseia de dormir junto

Ô delícia.


Dormir junto. Definitivamente a melhor e a pior ideia que o ser humano já teve.

Melhor porque é um dos momentos de maior comunhão da vida. Há quem diga que dormir junto com alguém é um ato mais íntimo do que o próprio sexo. Eu não duvido. Partilhar nossas sagradas e escassas horas de sono com alguém é mesmo um ato de entrega, da mais profunda e sincera generosidade.

Por outro lado… Sério. Gente. Que ideia. Sério. Difícil. Muito difícil.

Tudo começa com o horário de ir deitar.

Às vezes um acaba cedendo ao sono do outro, por mais que esteja absolutamente disposto, animado e- o pior de tudo- falante. Deitam na cama. Um se ajeita no travesseiro, se cobre e fecha deliciosamente os olhos. Mas aí vem o Sem Sono e diz algo urgente do tipo “você viu que vai abrir um restaurante de comida indiana perto da casa da sua tia?”. O Com Sono tenta uma resposta do tipo “Ah é? Legal…”, enquanto se afunda um pouco mais no travesseiro. E o Sem Sono insiste “É, mas não sei se vai dar certo não porque os últimos dois restaurantes indianos que eu conheço acabaram fechando e…”. Pronto, tá na cara que não vai acabar bem. O Sem Sono acaba sem respostas, o Com Sono sem poder dormir.

Mas, por fim, o Sem Sono pára de falar e decide se ajeitar na cama. Um já está lá, paradinho, cochilando e o outro começa a procurar posição. Gira pra lá, gira pra cá, dá pirueta, parece um frango de padaria. Conforme ele gira, o que já cochila vai pulando por causa do balanço do colchão, quase como se estivessem numa cama elástica.

Mas pronto. Adormecem. Que bom. Até que um dos dois dá um daqueles bizarros trimiliques semi epiléticos e o outro quase enfarta de susto. Tudo bem. Passou. Dormem de novo.

De repente um deles acorda assustado com um barulho. Não sabe bem se é uma broca no vizinho, um leitão na varanda, um trator na rua ou o Godzilla na janela. Mas não é nada disso. É só aquela pessoinha amada tentando respirar. Inacreditável. A cada ronco até a estrutura do prédio treme. Uns 6,8 na escala de Richter. E é geralmente nessa hora que elas resolvem extravasar todo seu lado afetuoso, abraçando a outra pessoa bem pertinho só para roncar carinhosamente bem na orelha dela.

Superada (ou tolerada) esta dificuldade começam os problemas de termostato. Enquanto um transpira como se estivesse fazendo sauna no inferno, o outro puxa o edredom até o pescoço. E claro, o edredom é um só e acaba cobrindo também aquele coitado que está morrendo de calor, que acaba tentando escapulir uma perna e um braço para fora da cama. Nessas horas, ar condicionado e ventilador causam mais discórdia do que whatsapp de ex. E nas raríssimas vezes em que há harmonia de temperaturas, começa um tipo de cabo de guerra com a roupa de cama. Só sobrevivem os fortes.

Ainda tem aquelas maravilhas periféricas tipo um que baba no braço do outro, um que range o dente sem parar, um que solta frases non-sense durante a noite, um que levanta 5 vezes para fazer xixi, um que vai avançando no terreno alheio até quase jogar o outro no chão, o outro que bebe 6 litros de água durante a noite. Enfim, essas alegrias todas.

Mas os abraços noturnos compensam tudo. Especialmente quando um coloca o braço embaixo da orelha do outro, que começa a ficar quente e vermelha enquanto o braço formiga até o cotovelo travar de dor. No verão então, é uma maravilha. Você mal aguenta o contato com o lençol e recebe aqueles doces abraços de uma criatura cujo corpo está a 36 graus. Meu Jesus.

Para acordar, nada melhor do que um ter programado o despertador e na hora que toca ninguém saber o que está acontecendo. É o seu? É o meu? É a campainha? Até que um bate naquela porcaria e… Coloca na soneca. Dez minutos depois a porcaria toca de novo. E mais dez. E toca. Mais dez. Toca. Detalhe: são 6:40, sendo que o dono do despertador devia ter levantado às 6 e o outro coitado que já acordou 4 vezes só precisava levantar às 9.

