domingo, 31 de março de 2013

Sentindo sozinha

Uma mulher entra no cinema, sozinha. Acomoda-se na última fila. Desliga o celular e espera o início do filme. Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e se acomoda na quinta fila, sozinha também. O filme começa.

Charada: qual das duas está mais sozinha?

Só uma delas está realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afetos. Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa situação idêntica a da outra mulher. Ela tem uma família, ela tem alguém, ela tem um álibi.

Muitas mulheres já viveram isso – e homens também. Você viaja sozinha, almoça sozinha em restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento – há alguém a sua espera em casa. Esta retaguarda alivia a sensação de solidão. Você está sozinha, não é sozinha.

Então de repente você perde seu amor e sua sensação de solidão muda completamente. Você pode continuar fazendo tudo o que fazia antes – sozinha – mas agora a solidão pesará como nunca pesou. Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.

Isso não é nenhuma raridade, acontece às pencas. Nossa percepção de solidão infelizmente ainda depende do nosso status social. Se você tem alguém, você encara a vida sem preconceitos, você expõe-se sem se preocupar com o que pensam os outros, você lida com sua solidão com maturidade e bom humor. 
No entanto, se você carrega o estigma de solitária, sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo fácil de levar, como uma bolsa. 
Ela será uma cruz de chumbo. É como se todos pudessem enxergar as ausências que você carrega, como se todos apontassem em sua direção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! 
Por que ninguém aponta para a outra, que está igualmente sozinha?

Porque ninguém está, de fato, apontando para nenhuma das duas. Quem aponta somos nós mesmos, para nosso próprio umbigo. 
Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos. 
Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos. Relaxe. 
A solidão é invisível. 
Só é percebida por dentro.

Martha Medeiros

O inacabado que há em mim

Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina. 
Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. 
O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo,

O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. 
O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. 
Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.

Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. 
Os encontros são muitos; as pessoas também. 
As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.
Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.
Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências futuras. 
Viver para sorver os novos rios que virão.
Eu sou inacabado. Preciso continuar.
Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. 
A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. 
Um dia sou multidão; no outro sou solidão. 
Não quero ser multidão todo dia. 
Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só. 
Eu sou assim. Sem culpas.

Padre Fabio de Melo

sábado, 30 de março de 2013

Sexta-feira Santa

Quisera eu ser Pedro que Te negou três vezes, mas pobre de mim pecador, nego-Te mais de três vezes por dia!

Quisera eu ser Simão de Cirene que Te ajudou a levar a Cruz, mas pobre de mim pecador, até a minha cruz por vezes me recuso a levar.

Quisera eu ser Verônica, para Te limpar o rosto, mas pobre de mim pecador, vejo-Te tantas vezes na rua naqueles que nada têm, e volto a cara para o lado.
Quisera eu ser João, abraçado aos pés da Cruz, mas pobre de mim pecador, que tanto me queixo dos sofrimentos e provações.

Quisera eu ser ao menos o Centurião que Te reconheceu Filho de Deus, mas pobre de mim pecador, em cada pecado em que caio, rejeito a tua divina vontade.

Mas não, nada sou, nem sequer o bom ladrão que Te defendeu naquela hora, pois tantas vezes ouço falar mal de Ti e nada digo, nada faço.

Prostrado no chão, a cabeça por terra, não ouso levantar os olhos para a Cruz, mas espero confiadamente a tua misericórdia e a vida nova que de Ti vai brotar.
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 29 de março de 2013

Senão...

Nós, os velhos - assim considerados principalmente do ponto de vista de filhos, netos e alunos - quando crianças, ouvíamos ordens obedecidas cegamente, senão...

À mesa, na escola, no cotidiano, na relação com amigos e colegas éramos estimulados a acolher e acatar ordens, algumas vezes absurdas, inquestionáveis quase sempre, que vinham pontuadas por ‘senão...’, advertência dita (ou não dita) em tom ameaçador de advertência, que sugeria muitas alternativas, algumas nem um pouco agradáveis.

Bastava sentar à mesa, já começava a arenga: menina, não arraste a cadeira!
Menina repita quantas vezes quiser, mas não abarrote seu prato! 
Menina não mastigue com a boca aberta! 
Menina não fale com a boca cheia! 
Meninos não discutam durante a refeição! Isso não é assunto para este momento (quando se falava de política e doenças). 
Menina, senta direito! 
Menina, volte para a mesa: não saia enquanto alguém estiver comendo! 
Menina, agora não é hora de falar ao telefone, nem de ver televisão: desligue isso! 
Meninos, se vocês discutirem novamente, irão para seus quartos, sem terminar de comer! (Importante lembrar que o pai era Palmeiras, um irmão são paulino, dois irmãos corintianos, a mãe nada e a irmã idem). Senão...

Para irmos à casa de alguém – quando convidados, claro – tinha decálogo: 
1. Pedir licença para entrar. 
2. Cumprimentar os donos da casa e demais pessoas que estiverem no local. 
3. Não pedir algo que não lhe tenha sido oferecido (especificamente era para meu irmão guloso cujos olhos saltavam quando via na casa dos outros, guloseima rara em casa, como chocolate...). 
4. Quando oferecido e aceito algum paparico para comer, jamais pedir bis. 
5. Nunca abrir a porta da geladeira alheia. 
6. Não entrar nos quartos, muito menos abrir gavetas. 
7. Se precisar usar o banheiro, peça licença para fazê-lo, use e não esqueça da descarga. (E só o use para o número um, segure o número dois, até não aguentar mais.). 
8. Não chupe o nariz. 
9. Diga ‘Saúde!’ se alguém espirrar. 
10. Quando vier embora, despeça-se dos donos da casa, agradeça. Senão...

As regras de convivência social eram estritas e rigorosas. 
Não responda aos mais velhos. 
Não entre numa casa sem ser convidado. 
Jamais pergunte a idade de alguém. 
Respeite as pessoas com as quais convive: chamar alguém de senhor ou senhora não é garantia de respeito. Respeito é reconhecer a existência do próximo, estabelecer limites e permanecer dentro deles. 
Não gaste mais do que tem e, se não tem, não tome emprestado. Senão... 
Mandavam-nos repetir à exaustão: Obrigado!, Dá licença?, Por favor..., Desculpa!...

Na escola, dançávamos miudinho. 
Professor tem sempre razão. 
Professor completa aquilo que os pais devem dar aos filhos. 
Jamais seja indelicado com seu professor. 
Nada de intimidade com seu professor: fique atento à hierarquia! 
Seu professor ficou bravo com você? Abaixe a cabeça e se cale! 
Se eu souber que você na escola respondeu com má-criação quem quer que seja ... (meus pais queriam dizer do funcionário mais simples ao diretor)... você já sabe! (Sim, eu já sabia: bons tapas, puxões de orelha, castigos, impedimentos etc). 

Mudaram os tempos, desaprendemos ou perdemos as rédeas no conduzir das novas gerações?

Lúcia Helena Brigagão (do Jornal Comércio da Franca)

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quinta-feira, 28 de março de 2013

Amar, uma atitude que gera bons efeitos

Que hoje possamos refletir bastante sobre o quanto nós realmente amamos as pessoas que dizemos amar e sobre o quanto nós podemos amar as que dizemos não gostar. 
Jesus amou verdadeiramente cada um dos seus discípulos, Ele não fez distinção entre o que amou e o que traiu ou entre o que o seguiu e o que o negou. 
Talvez muitas pessoas estejam pensando: "Mas esse é um amor divino, um amor incondicional". 
Não discordo de forma alguma deste pensamento; amar pessoas que nos fazem bem nem sempre é tão simples. 
Mas, muito mais difícil, e às vezes quase impossível, é amar pessoas que nos apunhalam pelas costas, que nos traem e que nos prejudicam! 
Pois bem, Jesus amou, verdadeiramente, aquele que o entregou à morte de cruz; e este amor ficou bem mais claro com sua morte. 
O sangue de Jesus não foi para purificar apenas as almas dos que o amavam, mas também das próprias pessoas que o crucificaram.

Uma vez, li em um livro de Augusto Cury, uma forma diferente, do que eu imaginava ser o ato de amar o inimigo. 
Fica mais fácil entender, se pensarmos que esse amar é uma atitude, não um sentimento. 
É difícil ter um sentimento de amor por alguém que te faz mal, mas agir com amor é bem mais simples. 
Não "precisamos" sentir amor por todas as pessoas, mas devemos agir com amor com todas elas, as que nos fazem mal, as que não conhecemos e também as que nos fazem bem. 
Por isso, Jesus assumiu uma postura humildade e de amor, diante das pessoas que "poderiam ser consideradas inferiores" já que o chamavam Mestre e Senhor. 
O amor não faz hierarquias; a atitude que Jesus teve, nos mostra que devemos servir e amar a qualquer pessoa, seja ela mais rica ou mais pobre que nós.

Jesus deixa, assim, um exemplo a ser seguido, de humildade e de amor. Aquele que ama a Deus e ao próximo, já está banhado por Jesus assim como os discípulos, e está purificado.

Manuele Jardim Pimentel

domingo, 24 de março de 2013

É a vida que a gente precisa reaprender a amar...

Bom é perceber o que a vida não consegue esconder
Quando a gente menos espera ela nos revela
O amor, o amigo, a paz, a melodia
A surpresa, a dor, a superação.

Jeito bom de viver é se apaixonar pela vida
Respeitar suas idas e deixar cicatrizar as feridas
Saborear os encontros, esquecer os desencontros
Agradecer o hoje e torcer com fé pelo amanhã.

Se ela vier pesada e angustiante
Dobrada de tristeza e desilusão
Que a escolha seja acreditar
Porque é a vida que gente precisa reaprender a amar.

Mariane Braga

sábado, 23 de março de 2013

A arte de ser alguém

A solidão e a invisibilidade do ser caminham de mãos dadas. Sozinho é aquele que não aparece para os outros, que tem medo até de se olhar no espelho porque a própria imagem aparece como uma companhia inexistente.

Há pessoas que passam a existência em busca de aprovação, sem realmente estar nessa busca e sentem-se sempre como uma pálida cor no quadro da vida.

Elas querem ser vistas, amadas, apreciadas, mas não saem do lugar, ficam sempre à espera que um reconhecimento haja.

Mas o que torna uma pessoa visível ou invisível aos olhos dos outros? Ninguém precisa ser importante no sentido de possuir coisas ou ser um ser extraordinário para que possa ser visto ou amado. Não são as outras pessoas que nos tornam visíveis ou invisíveis, solitários ou cercados de pessoas, somos nós.

Quando damos de nós, vamos deixando pedacinhos do nosso eu nos outros, de maneira que vamos nos tornando presentes e inesquecíveis. As pessoas sempre querem se aproximar daquilo que lhes faz bem, que é positivo, estão sempre voltadas para aquilo que vai valorizá-las de alguma forma.

Quem reclama que não se sente amado, não se sente procurado, que acha que passa pela vida como uma forma vazia e sem importância, deveria ver o mundo pelo outro lado da janela, de fora para dentro.

Faça o contrário, aja, ame, torne-se alguém pelo menos para alguém, seja aquilo que você gostaria que os outros vissem em você. Ninguém deve ter o poder de nos transformar, nós devemos ter o poder e a possibilidade de trabalhar do nosso interior para o exterior. 
Somos nós que nos construímos ou nos destruímos, que aparecemos ou desaparecemos.

As pessoas vêm em nós o que parecemos a elas. Elas não nos fazem, a menos que permitamos. Nós nos fazemos!

Se sentimos essa necessidade de sermos queridos e apreciados, queiramos e apreciemos. É impossível esconder uma luz numa noite escura e, creiam, o mundo atual é para muitos uma noite escura e sem estrelas. Sejamos então uma luz. E as pessoas com necessidade disso virão a nós.

Estaremos assim cumprindo nossa missão, daremos o que precisam e recuperaremos em nós o que precisamos para nos sentir inteiros e saciados.

Embora as pessoas façam parte da nossa história, elas não a escrevem. Nós o fazemos, com todos os instrumentos que temos ou aqueles que nos inventamos.

As marcas dos nossos passos só podem ser deixadas por nós mesmos.

 Letícia Thompson

sexta-feira, 22 de março de 2013

Sonhar e ir além...

O que fazer quando a gente não quer olhar para algumas coisas que estão acontecendo com a gente...

Quando você não gosta mais do que faz, ou não está mais feliz em um relacionamento... ou em qualquer situação na sua vida que um dia foi a ideal, preencheu seus sonhos, mas, com o passar do tempo foi se transformando pouco a pouco, até que um dia... você não tem como fingir que não está percebendo que isso está acontecendo na sua vida.

Se for um trabalho... por exemplo, um trabalho que um dia você estava inteira nele e acreditou que era o trabalho da sua vida, você se nega a perceber que aquilo também está se tornando um peso.
Seu corpo não tem energia para aquilo mais, sua alma já não sente entusiasmo... mas você nem sequer admite essa possibilidade.. afinal aquilo era tudo que você queria, era tudo que sonhava fazer, e se dedicou tanto tempo a isso, sempre acreditou que era seu dom, mas... em algum ponto que você não se lembra onde, o que você amava fazer passou a não ser mais tão prazeroso... você perdeu pouco a pouco o entusiasmo e, por acreditar que era o trabalho da sua vida... você nem se abre para sequer admitir a possibilidade de que, não gosta mais de fazer o que está fazendo. 
E fica assim por muito tempo, fingindo que aquilo não está acontecendo... afinal você buscou tanto aquilo e se realizou tanto naquele trabalho... que por um bom tempo você vai empurrando com a barriga sem ter coragem de olhar de frente para essa situação...