Não é fácil.

Mas quando acaba toda essa saga, você olha para aquela pessoa na cama e acaba sorrindo. Não sabe bem por que, mas tem certeza de que aquilo tudo faz sentido: roncos, babas, trimiliques e tudo mais. Não tem jeito, aquela noite atrapalhada é mesmo boa. E por mais confortável que seja uma noite com a cama todo ao nosso dispor, sem disputas por espaço ou por lençol, fica faltando alguma coisa. Uma cama gostosa, inteira e cheia de travesseiros acaba se tornando uma cama vazia.

Coisas que só o amor explica.

RUTH MANUS

sábado, 28 de março de 2015

Outros ares... outros ritmos...

Bom Dia! Sábado: outros ares... outro ritmo...

Mas o coração é o mesmo: inquieto e esperançoso!

“Em frente ou então enfrente!” (Paola Gavazzi). 

A cada amanhecer é necessário reunir forças, multiplicar energias e renovar o ânimo para dar conta da vida. Tocar em frente não é uma imposição. É uma alternativa bem inteligente. O somatório de avanços poderá render muita satisfação. 

Nem todos estão contentes com a vida que levam. Alguns não fazem nada para alterar a rotina. 
Novos resultados implicam em novas posturas. Viver não é complicado. Mas é necessário prestar atenção na distância que existe entre o sonho e a realidade. 

Os sonhos embalam as buscas. A realidade vai dando o formato possível. Porém, tudo é muito dinâmico. Sem avançar ao menos um palmo, cada dia, é o suficiente para comprometer a caminhada toda. É preciso ir em frente. Se não for assim, você terá que enfrentar as consequências. 

Há uma longa distância entre ir em frente e enfrentar os resquícios advindos de algumas escolhas.
O mais fácil é adiar os enfrentamentos. 

Num primeiro momento é até confortável não enfrentar determinadas situações. Porém, as perdas podem resultar num somatório nada agradável. 

Uma postura mais proativa poderá redesenhar soluções não pensadas anteriormente. A vida sempre surpreende quem flexibiliza possibilidades. Mas nada substitui o ânimo e o vigor de ir em frente. 

Se você não for em frente os objetivos não serão alcançados e a vida desperdiçará aquele sabor do esforço e da persistência. 
Que haja muita inspiração e infinita força de vontade. 

Lamentações não qualificam a vida. 

Um dia será possível olhar para trás e afirmar: valeu a pena! Bênçãos! Paz e Bem! Santa Alegria! Abraço!

Frei Jaime Bettega

quarta-feira, 25 de março de 2015

SUA VIDA VAI MUDAR, SE PASSAR UM MÊS SEM RECLAMAR

Queixa vem do latim, de quassiare, de quassare, que significa golpear violentamente, quebrantar, e expressa uma dor, uma pena, o ressentimento, a inquietação…


Poucos de nós nos damos conta do quanto nos queixamos. De como, sobretudo depois de uma certa idade, reclamamos o tempo todo. Muitas vezes, nem pensamos no que estamos falando. Virou hábito transformar tudo em motivo de reclamação. Estou me referindo aqui àquelas queixas bobas, sem importância, que a gente teima em fazer. 

Uma amiga inglesa que conviveu bastante com brasileiros me disse uma vez que nós nos queixamos excessivamente. Pensando nisso resolvi resumir o artigo que acabo de ler no El País, sobre como deixar de reclamar pode tornar a nossa vida – e a de quem no ouve – melhor.

Para tornar a convivência mais saudável e agradável, dois amigos decidiram fazer um pacto inusitado, à primeira vista, mas de muito bom senso, se a gente pensa bem: resolveram ficar um mês inteiro sem se queixar. 
Sem lamentar esses pequenos acontecimento chatos que vão acontecendo com a gente – levanta-se mais tarde do que queria, se esquece de levar o guarda-chuva e se encharca, tem que engolir desaforo de um conhecido, o choro do bebê da vizinha, enfim… Para ter certeza que passariam pela prova, combinaram de levar o plano adiante no mês de fevereiro, por ser o mais curto do ano.


A primeira experiência foi em 2010. “Como depois nos sentimos mais felizes, decidimos repetir no ano seguinte”, conta um deles, Thierry Blancpain. A coisa evoluiu e, no ano passado, os dois convidaram amigos para entrar no jogo. 
Diante dos resultados positivos, em fevereiro deste ano, abriram para todo mundo. Através de redes sociais, como facebook e twitter, convidaram quem quisesse participar do movimento complaint Restraint February – algo como fevereiro com menos queixas. Esperavam ter 50 inscrições. Receberam 1.750.

Thierry Blancpain explica que os benefícios de se conter para não se queixar à toa variam . Por um lado, aumenta “a sensação de alegria” e diminui a de “estar cansado”. Por outro, adquirimos “conhecimentos sobre a forma como nos comunicamos e como se comunicam as pessoas do nosso entorno”. 
Durante esse mês, a gente se dá conta de que certos conhecidos são muito negativos e fazem a gente mais infeliz. “Pode soar duro, mas acho que não é razoável passar tempo com uma pessoa com a qual nos sentimos pior depois”, diz ele.

Os dois se surpreenderam a com o sucesso da experiência nas redes sociais: algumas pessoas disseram que tinham tornado suas vidas melhores, outras comentaram que se deram conta de que havia pessoas muito negativas em seu entorno. 
Deu tão certo que os dois já estão pensando na campanha de fevereiro do ano que vem. Querem atrair mais gente e, para isso, vão preparar material de divulgação contando os detalhes da experiência, para ajudar a quem quiser aderir ao movimento.

Acho que vão ter mais sucesso quando não se limitarem a se queixar menos apenas no mês de fevereiro. Por que não lançar um movimento desses incluindo os 12 meses do ano? Tem alguma coisa mais desagradável do que alguém se queixando o tempo todo?

Maya Santana

http://www.50emais.com.br/artigos/sua-vida-vai-mudar-se-passar-um-mes-sem-reclamar/

segunda-feira, 9 de março de 2015

Lugares sombrios da alma...


Às vezes me pergunto por que é tão difícil aprender as lições da vida. Na escola, fui sempre boa aluna e para aprender um conteúdo de determinada matéria, só tinha que estudá-lo com eficiência. Mas, no meu cotidiano, todos os dias estou faltando com lição que já deveria ter aprendido. E continuo minhas perguntas: 
Quantas vezes terei que repetir os mesmos tombos e as mesmas escorregadas? É claro que com o passar dos anos, tudo isso fica mais preocupante, porque a vida vai se escoando... 
E se não der tempo de aprender?

Estou falando é sobre essa pessoa do lado de dentro que resmunga, fala palavras que não deveriam ser ditas, responde reativamente, sem pensar que pode estar magoando. 
Há palavras que acariciam e outras que causam feridas profundas. E lá vou eu, de novo, ser reprovada na prova.

Quantos habitantes carrego dentro de mim e quantos deles eu não reconheço como parte do meu ser? O que acontece é que cada cara nova que aparece, me deixa confusa, pois tenho que buscar força para suportar as consequências e coragem moral para fazer o que preciso.

Um professor, mestre amigo, me disse um dia, quando eu lhe contava mais uma de minhas escorregadas: É assim mesmo! 
Todos os dias caímos e quase sempre no mesmo buraco. 
Temos que levantar, continuar a caminhada, não olhar para trás e fazer a aprendizagem. 

Mas e a culpa e o arrependimento? perguntei. Isso é como se estivéssemos com um grande pássaro negro sentado nos nossos ombros, continuou me explicando o professor. 
E se não nos livramos dele, nossa caminhada não acontece. Ficamos parados, estáticos, alimentando-nos de lixo emocional.

Agradeci ao professor que terminou sua fala citando um poeta latino, chamado Terêncio:”Sou humano e nada que é humano me é estranho”.