Você tenta encontrar desculpas e achar que logo as coisas vão voltar ao normal, que seu ânimo vai voltar e só vai adiando o dia que vai ter que admitir que: o que você tanto amou e lutou tanto para conquistar se tornou uma obrigação muito pesada. O que foi solução um dia se tornou um problema.
O que fazer quando isso acontece nas nossas vidas, seja em que área for...

Acho que a primeira coisa a fazer sempre é olhar de frente para a situação, aceitar que aquela é a sua realidade no momento, não resistir... mesmo que você não goste dela... mesmo que você tenha pavor de admitir que aquilo está acontecendo na sua vida.

Enquanto resistimos à realidade ela não se transforma, e não permitimos que outros caminhos se apresentem... se nos mantemos presos e apegados a um caminho nem temos olhos para outros que podem estar já batendo à nossa porta.

Por mais difícil que nos pareça a realidade que teremos que enfrentar a partir dessa aceitação, é sempre melhor do que ficarmos presos a situações que estão minando nossa energia e tirando toda a possibilidade de estarmos onde nossa Alma nos acena para ir.

Abrir mão do que foi um sonho nem sempre é muito fácil, porque nos apegamos às coisas boas como se elas fossem eternas, mas tudo é impermanente, e... eterna é a possibilidade de sempre podermos sonhar e ir além...

Muitas vezes o que está sendo pedido é só um novo olhar sobre o velho... uma maneira diferente de fazer a mesma coisa... ou, pode ser mesmo uma mudança radical... Sempre que não estivermos satisfeitos e inteiros onde estamos... seja no trabalho, nos relacionamentos... o melhor é mesmo ter a coragem de olhar de frente e aceitar que daquela maneira não está bom... por mais apegados que estejamos.

Apegamo-nos ao que dá segurança, mas... a maior segurança se dá quando acompanhamos o fluxo... a vida é um eterno fluir de momentos que nunca se repetem... a vida se renova a cada dia. 
Se nos apegamos às coisas e as congelamos na forma em que foram boas um dia, estaremos impedindo o fluxo e o renovar da vida. 
Gastamos uma quantidade enorme de energia tentando segurar o passado e nem nos abrimos para perceber toda abundância de novas possibilidades que o presente nos propicia...

Rubia A. Dantés

Abraço de filho

Abraço de filho deveria ser receitado por médico.

Há um poder de cura no abraço que ainda desconhecemos.
Abraço cura ódio. Abraço cura ressentimento. Cura cansaço. Cura tristeza.
Quando abraçamos soltamos amarras. Perdemos por instantes as coisas que nos têm feito perder a calma, a paz, a alma...
Quando abraçamos baixamos defesas e permitimos que o outro se aproxime do nosso coração. Os braços se abrem e os corações se aconchegam de uma forma única.
E nada como o abraço de um filho...
Abraço de Eu amo você. Abraço de Que bom que você está aqui. Abraço de Ajude-me.
Abraço de urso. Abraço de Até breve. Abraço de Que saudade!
Quando abraçamos, a felicidade nos visita por alguns segundos e não temos vontade de soltar.
Quando abraçamos somos mais do que dois, somos família, somos planos, somos sonhos possíveis.
E abraço de filho deveria, sim, ser receitado por médico pois rejuvenesce a alma e o corpo.
Estudos já mostram, com clareza, os benefícios das expressões de carinho para o sistema imunológico, para o tratamento da depressão e outros problemas de saúde.
O abraço deixou de ser apenas uma mera expressão de cordialidade ou convenção para se tornar veículo de paz e símbolo de uma nova era de aproximação.
Se a alta tecnologia - mal aproveitada - nos afastou, é o abraço que irá nos unir novamente.
Precisamos nos abraçar mais. Abraços de família, abraços coletivos, abraços engraçados, abraços grátis.
Caem as carrancas, ficam os sorrisos. Somem os desânimos, fica a vontade de viver.
O abraço apertado nos tira do chão por instantes. Saímos do chão das preocupações, do chão da descrença, do chão do pessimismo.
É possível amar de novo, semear de novo. É possível renascer.
E os abraços nos fazem nascer de novo. Fechamos os olhos e quando voltamos a abri-los podemos ser outros, vivendo outra vida, escolhendo outros caminhos.
Nada melhor do que um abraço para começar o dia. Nada melhor do que um abraço de Boa noite.
E, sim, abraço de filho deveria ser receitado por médico, várias vezes ao dia, em doses homeopáticas.
Mas, se não resistirmos a tal orientação, nada nos impede de algumas doses únicas entre essas primeiras, em situações emergenciais.
Um abraço demorado, regado pelas chuvas dos olhos, de desabafo, de tristeza ou de alívio.
Um abraço sem hora de terminar, sem medo, sem constrangimento.
Medicamento valioso, de efeitos colaterais admiráveis para a alma em crescimento.

Mas, se os braços que desejamos abraçar estiverem distantes? Ou não mais presentes aqui? O que fazer?
Aprendamos a abraçar com o pensamento.
O pensamento e a vontade criam outros braços e nossos amores se sentem abraçados por nós da mesma forma.
São forças que ainda conhecemos pouco e que nos surpreenderão quando as tivermos entendido melhor.
Abraços invisíveis a olho nu, mas muito presentes e consoladores para os sentidos do Espírito imortal, que somos todos nós.

Desconheço a autoria


quinta-feira, 21 de março de 2013

Não à violência

A violência é um monstro que devora a sociedade atual e tem como casas uma série de fatores que se avolumaram com o decorrer dos anos.

Causas da Violência

A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA: Isto é, o crescimento descontrolado da população mundial, que foi agravado com a crise financeira global. Fica difícil conseguir emprego, lazer, moradia, atendimento médico, etc para tanta gente! Movidos pelo desespero, alguns assaltam para sobreviver.

A DESESTRUTURAÇÃO DA FAMÍLIA: Brigas, traições, separações, assassinatos, causados pela falta de amor, pelos baixos salários, etc. Os pais trabalham várias horas e não dão atenção aos filhos, os quais crescem revoltados.

A TELEVISÃO E O CINEMA: Que mostram três coisas básicas: sexo, drogas e violência. Os filmes, e até os desenhos como Tom e Jerry, por exemplo, ensinam vingança e violência. Os comércio do mundo ganham com o aumento da população mundial, pois assim há mais consumidores para os seus produtos. Por isso o cinema e a TV ensinam os jovens a serem violentos e fazerem sexo sem a menor responsabilidade. Por outro lado, está provado que os jogos de video-games (de lutas e de dar tiros), conduzem os jovens a violência! Pois alguns imitam isso na vida real.

O CONSUMISMO : A Sociedade Industrial de Consumo nos estimula pela propaganda a comprar e comprar... E, para poder trocar os nossos eletrodomésticos por outros mais avançados e modernos, uns trabalham demais, e outros assaltam...

O DESEMPREGO: Que é causado pela Globalização, pela máquina que substitui o homem, (catracas eletrônicas nos ônibus, robôs, computadores, colhedeiras na lavoura, esteiras e guindastes nos portos, etc.), pela política administrativa dos governos, o crescimento populacional, etc.

A MÁ DISTRIBUIÇÃO DA RENDA: Ou seja, uma minoria com muito dinheiro, e a grande maioria com muito pouco. Isto gera revolta. Saber que apenas 20% da população mundial desfruta de 80% das riquezas mundiais, sobrando apenas 20% dessas riquezas para a grande massa de 80%. Sendo grande parte favelados vivendo em condições subumanas .

O ESTATUTO DO MENOR: Que atribui exagerada impunidade ao jovem.

As drogas não são causas de violência, mas sim,consequências: O jovem recorre à venda de droga por estar desempregado, favelado, infeliz com as brigas em casa ... e, principalmente sem Deus.

A FALTA DE DEUS: Esta é a principal causa da violência no globo. Porque quem acredita em Deus, e pratica uma religião, sabe que o outro é seu irmão. E por isso não usará de violência para com ele. O mundo não está com falta de fé, mas sim falta coragem para praticar a fé. Precisamos mudar o ESTATUTO DO MENOR, e dar ao jovem: formação, ensino técnico, esporte, lazer, emprego, etc. Assim, ocupados, não terão tempo de praticar violência.

Salviano
www.reflexaoliturgiadiaria.blogspot.com


quarta-feira, 20 de março de 2013

A ausência do pai na educação dos filhos

Tiveram um filho. O pai estava orgulhoso e trabalhava muito. Não podia perder tempo porque era necessário sustentar a família. Era preciso ganhar dinheiro e essa era a sua principal missão. Não tinha a menor dúvida disso. Se ele a conseguisse cumprir, tudo correria bem e a família seria feliz.

E o pequeno foi crescendo. «Pai, algum dia quero ser como tu. Podes ajudar-me nos trabalhos de casa?». «Gostaria muito, meu filho, mas hoje não é possível. Tenho muito que trabalhar. 
Quando tiveres a minha idade já verás. A vida não é nada fácil. Mas não te preocupes, porque daqui a algum tempo teremos um pouco mais de dinheiro e eu, um pouco mais de tempo. 
Agora pede à tua mãe. Ela tem mais jeito do que eu para essas coisas».

No dia em que o rapaz fez treze anos agradeceu ao pai: «Obrigado pela bola de futebol. Podemos jogar os dois?». «Infelizmente, hoje não pode ser. Tenho muito que trabalhar. 
Mas o que não vão faltar são oportunidades». «Que pena, pai. Mas não importa. Um dia quero ser como tu. Quero aprender a trabalhar muito».

Anos mais tarde, o filho regressou da universidade. Já era um homem responsável. «Filho, estou orgulhoso de ti. Vamos dar um passeio e falar com calma». «Hoje não posso, pai. Tenho compromissos inadiáveis». «Não importa. Ocasiões não nos vão faltar. Daqui a pouco entro na reforma e vai-nos sobrar tempo para conversarmos com serenidade».

Um tempo depois, o pai aposentou-se e o filho, já casado, vivia numa casa das redondezas. Resolveu telefonar-lhe: «Filho, gostaria muito de estar contigo». 
«Seria ótimo, pai, mas neste momento estou com a corda no pescoço. Tenho trabalho até à ponta dos cabelos que, por sinal, já estão a ficar brancos. 
Quando isto passar, tenho a certeza de que não nos vão faltar oportunidades para pormos a conversa em dia». 
Ao desligar o aparelho, o pai deu-se conta de que o filho tinha cumprido o seu desejo. 
Era igual ao seu pai.

Nos dias de hoje, um dos maiores problemas na educação dos filhos é a ausência do pai. 
A educação, para ser equilibrada, necessita dos dois progenitores. A presença paterna na família é diferente e complementar à materna. 
A falta de um modelo na educação, masculino ou feminino, implica quase sempre um desequilíbrio naquele que é educado.

À juventude atual, parecem faltar valores que naturalmente compete ao pai transmitir. 
Como diz I. Iturbe, se a educação dos filhos fosse comparada a um filme, poderíamos dizer que o pai converte-se no principal protagonista ao chegar o delicado momento da adolescência. Os filhos tendem a prestar-lhe mais atenção, especialmente se são rapazes. Sentem nesse momento uma certa confusão e desorientação. 
Necessitam de um apoio firme e seguro. É isso que procuram no seu pai: um modelo com o qual possam identificar-se. 
Se o pai está ausente, outros modelos virão ocupar esse vazio, com grande probabilidade de não serem modelos propriamente exemplares.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria


terça-feira, 19 de março de 2013

Mentira


Não consigo fazer amizade com a mentira 
a verdade que mora em mim, é extremamente ciumenta."

Renata Fagundes

Reformas...



"Aqui reformam-se sonhos,
remendam-se corações, 
alinhava-se otimismo, 
costuram-se desilusões.
Borda-se carinho, 
pregam-se esperanças,
confecciona-se amor, 
pesponta-se ternura, 
remodelam-se almas. 
Aceitam-se encomendas. “

Marilene A. Branquinho



Coração em paz


"Não é a casa que faz alguém feliz. 
Um coração infeliz não se sente melhor em nenhuma casa. 
Mas um coração em paz torna qualquer casa feliz.

David L. Weatherford

Pólen


Não há 
canteiros perfeitos
e nem só
de água, sol e chão
flor carece 
para germinar.

Lança a alma 
ao espaço
que margaridas 
também traçam
longos caminhos
pelo céu.

Elas começam 
a brotar
no exato instante
em que se deixam
carregar
pelo vento.

Lu Tostes

"Cuidar das pessoas que estão na periferia do nosso coração"


Na solenidade de São José, Papa Francisco dedicou toda a sua homilia às virtudes do patrono da Igreja – e como podemos nos inspirar em suas qualidades.

Comentando as leituras do dia, falou da missão de José: ser custos, guardião. Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se alarga à Igreja. Uma guarda que se realiza com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender.

“Deus não deseja uma casa construída pelo homem, mas quer a fidelidade à sua Palavra, ao seu desígnio.”

José responde à vocação de Deus com disponibilidade e prontidão; tendo Cristo no centro da vocação cristã. Entretanto, a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Genesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos.

É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família. É viver com sinceridade as amizades. “Sejam guardiões dos dons de Deus!”

E quando o homem falha nesta responsabilidade, quando não cuida da criação e dos irmãos, então encontra lugar a destruição e o coração fica ressequido. “Infelizmente, em cada época da história, existem «Herodes» que tramam desígnios de morte, destroem e deturpam o rosto do homem e da mulher.”

Papa Francisco pediu “por favor” aos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade:
 “Sejamos ‘guardiões’ da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para «guardar», devemos também cuidar de nós mesmos. 
Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. 
Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura”.

A seguir, Francisco falou do início do seu ministério como novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que inclui também um poder. Mas de que poder se trata? – questionou, respondendo com o convite de Jesus a Pedro: apascenta as minhas ovelhas.

“Jamais nos esqueçamos que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão.”