Tenho concluído, após cada tombo, que ser humano significa saber que andamos por lugares sombrios dentro de nós, muitas vezes irreconhecíveis. 
Quando faço uma escolha, por mais inconsciente que ela tenha sido, eu não tenho outro caminho a não ser aceitar a responsabilidade e as consequências dos meus atos e das minhas palavras. 
A consciência envolve o reconhecimento do dano causado a mim mesma, ou ao outro.

Então, lá vou eu... Compaixão deve ser a palavra que vai me guiar. 
Volto a estudar a mesma lição, reconheço minhas limitações e caminho para não ficar, outra vez, de recuperação na escola da vida. Será?

Jane Mahalem, escritora
Nossas Letras
 

Amor

“A beleza das pessoas está na capacidade de amar e encontrar no próximo a continuidade de seu ser.” 

Alguém afirmou que a vida é um somatório de passagens. Uma etapa se despede para a outra ser iniciada. 

A cada ano a idade vai construindo passagens. Seria interessante internalizar que tudo passa. Uma nova experiência: ou se acha que não se deveria passar ou que está demorando para passar. 

Se existe ainda algum segredo, este tem uma denominação inspiradora: amar. 

O amor não passa. Pelo contrário, constrói passagens. 

A beleza das pessoas está para além da aparência e do físico. 
A capacidade de amar é o maior critério de estética. 

Quando uma pessoa ama, tudo nela se harmoniza e se adequa ( ajusta). 
Quem ama nunca se aquieta. Está sempre em movimento. Pois, é próprio do amor construir saídas: sair de si para ir ao encontro do outro. 

Quem ama verdadeiramente descobre no outro a continuidade de seu ser. 
Quem ama permanece vivo na existência do outro. 

Enquanto o egoísmo leva ao fechamento, o amor provoca libertação. A liberdade é a expressão mais saliente da expansividade do amor. 

Continuar vivo nos outros não é uma ambição. É a normalidade do amor. 

Acontece que o egoísmo tem recebido uma certa maquiagem de amor. 

Nem todos sabem distinguir amor de egoísmo. 
A bondade parece ser o braço visível do amor. Onde está a bondade, o amor se faz construção. 

É simplesmente maravilhosa a vida de quem sai de si e se prolonga na vida dos outros, exercitando a caridade. 
Que a estética alcance a profundidade: lá onde o amor se faz essência!


Frei Jaime Bettega 

sábado, 7 de março de 2015

Dia da Mulher. Eis o porquê


Provavelmente, o filósofo romano Sêneca quando disse que “uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas”, pretendeu referir-se inclusive ao interior infinito da mulher.

Maravilhosas realistas, as mulheres fazem o que têm que fazer, enfrentam monstros que fazem correr os homens e se doam, sôfrega e absolutamente àqueles a quem amam. Frágeis? Na força física, talvez. A mais infame das forças. 
Se fossem também fortes nesse sentido, isso seria uma injustiça conosco. O que nos restaria? 
Em todo o excedente elas superam-nos, homens, cruelmente expondo toda a fragilidade que incondicionalmente negamos. 
Enquanto isso, nossas heroínas, assumindo suas próprias poucas fraquezas, transformam-nas, assim, em energia pura trabalhando a seu favor; se armam com suas próprias fraquezas. 
São mestras em subordinar a truculência ao sentimento. 
Há nelas um superávit das virtudes que nos faltam.

Deus, ao criar a mulher, equipou-a com tudo o que há de melhor para se instalar num ser humano. Seus olhos falam quando ela sorri, mas principalmente quando choram. 
Há em suas lágrimas muito mais significados do que mil palavras. 
O ventre muda-lhe as formas, dando à mulher mais graça enquanto ali dentro, no mundo bom, são preparadas duas novas vidas: a de um filho e a de um urso. Mexa com seu filho e conhecerá o urso.

Seus braços pequenos são grandes o suficiente para envolver seus amores por toda uma vida. Até o último dos seus dias, seus braços abraçarão. 

Louvadas sejam as mulheres! Louvado seja Deus, por tê-las criado tão perfeitas para o mundo, ainda que o mundo nem sempre as trate como merecem. 
Esqueça a procriação e responda à pergunta: o que faríamos sem elas?

Benditas sejam vocês, mulheres, que tornam o mundo viável à vida e fazem a vida valer a pena ser vivida.