Este é o serviço que o Bispo de Roma e todos nós somos chamados a cumprir: dar esperança perante tantos ‘pedaços de céu cinzento’.

“Curar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança! Para nós cristãos, a esperança que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, está fundada sobre a rocha que é Deus”, concluiu Papa Francisco, pedindo a intercessão da Virgem Maria, de São José, de São Pedro e São Paulo, de São Francisco, para que o Espírito Santo acompanhe o seu ministério.

Papa Francisco  -  Rádio Vaticano - 'Spe Deus'

segunda-feira, 18 de março de 2013

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração que nem se mostra. 
Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles

sábado, 16 de março de 2013

Seja você...



"Seja quem você é, e não quem você pensa que é."

Paulo Coelho 

Segredo de Maria


Trabalhe e reze, fique em silêncio. 
Não discuta, escute. 
Não queira Ter razão, cale-se.
Não olhe, não queira saber, abandone-se.
Não arrazoe, não entre nas profundidades dos problemas, creia.
Não se agite, não procure fazer. 
Não se inquiete, não se preocupe, tenha fé. 
Quando você fala, Deus se cala e você diz coisas equivocadas. 
Quando discute, Deus é esquecido e você peca.
Quando você argumenta, Deus é humilhado e você pensa em coisas vãs. 
Quando você se apura, Deus é distanciado e você tropeça e cai. 
Quando você se agita Deus é lançado fora e você fica na obscuridade. 
Quando você julga o seu irmão, Deus é crucificado e você julga a si mesmo. 
Quando você condena o irmão, Deus morre e você condena a si mesmo. 
Quando desobedece, Deus fica distante e você morre...

Grupo Renascer

Sobre a falta de humanidade


Existem coisas que me deixam chocada.
Uma delas é a falta de vontade de uma pessoa se colocar no lugar da outra.
É tão simples, tão indolor, não sei por qual motivo a maior parte das pessoas tem essa dificuldade.

Egoísmo é uma palavra feia e que por mim não existiria no dicionário.
A falta do tato, do enxergar o outro, do se colocar na pele, do tentar entender o que se passa do lado de lá.
[  .....  ]

Que medo desse mundo, que medo. Que medo das pessoas...
A cada dia que passa fico mais receosa.
Não sei onde as coisas vão parar.

Clarissa Corrêa 


Nós, mulheres!


Não, não me cabe aqui revelar-nos. Mesmo por que, às vezes nem nós nos entendemos.

Choramos facilmente, rimos com o coração. Nem sempre quando dizemos "não" significa que estamos dizendo "não." Muitas vezes, quais crianças mimadas, só precisamos que insistam um pouquinho...

Descobrimos que um sorriso pode produzir milagres... e uma lágrima também! Nada mais comovente que uma mulher que chora, um sorriso pode desarmar qualquer homem...

Damos à luz sob uma dor terrível e nos esquecemos imediatamente depois de termos nosso anjinho nos braços.

Corajosas, frágeis e fortes, vamos à luta sem capacete e sem espada. Temos um coração ao lado do cérebro. Não temos músculos, temos garra.

Quando nos oferecemos um presente, não é porque temos a mania compulsiva de gastar, mas porque queremos nos consolar de alguma coisa que falta na nossa vida. Somos nossos próprios anjos protetores. Como mulheres, agimos como mães sempre, para os outros e para nós mesmas.

Não buscamos igualdade! Mesmo se nós pudermos exercer várias profissões, há emoções que correm como turbilhões dentro de nós que jamais poderão ser experimentadas pelo sexo oposto, há a dor e o prazer de oferecer a luz do dia a um anjo!... Não... jamais haverá igualdade! Cada um faz sua parte, cada um tem a sua importância, nem menor, nem maior, mas todos somos importantes.

Senhores!!! Não estamos mais à espera de príncipes encantados montados em cavalos brancos! Há muito entendemos que esses só existem nos contos de fadas. O que queremos é simplesmente sermos amadas. Nada mais, nada menos. Não nos preocupamos com músculos e caras, queremos simplesmente alguém que possa nos amar. Parece complicado e, portanto, é tão simples: só precisamos ser amadas! O resto a gente inventa depois!

Dentro de nós habita uma fadinha romântica que nem os desenganos, nem os casamentos e nem os anos poderão matar. Talvez seja essa uma das diferenças básicas entre um homem e uma mulher: o duende morre mais rápido, morre depois da conquista...

Nós, mulheres, seremos sempre... jovens, idosas, maduras, imaturas, belas, feias, dengosas, charmosas, mimadas, vaidosas ou não... apaixonadas ou à espera.. mas sempre, sempre, vai pulsar no nosso peito esse coração de mulher. Coração que ninguém entende... mas que sabe muitas vezes adivinhar a vida!

Letícia Thompson

sexta-feira, 15 de março de 2013

Carta a Jesus numa sexta-feira

Meu querido Jesus

Hoje é Sexta-feira, o dia da semana em que a Igreja faz memorial da Tua Paixão, a Tua entrega de amor por todos nós pecadores, para nos libertares do pecado e da morte.

Oh meu Jesus, perdoa-me em primeiro lugar porque a memória, a vivência da Tua Paixão, devia ser constante em mim, devia estar inscrita no meu coração, para sempre Te adorar, e amar cada vez mais, e, no entanto, vivo tantos dias sem sequer me lembrar de que Tu morreste por mim.

Perdoa-me, também meu Jesus, porque muitas vezes me deixo levar por este pensamento de que morreste por todos nós, e assim, tento diluir a minha culpa na culpa colectiva, “fugindo” a enfrentar o meu pecado pessoal.

Meu querido Jesus, perdoa-me por tantas vezes não querer transportar a minha cruz, por tantas vezes deixar que Tu, Jesus, carregues sozinho a Tua e a minha cruz.

Afinal Jesus, que Cruz é a Tua, se não a minha cruz, as cruzes de todos nós, pesando nos Teus ombros?

E quando me revolto, quando não aceito, quando respondo, às vezes com raiva, às contrariedades, às humilhações, às dores, incompreensões e sofrimentos?
Perdoa-me, amado Jesus, e lembra-me sempre que tudo isso passaste por mim, e que não Te revoltaste, não protestaste, e mais do que isso tudo, perdoaste.

Às vezes sou chamado a ser o Cireneu, a ajudar a transportar a cruz dos meus irmãos, nos quais Tu estás, nos quais Tu és, e olho para o lado e faço de conta que não é comigo.
Perdoa-me, adorado Jesus.

Não leves em conta também, todas as vezes que não recebo a Tua Mãe em minha casa e não ouço os seus conselhos e não me deixo guiar pela sua mão.
Ensina-me, Jesus, a ser seu filho, como disseste a João, a recebê-la em minha casa e a aprender com Ela a dizer o sim da minha vida.