Carlos Alberto de Oliveira 





terça-feira, 3 de março de 2015

Reflexão

"Descarte: coisas que você não usa, sentimentos que não fazem bem, preocupações que pesam, medos que paralisam.”


São poucos os que não são tentados pelo desejo de acumular. 
É quase natural o querer possuir. Até o desnecessário é guardado com o pretexto que poderá ser útil, um dia. Assim como algumas coisas devem ser retidas, muitas não deveriam ocupar espaço. 

O interessante é que além das coisas materiais, guarda-se sentimentos e acontecimentos que não plenificam a vida. 

Porém, chega um momento em que é preciso avaliar e desfazer-se. 
Alguns adiam, escondendo-se atrás de desculpas. 

Como faz bem libertar-se do que pesa e só ocupa espaço. Além do mais, outros poderão usufruir. 

Quantos estariam precisando do que está guardado em gavetas e armários! 
No campo material, com um pouco de insistência, a limpeza acontece. 

O mais difícil e exigente parece residir no campo dos sentimentos. Não são poucos os que vivem de forma pesada. 
Recolhem mágoas, colecionam ressentimentos, permitem-se odiar. 
Deixam a amargura estampar o semblante, esquecem-se de sorrir. 
Com os passar dos dias, vão se distanciando da felicidade. 
Como faz bem descartar alguns sentimentos, afastar o excesso de preocupações, mandar para longe os medos, que sugam as energias. 

Viver de forma leve e simples supõe determinação. 
Imersos num mundo que direciona e influencia, a todo instante é necessário resgatar as metas, redesenhar os sonhos e reunir as melhores energias. 

Ocupados excessivamente com o material, corre-se o risco de perder a melhor parte da vida. E o tempo não volta atrás. 
Então, o que tem que ser feito já está agendado: hoje. 

Bênçãos! Paz e Bem! Santa Alegria! Abraços!



Frei Jaime Bettega 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Da desimportância das pequenas coisas da vida


Sempre ouvi sermões sobre a importância de valorizar as pequenas coisas da vida. Acontece que, adulto, percebi que as valorizei demais – e fui soterrado por miudezas.

Sempre ouvi – e li – sermões sobre a importância de valorizar as pequenas coisas da vida. Os pequenos momentos, as pequenas alegrias. Inspirações.

Detalhes, miudezas.

Quando o meu pai morreu, pensei em todos os clichês sobre a morte (e espantado concluí que eram terrivelmente verdadeiros) e enfim percebi que não era a negligência a esses pequenos momentos que me emurchecia. Não o descaso com as simplicidades do dia a dia.

Era rigorosamente o contrário.

Subitamente, no meio de uma travessia, durante um trauma, no limiar da vida, você refaz a medida de todas as coisas. O metro de todas as batalhas perdidas (confessemos: nenhuma batalha é vencida). E no metro de todas as coisas vê a pequenez dos tantos esforços a causas tão pequenas.

Quase toda a minha vida não admitia atrasos a compromissos, quaisquer que fossem os compromissos. Uma dessas pequenas coisas da vida, que me ensinaram a valorizar tanto quanto um abraço em uma pessoa querida. Alegrava-me com nascimentos, chegadas, conquistas; entristecia-me com mortes, violências, partidas. Invariavelmente, contudo, estava na hora exata no escritório, despachando as ordens do dia. Fui sozinho quando deveria ter ido junto, deixei de passar mais tempo com quem amava para não modificar minha agenda, submeti-me a empregos maçantes, dias maçantes, encontros maçantes com pessoas desinteressantes porque, de alguma maneira, era necessário fazê-lo.

Às vezes, por delicadeza. Às vezes cortesia.

Os pequenos momentos da vida são esses, e ocupam vida demais. Ser rígido no trabalho, pontual; cortês; exigir-se demais, impor-se um sarrafo inutilmente elevado para objetivos os mais rasteiros: um pouco mais de dinheiro, um pouco mais de atenção, um pouco mais de prestígio, um pouco mais de desejo.

Todas essas pequenas coisas.

Não é preciso valorizar as pequenas coisas da vida, tangíveis ou não, pois, em sua multidão de pequenezas, já nos soterram dia a dia.