Apesar dos meus pecados, querido Jesus, permite que eu me abrace à Tua Cruz e «complete na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja». Cl 1,24

Coloca-me ainda mais, se possível, no amor do Pai, e mais uma vez, meu bom Jesus, não Te esqueças de nos dar, de me dar, uma “porção redobrada” do Espírito Santo, que me ensine, que nos ensine a todos nós a vivermos em amor e entrega total, a Tua Paixão.

Beija por mim a Tua e nossa Mãe, que tanto nos ama e por nós intercede constantemente.

Fica comigo, Jesus, e abençoa este Teu irmão pequenino que Te quer amar com a entrega de toda a vida que lhe deste.

Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 14 de março de 2013

O som que agrada ao Senhor

Sabe qual o som que Deus mais gosta de ouvir?
O som da sua voz! É esse o som que Deus quer ouvir de você em qualquer momento, a qualquer hora, em todas as situações que você passar – boas ou ruins, andando no mar ou no deserto.

Em muitos momentos nós paramos e ficamos esperando encontrar alguma forma de alcançar o Senhor, parece que não estamos conseguindo a atenção do Pai. “Mas o que eu faço para estar ao lado do Senhor? Como atingir o coração de Deus?”. A resposta para essas perguntas é muito simples: Oração. Ou seja, temos que falar com Deus! A nossa voz é o som que Deus mais gosta de ouvir, Ele quer que tenhamos comunhão com Ele em todo tempo assim como era com Adão antes do pecado entrar na vida dele.

Os ouvidos de Deus estão abertos e a melodia entoada em nossas orações está tocando o coração do Pai, mesmo que às vezes isso pareça algo distante de ser percebido por nós.
Cada uma das minhas, das suas, das nossas palavras são como música aos ouvidos do Senhor e Ele se agrada em nos atender. Por meio de Jesus Cristo (só por Ele), nós podemos pedir qualquer coisa ao Pai.

Faça soar nos ouvidos de Deus o som que Ele quer ouvir. Ore. A oração traz intimidade, traz paz, supre as necessidades espirituais e materiais. Existe uma batalha dentro de nós, essa batalha é entre a carne e o espírito. Se alimentarmos a carne ela ganha e conseqüente ocorre a derrota do espírito em nossas vidas. Porém, a verdadeira vida só recebemos por intermédio de Jesus Cristo, devemos alimentar o espírito. E como alimentá-lo? Somente buscando da fonte da vida que é Deus. E como buscar da fonte? Orando!!!

“E tudo o que pedirdes na oração, crendo, recebereis.”
“Está escrito:A minha casa será chamada casa de oração.”
“Mas nós perseveraremos na oração.”

Portanto, vamos conversar com Deus, pois Ele se agrada em ouvir a nossa voz. Vamos tocar o som que toca o coração do Senhor. Vamos orar sem cessar!!!!

E nunca se esqueça: ORE e verá a glória de Deus!

Desconheço o autor


Deus está junto de nós continuamente

É preciso convencermo-nos de que Deus está junto de nós continuamente. 
– Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um pai amoroso – quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos – ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando... e perdoando. 

Quantas vezes fizemos desanuviar a fronte dos nossos pais, dizendo-lhes, depois de uma travessura: não torno a fazer mais! – Talvez naquele mesmo dia tenhamos tornado a cair... – E o nosso pai, com fingida dureza na voz, de cara séria, repreende-nos..., ao mesmo tempo que se enternece o seu coração, conhecedor da nossa fraqueza, pensando: pobre rapaz, que esforços faz para se portar bem! É necessário que nos embebamos, que nos saturemos de que é Pai e muito Pai nosso, o Senhor que está junto de nós e nos Céus.

Descansai na filiação divina. 
Deus é um Pai cheio de ternura, de amor infinito. 
Chama-lhe Pai muitas vezes durante o dia e diz-lhe – a sós, na intimidade do teu coração – que o amas, que o adoras, que sentes o orgulho e a força de seres seu filho. 
Tudo isto pressupõe um autêntico programa de vida interior, que é preciso canalizar através das tuas relações de piedade com Deus – poucas, mas constantes, insisto – que te permitirão adquirir os sentimentos e as maneiras de um bom filho.

Devo prevenir-te, no entanto, contra o perigo da rotina – verdadeiro sepulcro da piedade – a qual se apresenta frequentemente disfarçada com ambições de realizar ou empreender gestas importantes, enquanto se descuida comodamente a devida ocupação quotidiana. 
Quando notares essas insinuações, põe-te diante do Senhor com sinceridade. 
Pensa se não te terás aborrecido de lutar sempre nas mesmas coisas, porque na realidade não estavas à procura de Deus. 
Vê se não terá decaído a tua perseverança fiel no trabalho, por falta de generosidade, de espírito de sacrifício. 
Nesse caso, as tuas normas de piedade, as pequenas mortificações, a atividade apostólica que não produz fruto imediato parecem-te tremendamente estéreis. 

Estamos vazios e talvez comecemos a sonhar com novos planos, para calar a voz do nosso Pai do Céu, que exige de nós uma lealdade total. 
E, com um pesadelo de grandezas na alma, lançamos no esquecimento a realidade mais certa, o caminho que sem dúvida nos conduz direitos à santidade. 
Aí temos um sinal evidente de que perdemos o ponto de vista sobrenatural, a convicção de que somos meninos pequenos, a persuasão de que o nosso Pai fará em nós maravilhas, se recomeçarmos com humildade.

São Josemaría Escrivá

quarta-feira, 13 de março de 2013

Necessito..


Hoje eu quero frases bonitas que me joguem pra cima, 
pro alto, pra fora de mim.
Necessito ouvir palavras perfumadas
que deixem cheiro de flor em meus ouvidos,
que adociquem minha alma e tirem meus pés do chão.
Que digam coisas que me baguncem por dentro
que retire tudo de vez do lugar!
Hoje eu quero dançar com meus sonhos, de rosto colado, 
definitivamente sonhar enquanto danço!
Preciso de carinhos cantados em notas afinadas.
Que a música me torne leve feito pena!
Que as cores me invadam a vida e me pintem a emoção!
Que o meu eu encontre seu próprio caminho!
E que o doce da vida me encante o sorriso!

Val Zamp Dantas


terça-feira, 12 de março de 2013

Ser mineiro

Como todo mineiro é um pouco filósofo, há um mistério sobre o qual medito há anos: o que é ser mineiro?