Preciso é enxergar as coisas grandes, muito mais do que grandes, as coisas que ficarão.

Renato Essenfelder



sábado, 21 de fevereiro de 2015

Decepção



Bom dia! Disfarçando o cansaço, apostando nos motivos que fazem viver...

“Quando há uma grande decepção, não sabemos se esse é o fim da história. Pode ser apenas o começo de uma grande aventura.” (Pema Chödrön).


Qual é o tamanho da decepção? Ela não tem tamanho. O que pode ter tamanho é a intensidade de amor dedicado. Interessante como a decepção é dolorida. Porém, antes da dor, estava um grande sentimento de amor, de confiança e cumplicidade.

Só tem dor porque houve amor. E viver sem amar não dá em nada. A vida, cedo ou tarde, será ‘cobrada’ pelo amor. Não querer experimentar o sofrimento é o mesmo que não querer amar. Impossível amar sem correr riscos.

Pode não dar certo. A decepção poderá invadir o espaço existencial. Mas por causa do amor, tudo vale a pena. E a se a decepção chegar, é possível refazer-se e continuar abrindo novos caminhos. Se algo terminou, pode-se apostar em algo que está por iniciar. O que não convém é ficar remoendo o que não tem volta.

Quanta gente que estaciona na tristeza. Energias desperdiçadas. Céu sem estrelas. O bom senso acena para a continuidade da vida. Voltar à normalidade é uma opção com múltiplas possibilidades. O mundo não termina simplesmente pela proximidade de uma decepção. Pode estremecer, mas ressurgirá vigoroso e encantador. Essa é a vida que, um dia, cada qual recebeu como um grande presente.

E por ser assim, vale a pena. Aconteceu tal coisa? Não é o fim da história.

Tem tudo para ser o começo de uma grande aventura. Bênçãos! Paz e Bem! Santa Alegria! Abraços!




Frei Jaime Bettega OFM

Minha vida

Oliver Sacks diante da morte

Traduzimos na íntegra o texto do neurocientista para o The New York Times sobre seus últimos meses de vida após descobrir um câncer terminal



Um mês atrás, parecia que eu gozava de boa saúde, poderia se considerar até mesmo excelente. Aos 81 anos de idade, ainda nado 1500 metros por dia. Mas minha boa fortuna já havia se esgotado – algumas semanas atrás fiquei ciente de que tenho múltiplas metástases no fígado. Nove anos atrás descobrimos que eu tinha um raro tumor no olho, um melanoma ocular. Ainda que a radiação e o uso de lasers para remover o tumor me tenha deixado cego daquele olho, apenas em casos muito raros tumores deste tipo fazem metástase. Ainda assim, estou entre os 2% que não têm sorte.

Sinto gratidão pelos nove anos de boa saúde e produtividade desde o primeiro diagnóstico, mas agora me deparo com a morte. O câncer ocupa um terço de meu fígado, e embora seu avanço possa ser desacelerado, não há como parar esse tipo particular de câncer.



É só minha a decisão de como viver os meses que me restam. Tenho que viver da forma mais rica, profunda e produtiva que conseguir. E nisso me encorajo com as palavras de um de meus filósofos favoritos, David Hume, que, ao descobrir aos 65 anos de idade que uma doença o levaria à morte, escreveu uma curta autobiografia num único dia de abril de 1776. A ela ele deu o título de “Minha vida.”


“Neste momento me deparo com uma dissolução muito rápida,” escreveu ele. “De minha condição, sofro muito pouco com dor, e o mais estranho é que, não obstante a grande derrocada de minha compleição, nunca cheguei a sofrer um momento sequer de esmorecimento do humor. Mantenho o mesmo ardor de sempre pelo estudo, e a mesma alegria na companhia dos outros.”

Tenho sorte de passar dos 80, e os 15 anos que superaram as seis décadas e cinco anos de Hume me foram igualmente plenos de trabalho e amor. Nesse período publiquei cinco livros e completei uma autobiografia (um bocado maior do que as poucas páginas de Hume) a ser publicada nessa primavera; tenho vários outros livros quase prontos.