De reflexões e inflexões que extraí sobre a mineirice - muitas delas colhidas de metafísicas inscrições em rótulos de cachaça e quinquilharias de beira de estrada - eis as conclusões a que cheguei:
Mineiro a gente não entende - interpreta.
Ser mineiro é dormir no chão para não cair da cama; usar sapatos de borracha para não dar esmola a cego; tomar café ralo e esconder dinheiro grosso; pedir emprestado para disfarçar a fartura.
É desconfiar até dos próprios pensamentos e não dar adeus para evitar abrir a mão.
Mineiro não é contra nem a favor; antes, pelo contrário. Aliás, mineiro não fala, proseia. Toca em desgraça, doença e morte e vive como quem se julga eterno. Chega na estação antes de colocarem os trilhos, para não perder o trem. E, na hora em embarque, grita para a mulher, que carrega a sua mala: "Corre com os trens que a coisa já chegou!"
Mineiro, quando viaja, leva de tudo, até água para beber. E um coração carregado de saudades.
Relógio de mineiro é enfeite. Pontual para chegar, o mineiro nunca tem hora para sair. A diferença entre o suíço e o mineiro é que o primeiro chega na hora. O mineiro chega antes.
O bom mineiro não laça boi com embira, não dá rasteira em pé de vento, não pisa no escuro, não anda no molhado, só acredita em fumaça quando vê fogo, não estica conversas com estranhos, só arrisca quando tem certeza, e não troca um pássaro na mão por dois voando.
Ser mineiro é sorrir sem mostrar os dentes, ter a esperteza das serpentes e fingir a simplicidade das pombas, fazer de conta que acredita nas autoridades e conspirar contra o governo.
Mineiro foge da luz do sol por suspeitar da própria sombra, vive entre montanhas e sonha com o mar, viaja mundo para comer, do outro lado do planeta, um tutu de feijão com couve picada.
Mineiro sai de Minas sem que Minas saia dele. Fica uma saudade forte, funda, farta e fértil.
Enquanto outros não conseguem, mineiro num dá conta. Nem paquera, espia. Não arruma briga, caça confusão. E mineira não se perfuma, fica cheirosa.
Ser mineiro é venerar o passado como relíquia e falar do futuro como utopia, curtir saudade na cachaça e paixão em serenatas, dormir com um olho fechado e outro aberto, suscitar intrigas com tranqüilidade de espírito, acender vela à santa e, por via das dúvidas, não conjurar o diabo.
Mineiro fala de política como se só ele entendesse do assunto, faz oposição sem granjear inimigos, gera filhos para virar compadre de político.
Ser mineiro é fazer a pergunta já sabendo a resposta, ter orgulho de ser humilde, bancar a raposa e ainda insistir em tomar conta do galinheiro.
Mineiro fica em cima do muro, não por imparcialidade, mas para poder ver melhor os dois lados.
Cabeça-dura, o mineiro tem o coração mole. Acredita mais no fascínio da simpatia que no poder das idéias. Fala manso para quebrar as resistências do adversário.
Mineiro é isso, sô! Come as sílabas para não morrer pela boca. Faz economia de palavras para não gastar saliva. Fala manso para quebrar as resistências do interlocutor. Sonega letras para economizar palavras. De vossa mercê, passa pra vossemecê, vossência, vosmecê, você, ocê, cê e, num demora muito, usará só o acento circunflexo!
Mineiro fala um dialeto que só outro mineiro entende, como aquele sujeito que, à beira do fogão de lenha, ensinava o outro a fazer café. Fervida a água, o aprendiz indagou: "Pó pô pó?" E o outro respondeu: "Pó pô, pô".
Mineiro não fica louco; piora. Por isso, em Minas não se diz que alguém endoidou, mas sim que "se manifestou..."
Ser mineiro é comer goiabada de Ponte Nova, doce de leite de Viçosa, queijo do Serro, requeijão de Teófilo Otoni e linguiça de Formiga, tudo regado a pinga de Salinas.
É cozinhar em fogão de lenha com panela de pedra sabão.
Mineiro não tem idéias, só lembranças; não raciocina, associa; pão-duro, tem o coração mole; pensa que esposa é parente, filho, empregado e carrega sobrenome como título de nobreza
Ser mineiro é acreditar mais no fascínio da simpatia que no poder das idéias. É navegar em montanhas e saber criar bois, filhos e versos.
Mineiro vai ao teatro, não para ver, mas para ser visto, frequenta igreja para fingir piedade, ri antes de contar a piada e chora com a desgraça alheia. Adora sala de visitas trancada, na esperança de retorno do rei.
Avarento, não lê o jornal de uma só vez para não gastar as letras, e ainda guarda para o dia seguinte para poder ter notícias. Aliás, mineiro não lê, passa os olhos. Não fala ao telefone, dá recado.
Praia de mineiro é barzinho e, sua sala de visitas, balcão de armazém e cerca de curral. Ali a língua rola solta na conversa mole, como se o tempo fosse eterno. Certo mesmo é que o momento é terno.
Ser mineiro é ajoelhar na igreja para ver melhor as pernas da viúva, frequentar batizado para pedir votos, ir a casamentos para exibir roupa nova.
Mineiro que não reza não se preza. Acende a Deus a vela comprada do diabo. Religioso, na sua crendice há lugar para todos: O Cujo e a mula-sem-cabeça; assombrações e fantasmas; duendes e extra-terrestres.
Mineiro vai a enterro para conferir quem continua vivo. Nunca sabe o que dizer aos parentes do falecido, mas fica horas na fila de cumprimentos para marcar presença. Leva lenço no bolso para o caso de ter de enxugar as lágrimas da família.
Não manda flores porque desconfia que a flora embolsa a grana e não cumpre o trato.
Mineiro só elogia quando o outro virou defunto. E fala mal de vivo convencido de que está fazendo o bem.
Ser mineiro é esbanjar tolerância para mendigar afeto, proferir definições sem se definir, contar casos sem falar de si próprio, fazer perguntas já sabendo as respostas.
Mineiro é capaz de falar horas seguidas sem dizer nada. E cumprimenta com mão mole para escapar do aperto.
Mineiro é feito pedra preciosa: visto sem atenção não revela o valor que tem, pois esconde o jogo para ganhar a partida e acredita que a fruta do vizinho é sempre mais gostosa.
Mineiro age com a esperteza das serpentes mas se veste com a simplicidade das pombas, e encobre as contradições com o manto fictício da cordialidade. Mas conta fora tudo que se passa em casa.
Ser mineiro é fazer cara feia e rir com o coração, andar com guarda-chuva para disfarçar a bengala, fingir que não sabe o que bem conhece, fumar cigarro de palha para espantar mosquitos, mascar fumo para amaciar a dentadura.
Mineiro sabe quantas pernas tem a cobra, escova os dentes do alho, teme rasteira de pé de mesa e, por via das dúvidas, põe água e alpiste para o cuco.
Mineiro é pão-duro, não abre a mão nem pra dar bom dia. Desconfiado, retira o dinheiro do banco, conta e torna a depositar. Vive pobre para morrer rico e pede emprestado para disfarçar a fartura.
Mineiro rico compra carro do ano e manda pôr meia sola em sapato usado. Viaja ao exterior e não dá esmola a pobre. Fica sócio de clube para ter status. E faz filho para virar compadre de político.
Pacífico, mineiro dá um boi para não entrar na briga e a boiada para continuar de fora. Mas, se pisam no calo do mineiro, ele conjura, te esconjura, jurado e juramentado no sangue de Tiradentes.
Mineiro é como angu, só fica no ponto quando se mexe com ele.
Em Minas, o juiz é de fora, o mar é de Espanha, os montes são claros, a flor é viçosa, a ponte é nova, o ouro é preto, é belo o horizonte, o pouso é alegre, as dores são de indaiá e os poços de caldas.
"Minas Gerais é muitas", como disse Guimarães Rosa. É fogão de lenha e comida preparada em panela de pedra sabão; turmalina e esmeralda; tropa de burro e rios indolentes chorando a caminho do mar; sino de igreja e tropeiros mourejando gado sob a tarde incendiada pelo hálito da noite.
Minas é Mantiqueira e serrado, Aleijadinho e Amílcar de Castro, Drummond e Milton Nascimento, pão de queijo e broa de fubá.
Minas é uma mulher de ancas firmes e seios fartos, sensual nas curvas, dócil no trato, barroca no estilo e envolta em brocados, ostentando camafeus.
Minas é saborosamente mágica.
Ave, Minas! Batizada Gerais, és uma terra muito singular.

Frei Betto é escritor, mineiro, autor de “Comer como um frade – divinas receitas para quem sabe porque temos um céu na boca” (José Olympio), entre outros livros.


sexta-feira, 8 de março de 2013

Alma de Mulher


Nada mais contraditório do que ser mulher...
Mulher que pensa com o coração,
age pela emoção e vence pelo amor.
Que vive milhões de emoções num só dia
e transmite cada uma delas num único olhar.

Que cobra de si a perfeição e vive
arrumando desculpas para os erros,
daqueles a quem ama.
Que hospeda no ventre outras almas, dá à luz
e depois fica cega, diante da beleza dos filhos que gera.

Que dá as asas, ensina a voar, mas que não quer ver partir
os pássaros, mesmo sabendo que eles não lhe pertencem.
Que se enfeita toda e perfuma o leito, ainda
que seu amor nem perceba mais tais detalhes.

Que como numa mágica transforma
em luz e sorriso as dores que sente na alma,
só pra ninguém notar.
E ainda tem que ser forte para dar os ombros
pra quem neles precise chorar.

Feliz do homem que por um dia souber,
entender a Alma da Mulher!!!

desconheço a autoria

quinta-feira, 7 de março de 2013

Mudar

Sinto que preciso mudar
colorir o preto e branco do passado
Alvejar o que ficou enegrecido na memória,
Varrer o pó das lembranças antigas
perfumar o ar embolorado que o coração abrigou.

Jogar fora de vez o que o tempo amarelou!
Abrir as janelas dos olhos e da alma
e deixar os raios de sol iluminarem a vida,
e o que ainda resta da essência de mim!

Penso que o momento é agora 
e que a limpeza interior é sempre bem-vinda,
bem chegada, bem quista!
Sei que quem me sustenta me ama;
e se Ele me ama, limpará dos meus olhos a lágrima
e como renovo, me fará brotar outra vez!

Val Zamp Dantas


quarta-feira, 6 de março de 2013

O Que da Vida Não se Descreve

Eu me recordo daquele dia. O professor de redação me desafiou a descrever o sabor da laranja. Era dia de prova e o desafio valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisado por um bom tempo, sem que nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber, como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da epistemologia e suas definições tão exatas. Diante da página em branco eu visitava minhas lembranças felizes, quando na mais tenra infância eu via meu pai chegar em sua bicicleta Monark, trazendo na garupa um imenso saco de laranjas. A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir a felicidade em seu odor cítrico e nuanças alaranjadas. A vida feliz, parte miúda de um tempo imenso; alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era meu; tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor esta distância entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti? Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor, esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?

Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!"

Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto inapto para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser...

O interessante é que a laranja se desdobra em inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que posso responder ao terapeuta, no momento em que me pede para descrever o que estou sentindo? Há palavras que possam alcançar as raízes de nossas angústias?

Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas não são realidades que sobrevivem à superfície.

Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir de perguntas idiotas.

Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansioso por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se descreve...

 Fábio de Melo

15.000 visitas!


domingo, 3 de março de 2013

Reencontro

[.....]  Essa frase penetrou profundamente em mim.
Como podemos estar lúcidos e plenos para acreditar naquilo que não estamos vendo? 
Como conseguiremos continuar procurando o que não está presente? 
Nesse mundo materialista e cercado de certezas absolutamente improváveis, continuamos acreditando somente naquilo que vemos ou tocamos. 

Vivemos dentro de uma medíocre normalidade que nos leva aos mesmos trilhos, caminhos largos ou alargados por outros pés. 
Enxergar o que não se vê é sair da confortável estrada para um outro caminho, quase sempre íngreme, a ser inventado pelos nossos próprios passos. 
É sair de trilhos já construídos para encontrar a nossa trilha.

Ver o que não está aqui, continuar procurando o que não estou vendo... Será que poderemos ser chamados de loucos? 
Buscar a transcendência é abrir os olhos para uma nova visão e oferecer os ouvidos a uma nova escuta. Temos padecido de cegueira e de surdez. 
Vivemos o tempo do absurdo. Estamos aqui para empreender uma tarefa única e intransferível. 

Somos únicos e seja lá qual for a idade do nosso corpo, nossa alma pode realizar o benefício de uma diferença. Não devemos nos acomodar a uma miséria confortável e inútil.

O que eu preciso reencontrar? ..... O que ando deixando para trás nessa estrada pela qual estou caminhando?
Jane Mahalem do Amaral
Fragmentos do texto Reencontro : Nossas Letras - Letras, Arte e Cia

sábado, 2 de março de 2013

Intervalo doloroso


"Tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor.
Quem me dera ser uma criança pondo barcos de papel num tanque de quinta, com um dossel
rústico de entrelaçamentos de parreira pondo xadrezes de luz e sombra verde nos reflexos
sombrios da pouca água.
Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a
vida, eu não posso lhe tocar.
Raciocinar a minha tristeza? Para quê, se o raciocínio é um esforço? e quem é triste não pode
esforçar-se. Nem mesmo abdico daqueles gestos banais da vida de que eu tanto quereria
abdicar. Abdicar é um esforço, e eu não possuo o de alma com que esforçar-me.
Quantas vezes me punge o não ser o manobrante daquele carro, o cocheiro daquele trem!
qualquer banal Outro suposto cuja vida, por não ser minha, deliciosamente se me penetra de
eu querê-la e se me penetra até de alheia!
Eu não teria o horror à vida como a uma Coisa. A noção da vida como um Todo não me
esmagaria os ombros do pensamento.
Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda chuva contra um raio.
Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e atos.
Por mais que por mim me embrenhe, todos os atalhos do meu sonho vão dar a clareiras de
angústia.
Mesmo eu , o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. Então as coisas
aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de quem me cerco. E todas as arestas visíveis ferem a
carne da minha alma. Todas as durezas olhadas me magoam o conhece-las durezas. Todos os
pesos visíveis de objetos me pesam por a alma dentro.
A minha vida é como se me batessem com ela."

Fernando Pessoa


Vivo



"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como

sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a

substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de

milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança

sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. 

Vivo mais porque vivo maior."

Fernando Pessoa