Hume continuou, “Sou ... um homem de disposições brandas, em comando do meu próprio temperamento, de humor aberto, social e alegre, dado ao apego, mas pouco suscetível à inimizade, e de grande moderação em todas minhas paixões.”

Nisso não sou como Hume. Embora eu tenha vivido relacionamentos amorosos e amizades, e não tenha inimigos verdadeiros, não posso dizer (nem ninguém que me conhece diria) que sou um homem de disposição branda. Pelo contrário, sou um homem de disposição veemente, de entusiasmos violentos, e extremamente desprovido de moderação com relação a todas as minhas paixões.


Ainda assim, uma frase do ensaio de Hume me é marcante como especialmente verdadeira no meu caso: “É difícil”, escreveu ele, “alguém ter mais desapego pela vida do que neste momento.”Ao longo dos últimos dias, tenho sido capaz de ver minha vida como se de uma grande altitude, como uma espécie de paisagem distante, e com um sentido aprofundado da conexão entre todas as partes. E isso não significa que minha vida acabou.


Pelo contrário, me sinto intensamente vivo, e quero e espero que no tempo que me sobra que eu aprofunde minhas amizades, diga adeus para aqueles que amo, escreva mais, viaje se tiver a força, e alcance novos níveis de entendimento e discernimento.


Isso demandará audácia, clareza e conversas diretas; tentar acertar minhas contas com o mundo. Mas haverá tempo, também, para alguma diversão (e até mesmo para alguma bobeira, sem dúvida).


Repentinamente me sinto possuidor de um foco muito claro, e de perspectiva. Não há mais tempo para nada que não seja essencial. Preciso focar em mim mesmo, no meu trabalho e nos meus amigos. Não vou mais assistir o jornal na TV todas as noites. Não vou mais prestar atenção para política ou para argumentos sobre aquecimento global.


Não se trata de indiferença, mas de desapego – ainda me importo muito com o Oriente Médio, com o aquecimento global, com o crescimento da desigualdade, mas estas coisas não estão mais na minha alçada; pertencem ao futuro. Regozijo-me ao encontrar jovens capazes – até mesmo aqueles que fizeram minhas biópsias e diagnosticaram minhas metástases. Sinto que o futuro está em boas mãos.


Cada vez estou mais consciente, nos últimos 10 anos mais ou menos, das mortes de meus contemporâneos. A minha geração está de saída, e senti cada morte como uma ruptura, como se parte de mim se rasgasse. Não haverá ninguém como nós quando nos formos, mas na verdade não há ninguém que seja como outro alguém, nunca houve. Quando as pessoas morrem, são insubstituíveis. Deixam buracos que não podem ser preenchidos, pois é o destino – o destino genético e neural – de cada ser humano ser um indivíduo único, encontrar seu próprio caminho, viver sua própria vida, e morrer sua própria morte.


Não posso fingir que não tenho medo. Mas meu sentimento predominante é a gratidão. Amei e fui amado; ofereci muito, e recebi algo em troca; li, viajei, pensei e escrevi. Comuniquei-me com o mundo com a comunicação especial dos escritores e leitores.


Acima de tudo, tenho sido um ser senciente, um animal pensante, nesse belo planeta, e isso por si só foi um enorme privilégio, e uma aventura.

—Oliver Sacks

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Faça de seu caminho um espelho de si mesmo


A natureza segue suas próprias regras: desta maneira, você tem que estar preparado para súbitas mudanças do outono, o gelo escorregadio no inverno, as tentações das flores na primavera, a sede e as chuvas de verão. 
Em cada uma destas estações, aproveite o que há de melhor, e não reclame das suas características.

Faça do seu caminho um espelho de si mesmo: não se deixe de maneira nenhuma influenciar pela maneira como os outros cuidam de seus caminhos. 
Você tem sua alma para escutar, e os pássaros para contar o que sua alma está dizendo. 
Que suas histórias sejam belas e agradem tudo que está a sua volta. 
Sobretudo, que as histórias que sua alma conta durante a jornada sejam refletidas em cada segundo de percurso.

Ame seu caminho: sem isso, nada faz sentido.

Paulo Coelho